Antoni Gaudí e a Basílica da Sagrada Família

 
 Basílica Sagrada Família
 
Quando Gaudí recebeu a incumbência de fazer a Sagrada Família, estava apenas iniciada em estilo gótico, em 1882, por Francisco de Villar. Antoni Gaudí era um jovem de 31 anos, elegante, vestido como um dândi, dado à vida social, nada religioso. Costumava vir num choche de cavalos dar ordens aos capatazes  e, sem descer, dirigia os trabalhos. Trabalhou por 43 anos. À medida que se envolvia nos assuntos religiosos tornava-se um devoto pleno, cheio de fé. A tal ponto que corre hoje, no Vaticano, o processo de sua canonização.
 


Antoni Gaudi

Gaudí trabalha exaustivamente no projeto da 3a. catedral de Barcelona (em 2010 é consagrada Basílica). E, o arquiteto preferido da prestigiosa família Güell, trabalha tanto que ao final prefere levar sua cama para dentro das oficinas da igreja, onde fica literalmente imerso no projeto. Numa tarde, ao sair da igreja, pouco antes de acabar a fachada do Nascimento, é atropelado. Não o reconhecem, usava trajes toscos, pouca importância dava à aparência. É levado como indigente ao hospital e morre três dias depois, em 10 de junho de 1926.

 
A ideia de protagonizar a igreja com a Sagrada Família formada por Jesus Maria  e José, vinha do santuário de Loreto (Itália) onde se acreditava que os anjos tinham graciosamente depositado a casa em que Jesus havia sido concebido.

Gaudí, fez a fachada do Nascimento orientada para o nascer do sol, e a da Paixão e Morte, voltada para o ocaso. Assim era a tradição.
A Igreja tem sete capelas. A do centro é dedicada a São José. Às da esquerda, à patrona da Catalunha, Virgen de Montserrat e de Santo Cristo. À direita, a capela do Santíssimo Sacramento e da Virgen Del Carmen (a qual Gaudí era muito devoto e onde  está enterrado) e em frente à capela de São José estão a do Sagrado Coração e as restantes dos familiares de Jesus (existe uma coluna onde Gaudi nomeia toda uma genealogia de Jesus).
 


Dainte da Fachada do Nascimento

Quando se entra na Igreja, temos a sensação estranha de estarmos num sonho. Cabeças de anjos, guirlandas de flores, rosas em profusão ao lado de colunas como de osso que sustentam obliquamente um teto cheio de flores exóticas misturados com a simbologia cristã como caracóis, peixes, espirais, espigas de trigo. Os vitrais e uma abóboda central iluminam as criaturas. Por fora temos rãs, dragões, lagartos, serpentes e todo o tipo de répteis que fazem a função de gárgolas expulsando as águas da chuva (bem como os maus espíritos, como era no medievo).


 Há grupos escultóricos como os das tentações. Um monstro oferece dinheiro à uma mulher. Um homem é tentado por um diabo que traz uma bomba na mão. Ambos, porém, estão protegidos pelo doce olhar da Virgem. Borbulhas de água, ondas, pássaros, tartarugas, tudo é parte da construção e tem uma funcionalidade. Gaudí era extremamente prático. E providencial. Quando termina a primeira fachada, recebe uma gorda doação de uma mulher anônima e assim é permitido que ele ouse muito mais do que havia planejado.

 Sabe-se que um templo de expiação tem de viver de donativos, é o povo que o financia e assim paga seus pecados, suas culpas, na mesma concepção medieval.
em construção 

Para falar da emoção da opus magnum de Antoni Gaudí, só indo lá pessoalmente. É como entrar num filme, num livro, numa viagem da imaginação. A geometria que ele usa para erigir o templo, não vem de Vitrúvio, ou de Vignola onde as grandes construções costumavam se basear.Vem da natureza. Não há regras fixas de composição. A ciência difusa de Gaudí tem caráter místico, não é deste mundo conhecido.

 
Gostaria de falar das esculturas magníficas, da Verônica, por exemplo, cujo rosto não tem traços o que realça o lenço onde está escavado na pedra, o rosto de Cristo. Gostaria de falar das imagens dos operários que Gaudí imortalizou. Gostaria de falar no privilégio que é ver em pleno século XXI  subir a construção de uma catedral. O tempo é longo, o tempo é curto.
Angela Weingärtner Becker