A Fundação Barnes: 69 Cézannes, 59
Matisses, 46 Picassos, 181 Renoirs
Albert Barnes-de Chirico
É comum e sinal de prestígio, nos Estados Unidos, os cidadãos possuidores de grandes fortunas fazerem doações
culturais, educacionais.Qualquer museu ou universidade atesta isso.
Localizada fora da cidade da Filadélfia, no subúrbio
sonolento de Merion, nasceu a Fundação Barnes, de Albert Coombs Barnes. Filho de
açougueiro, num dos bairros mais perigosos da Filadélfia, cresce o menino em um
lugar onde, desde cedo, aprendiam a ser lutadores de rua.
interior da Barnes Foundation
Conseguiu, no entanto, formar-se em medicina na
Universidade da Filadéfia. De lá foi à Alemanha estudar química. Alcançou uma
fortuna por meio de uma patente de remédio anti-cegueira, o nitrato de prata, cujo nome comercial era Argyrol, um antiséptico usado nos olhos dos recém-nascidos que evitava a cegueira e outras infecções comuns na virada do século XX, época
de infecções gonocócicas.
O Argyrol começou a ser largamente exportado e além
disso os estados americanos passaram a obrigar o uso do remédio em cada
recém-nascido. A estas alturas estava, ele e seu sócio alemão, muito
ricos. Por desavença ele compra a parte do sócio e fica único dono. Bem
administrado o negócio, começou a ter cada vez mais tempo livre e o dedicou a estudar
e comprar Arte.
Os jogadores de cartas-Paul Cézanne
Poucos meses antes da grande depressão, em julho de
1929, vende seu negócio e coloca todo o dinheiro em títulos do governo. O crash da bolsa não o pega, tampouco o
aparecimento dos antibióticos que
tornaria seu Argyrol obsoleto.
Desde o início do século ele compra arte em
frequentes idas à Europa. Tornara-se amigo de Gertrude Stein e seu círculo, o que tudo facilitava. Foi o primeiro a reconhecer Chaim Soutine e saiu mesmo a
notícia de que teria comprado toda a sua obra.
Banhistas Renoir
Com obstinação, Barnes reúne uma grandiosa coleção que se tornou a melhor
do mundo em termos de modernismo, impressonismo e pós-impressionismo. Compra assombrosa coleção.
Um domingo no La Jatte -Seurat
A Fundação Barnes começa a funcionar em 1925 como
uma instituição educacional. Ele comprara uma propriedade de 12 acres, em
Merion, a 5km da Filadélfia. Esta fundação se tornou uma relíquia museológica,
com uma pedagogia toda especial concebida por Barnes.
Ele acreditava que na
Arte somente é preciso ver o que está diante de si, sem rótulos, sem ordem
cronológica, sem teorias. As harmonias das cores e formas cantariam por si
mesmas fazendo as conexões necessárias. Não era preciso o benefício da palavra.
E sua fundação deveria privilegiar trabalhadores.
Mas a vida é cruel e em vez
de sua coleção chegar aos operários e motoristas de caminhão, passou cada vez
mais a educar as donas de casa e aposentados ricos.
Fundação em Merion
Um juiz
determinou que a Fundação iria para o centro da Filadélfia,
contrariando o testamento de Barnes. Foi assim que a coleção ganhou uma nova
casa situada entre a biblioteca pública e o Museu Rodin, na 2025 Benjamin Franklin Parkway, Philadelphia.
Barnes Foundation-Philadelphia
Foi impressionante ver sua coleção no novo
museu! Tanto quanto possível, respeitaram a organização pessoal de Albert Barnes. As
obras estavam dispostas nas paredes conforme seu método pedagógico, por cores, linhas e formas. Era um critério que eu nunca tinha visto em nenhum
museu. Estavam lá exatamente como
em Merion. O afresco que Matisse lhe fez especialmente, locado em sua casa,
estava lá em plena glória. Mas Barnes jamais teria permitido!
Alegria de Viver-Matisse
Vi seu museu na Filadélfia assim como vi sua casa
em Merion. Andei por horas em suas bucólicas adjacências, onde está o Arboretum, jardim botânico, cultivado por sua mulher. Por um momento me dei conta que
entre aquelas imensas árvores, por 53 anos, pelo sonho excêntrico de um homem, uma casa possuía 69 Cézannes, 59 Matisses, 46 Picassos, 16 Modiglianis, 7 van
Goghs e 181 Renoirs ...e outros, estimadas entre 20 e 30 bilhões de dólares.
Barnes
morre em 1951 em acidente automobilístico. Seu cão estava junto e não deixou
ninguém se acercar. A polícia teve de baleá-lo para tentar socorrer Barnes. Em
vão, porém. Estavam mortos, os dois, agora. Nem todo mundo foi fiel à Barnes como Fideles, o seu cão.
Angela Weingärtner Becker
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