Edward Hooper
"Nighthawks" 84,1 x 152,4 cm-1942- Institute Arte of Chicago
Quatro personagens - um garçom e três clientes- sentados num
bar, um desses bares que ficam abertos a noite toda, em NY, 1940.
Uma luz fluorescente ilumina a cena. Ilumina mas não aquece.
As quatro pessoas ali estão mergulhadas, cada uma em seu próprio mundo.
Hooper pinta a metrópole de NY. E aquele lugar em
particular passa a simbolizar todas as metrópoles. Está fora do tempo e do
espaço, transcende NY e se instala dentro de nós com uma fria familiaridade.
Nós conhecemos aquela desagregamento, ele está em todo o lugar.
A noite é quieta e fechada. Desta pintura foram retirados os
sons. Nenhum pio, nenhum vento. Quem mergulhou um dia, sabe do silêncio físico e psicológico que aqui se fala.
A luz que sai de dentro do bar é aguda. É a luz fria do neon, que recém começava
a ser usada em 1940.
É extraordinária a atmosfera psicológica deste quadro. O
anonimato, o mistério das coisas e das pessoas, a sugestão de vida transitória.De chegadas e partidas. A impossibilidade de comunicação debaixo de uma luz de tortura.
Edward Hooper tem
quadros de cenas em hotéis com uma luz metafísica, impessoal e desolada incidindo sobre o estranho mundo das coisas e das pessoas que jamais se comunicam.
Sem passado e sem futuro a noite das aves humanas não faz
mais perguntas porque conhece a impossível resposta. Quem sou eu. Quem somos e
para onde vamos. Tudo é sem resposta. Tudo é denso, parado e só.
Para olhar este quadro (vi no ano passado no Institute of
Art Chicago) seria adequado o ambiente estar quase vazio. Digo “quase” pois algumas poucas pessoas isoladas e perdidas poderiam pesar mais do que a sua ausência. Dariam
a certeza de que há o mundo, mas há a patética impossibilidade de comunicação.
Hopper não é mudo, porém. Ele não trata a cidade com
desprezo ou qualquer outro julgamento. Apenas constata o sólido custo humano da
civilização.
Ao mergulharmos na solidão do quadro, fazemos uma síntese. É
dentro de nós que se faz a união de elementos soltos numa única certeza: a
pesada certeza metafísica do isolamento humano.
Angela Weingärtner Becker
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