Chaim Soutine (1893-1943)
 

CHAÏM SOUTINE (1894-1943),
UM ARTISTA GENIAL, uma tumultuada biografia

Que forte é a pintura de Soutine! Eu não consigo ficar indiferente. Quando observo, tenho o cuidado de não me deixar levar, não me deixar catapultar para dentro de sua obra. Tenho medo desta viagem labiríntica e ao mesmo tempo sou extremamente atraída pelo abismo.
Sabem como é.
Ele se lançava ferozmente sobre a tela, num ataque febril. Essa “possessão” esta loucura, esta fúria é perfeitamente sentida por nós na tinta pastosa para a qual somos densamente arrastados e absorvidos pelo redemoinho de seus quadros. Trata-se de grande força persuasiva, emotiva e expressiva.
Soutine nasce em Smilovichy, Lituânia, 400 habitantes. Neste minúsculo povoado judeu a pobreza era endêmica, a religiosidade ortodoxa, o conservadorismo absoluto. Sua atividade como pintor foi plena deste gueto (mas sem a doçura de Chagall ). “Os apátridas não abandonam nem renegam as tradições de seus países de origem, pelo contrário, introduzem-nas, combinando-os, na circulação da sociedade cosmopolita” observa Giulio Argan, em seu livro Arte Moderna. Com Soutine, o movimento foi de melancolia e liberação (nunca resolvida) daquela cidade de casas de madeira cinzentas, do tempo frio e cinzento.
Soutine era o décimo de onze filhos de um pai alfaiate e mãe muito dura. Onze filhos, imaginem. o trabalho árduo! Ela, velha antes do tempo, com muito medo, pouca comunicação, muita superstição e, claro, escassa afetividade.
Aos 13 anos, Soutine adora desenhar. Desenha em tudo, tipo muros e paredes. Começa um martírio de crueldades. Era ridicularizado pela família, pelas outras crianças e punido fisicamente. Seus irmãos batiam nele, dizendo que um judeu não devia pintar (as imagens eram proibidas pela religião). Essas pequenas torturas se tornaram um ritual constante na vida do menino q se escondia até que pela fome precisava sair do esconderijo e procurar comida. Mas ao menor ruído na cozinha, era surpreendido pelos irmãos que o aguardavam para bater mais ainda.
Certo dia, aos 16 anos, pediu a um senhor judeu para posar porque queria fazer o retrato. No dia seguinte, seus filhos e amigos pegaram Soutine e lhe deram uma surra. Estava quebrado. Sua mãe, então, deu queixa na polícia e Soutine recebeu a compensação de 25 rublos. Com este dinheiro foi para a cidade próxima, Minsk, para se tornar artista.
As coisas na vida dele aconteciam através da dor e humilhação.
Um ano depois, vai para Vilna e se matricula no curso de Belas Artes. No exame de admissão fica tão nervoso que erra a perspectiva ao desenhar um cubo e um cone, e chora muito. Com pena dele, o diretor da escola lhe dá nova chance. Sozinho na sala se sai maravilhosamente. Faz o curso de três anos com brilhantismo.
É ali que entra em contato com os mestres da pintura universal. É ali que ele busca temas evocativos de tristeza, miséria e sofrimento. Começa a desenvolver um estilo emotivo, agitado, enérgico, personalíssimo. A emoção transborda de seu trabalho e se torna turbulenta e movimentada num expressionismo veemente.
Muda-se para Paris em 1913 e, sendo um expressionista, matricula-se na Escola de Paris. Lá junta-se aos outros artistas em Montparnasse. Conhece Modigliani de quem fica amigo e serve como modelo para muitos retratos. Nos primeiros tempos, em Paris, come do pão que o diabo amassou. Muitas vezes ficava horas parado em frente a um café esperando que alguém lhe ofereça uma refeição.
Conta-se que expulsava os percevejos de sua cama com “o método da panelada” e o do querosene. Que improvisava ceroulas como camiseta. Mas apesar de tudo, para Soutine, os anos em Paris eram menos severos do que os tempos de sua infância. Sua energia para o trabalho o conservava bem vivo.
Seu estilo de empastar a cor era muito diferente de todos embora tivesse influências de van Gogh, El Greco, Rembrandt, Cézanne. De van Gogh tinha a característica profunda da personalidade melancólica e agitada, Cézanne lhe toca na questão espacial, cor, volumes e articulação de planos. El Greco lhe traz a distorção acomodada no espaço comprimido. Copia Rembrandt na pintura das carcaças de animais mortos.
Certa vez horrorizou os vizinhas que bateram em sua porta afim de descobrir de onde vinha o fedor de carne podre q impregnava tudo. Era de uma carcaça de boi q ele tinha levado para casa para pintar. Chamaram a polícia para a qual rapidamente Soutine faz um discurso da importância relativa da arte acima da higiene.
Ele pintava violenta, convulsiva e angustiadamente. Quando pinta paisagens “lemos” árvore, estrada e colina, com sentido diferente, diz Wendy Beckett, historiadora. Seus quadros são delirantes, de grande força, movimento e fluidez pesada.
Mas eis que chega o dia em que a sorte lhe bafeja. Em 1923, o colecionador americano Albert Barnes (que tive a graça de conhecer a fundação na Filadélfia) compra quase toda a sua produção e Soutine sai definitivamente da miséria.
Em 1937 é convidado a fazer parte da exposição dos artistas independentes, coisa rara entre artistas não-parisienses.
Mas chega a Segunda Guerra Mundial. Chaïm Soutine, oficializado como judeu, obriga-se a se refugiar nas cidadezinhas próximas de Paris onde tem de trocar de esconderijo constantemente. Torna-se ainda mais angustiado e doente. Em 1943 sofre uma ruptura de úlcera. Demora o atendimento para ser levado a Paris onde será operado. Morre na mesa de cirurgia.
Pode ser uma ilustração de criança
 Lituânia, numa cidadezinha de 400 habitantes. Neste povoado judeu a pobreza era endêmica, a religiosidade ortodoxa, o conservadorismo absoluto. Sua atividade como pintor foi plena deste gueto (mas sem a deliberada reminiscência como foi com Chagall). “Os apátridas não abandonam nem renegam as tradições de seus países de origem, pelo contrário, introduzem-nas, combinando-os, na circulação da sociedade cosmopolita” observa Giulio Argan, em seu livro Arte Moderna.


 
er Becker

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