Arte Russa- o Círculo dos Mamontov
 
Savva Mamontov
 
Um grupo de artistas chamado “Os Errantes”, em 1863  desliga-se da Academia e vai fazer arte para o povo. Aparentemente um suicídio, já que perdem patrocínios oficiais. Eles se auto denominavam “errantes” porque levavam exposições itinerantes a todos os lugares, inclusive ao campo. Desejavam a arte útil para a sociedade desafiando a tradição acadêmica -a arte pela arte- que vingava em São Petersburgo. Começava aí um  movimento nacionalista mais ligado a Moscou. O assunto, o tema ganhava importância pois o conteúdo estava a serviço de  uma reforma social. A arte não mais deveria ser "vazia". O camponês era o novo herói. Sua pureza e austeridade seriam o tema (mais ou menos o que aconteceu no Romantismo alemão). “Os Errantes” não estavam envolvidos com o Movimento Eslavófilo que rejeitava a cultura ocidental, eles buscavam a tradição nacional, de há muito negligenciada, como diz a historiadora Camilla Gray. O que valorizava as raízes russas (Moscou suplantando São Petersburgo) deu origem ao que depois seria uma escola de arte russa moderna.

Igreja na colônia de Abramstevo
 
Um grande patrono e incentivador da Arte Russa, Savva Mamontov e esposa Elizabeth, (ricos pela construção de estradas de ferro) foram a Roma para em tratar a doença do filho e  pelo interesse das artes. Lá tiveram  contato direto com artistas e bolsistas russos (1872). Ao voltarem de Roma, fizeram-se acompanhar por um grupo de amigos artistas. Na passagem por Paris trouxeram mais um casal e seu filho. Inicialmente eram um grupo de treze pessoas. Compraram propriedades na Rússia, em Abramstevo e vizinhança. Estas vieram de um outro intelectual com ideais de melhorar a vida do povo, Sergei Aksakov (amigo de Gogol). Os Mamontov juraram continuar o que o dono anterior tinha começado. Fizeram escolas, hospital, oficinas, atelier, teatro. Lá encenavam peças de teatro, óperas, leituras, sessões de desenho. A comunidade que se formou ali tinha como objetivo mais do que as artes, queriam também o bem-estar do povo. Era o "Círculo de Mamontov".
 
Ilya Repin, "Os barqueiros do Volga"
 
Vasily Polenov
 
Mark Antokolski, Mephisto

Na comunidade de Abramstevo afluíam artistas, arqueólogos, estudiosos dos ícones e tradições medievais russas, poetas e escritores (como Turgenev e Tolstói) teatrólogos, dançarinos, artesãos. A elite cultural de Moscou vinha se abastecer nesta comunidade  amante das artes. A família Mamontov generosamente recebia a todos, abrigava a todos e assim, por três gerações, influenciaram artistas nos ideais de resgatar as tradições artísticas da antiga Rússia.

Esta concentração extraordinária de talentos reunidos no mesmo tempo e espaço, discutindo e fazendo arte, deixaram suas marcas para sempre. Não só na arquitetura de estilo tradicional russo e em obras de arte, mas em resgate da arte. Eles viajavam por toda a Rússia. Recolhiam técnicas e obras de todo o tipo de arte, desde a cerâmica típica até histórias infantis (como a da famosa bruxa Baba Yaga). Mesmo a boneca "matrioshka" foi produzida pela primeira vez na oficina infantil de Abramstevo.
A educação dos filhos da comunidade era aprimoradíssima. Imagine-se toda a influência que recebiam desde cedo! De fato, mais tarde, muitas destas crianças tornaram-se artistas de renome. Tive a oportunidade de ver estes talentos no Museu Russo. É uma produção do tamanho da Rússia. Incalculável, tanto em número como em qualidade.
"Eu fui um homem rico, é verdade. Mas acredito que o dinheiro existe para o povo e não o povo para o dinheiro" teria escrito em seu diário, o grande Savva Mamontov.
Angela Weingärtner Becker


.
 




 

 
 

2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns Angela...já tinha visitado seu blog e agora tenho a oportunidade de comentar! Muito bom, uma apreciação e tanto sobre história da Arte! bjs Cristina

Angela Weingärtner Becker disse...

Obrigada, Cristina!Venha sempre!