Lucian Freud (1922-1911)




Sempre houve aqueles que rejeitaram a arte conceitual. Em paralelo à desconstrução da figura (arte abstrata modernista) vigorou uma ampla gama de trabalhos figurativos. Persistiam os que queriam a volta da “condição humana” na arte, como representante da tradição.

 Na Inglaterra, nos anos 80, havia um movimento pró-figurativo em decorrência da tradição britânica que considerava a arte conceitual como um desvio da verdadeira vocação da Arte. Queria-se um retorno aos temas humanísticos. É neste lugar que Lucian Freud se coloca. Mas também (e talvez principalmente) no mercado. Este se mostrou magnânimo com ele.



As questões por que Lucian Freud não lograva muitos elogios da crítica e, qual seria realmente o seu lugar na História da Arte, foram perguntas que sempre me fiz. A crítica de arte é, a este respeito, controversa. Há os que destacam a originalidade de Lucian Freud e outros que o consideram um déjá-vu na história da arte. Alguns afirmam que a sua pintura não foi mais artisticamente “necessária” quando apareceu. Seria um artista moderno fora de seu tempo (a arte moderna termina com a 2ª guerra).

 Toda a arte contemporânea (desde o pós-guerra) fez uso ousado do corpo humano. Ele não inventou nada, segundo grande parte dos hitoriadores, em matéria de realismo pictórico relativo ao corpo e à carne. Se considerarmos, por exemplo, ”A origem do mundo” (Courbet, 1866) podemos pensar em repetição, não em inovação. A sua pintura não chega a se ultrapassar e a se inscrever numa ordem simbólica que promove transformações. Seria esta a resposta sobre o motivo pelo qual a crítica não o avalia com o entusiasmo que esperei. Eu, porém, o vejo de forma muito mais entusiasmada. Acho que ele é  extraordinário forte, impactante.

Benefits Supervisor Sleeping, 1995

 Mas o mercado não pensou como a crítica de Arte. O quadro “Benefits Supervisor Sleeping”, 1995, foi vendido por 33,6 milhões de dólares na sede nova-iorquina da Christie's ,um record mundial em leilão, para um artista vivo. E, uma fortuna acumulada de 96 milhões de libras mostram o quanto ele foi procurado e valorizado.

Retrato de Rose, 1979

Lucian Freud é autobiográfico. O conteúdo da sua obra envolve suas esperanças, memórias, sensualidade. Pintou amigos, esposas, filhos (deviam ficar imóveis por longas 13 horas por dia!). A rainha Elizabeth, cujo retrato pintou em 2001, só conseguia pousar 2h de cada vez. O retrato mostra uma rainha ElizabethII bastante masculina, sob uma pesada coroa.O pintor estava tão preocupado em captar a "essência interior" da soberana que descartou um plano mais amplo e a fez em close.Comparou a dificuldade de sua tarefa com uma expedição ao Polo Norte.

Rainha Elisabeth II, 2001

 Nos anos 50, redescobriu para si a arte dos retratos e dos nus realistas. Em geral, seus modelos eram parentes e amigos. Dificilmente retratava quem se destacasse por beleza extraordinária com exceção da top-model Kate Moss e Jerry Hall, ex-esposa de Mick Jagger.


Kate Moss, 2002 Coleção Privada.


Lucian Freud é sobretudo um retratista. Não tinha interesse político ou social. Dizia: “Tudo é autobiográfico e tudo é um retrato, mesmo que se trate de uma cadeira". Freud pintava em superexposição dos corpos, às vezes deformados. E sempre com intimidade chocante. Ele devassava frontalmente seus modelos.Teve influência de Gustave Courbet, Otto Dix, Alberto Giacometti, Francis Bacon e outros.

Produzia seu trabalho isolado no ateliê, alheio ao contexto social.  . Para ele, Picasso era venenoso, Man Ray, vulgar, Max Ernst, pesado e inflexível. Lucian Freud vivia enrolado com pessoas não recomendáveis como agiotas e ladrões. Seu ateliê tinha uma porta de aço com a intenção de proteger o artista e sua valiosa obra de alguns “amigos”. Seus rolos também se estenderam ao terreno profissional. Brigou feio com 6 de seus marchands.


And the Bridegroom, 2001

Uma pergunta que não quer calar: Lucian Freud conseguiria a fama não fosse o fato de ser neto de Sigmund Freud? Seu grande tema era a alma humana – da mesma forma que para seu avô célebre. Isso não pode ser ignorado. A alma humana é o grande tema que jamais será substituído por outro mais interessante.

 O pai, Ernst, era o filho mais novo de Sigmund Freud. A família de judeus deixou a Alemanha em 1933, fugindo dos nazistas que acabavam de subir ao poder, e 6 anos mais tarde Lucian recebia a cidadania britânica.

Hoje, bisnetos do pai da psicanálise e filhos de Lucian Freud revelam por que trocaram a arte por vida tranquila. Lucy e David, filhos do pintor, contam que herdaram o talento do pai, mas abriram mão do reconhecimento artístico. Devem ter sentido o peso do nome. 
                                                        Angela Weingärtner Becker
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Francis Bacon




Nasce em outubro de 1909. É considerado inglês, apesar de ter nascido na Irlanda. Seu pai mudou-se com a família, para Londres no começo da 1ª. Guerra Mundial. Portador de asma, não teve educação formal, e sim com professores particulares. Sai de casa aos 16 anos, rejeitado, quando seu homossexualismo é descoberto pelos pais.

 Em 1925, muda-se para Londres. Posteriormente passa um período em Berlim e na França. Em 1928 fixa residência em Londres. Inicia-se na pintura como autodidata e trabalha como decorador.
Em 1945 já é considerado pintor figurativo importante.




Em 1953, faz sua primeira individual em NY. Representa a Grã-Bretanha na Bienal de Veneza, em 1954. Em 1959 está na Bienal de São Paulo. Uma grande retrospectiva de sua obra foi feita na Tate Gallery de Londres em 1962, e posteriormente em toda a Europa. Em 1964 foi feita uma em NY, no Guggenheim, e no Art Institute, de Chicago.

Francis Bacon morre em 1992 aos 82 anos, sem ter deixado uma produção maciça. Sabe-se que destruiu quase toda a sua obra, nos anos 40. Foi considerado o maior pintor vivo “se você olhar para os outros, verá que não tem muita concorrência” dizia, fugindo ao elogio.

Viveu pegando pesado na vida marginal. Nos anos 20 foi garoto de programa em Berlim e depois Paris. Frequentava festas milionárias e bares underground. À parte disso, trabalhava em regime monástico. Seu atelier era um cenário caótico. Latas de tintas, pincéis, telas, diagramas de filmes, radiografias (usava como modelo), papelada solta. Tudo misturado. 

Em 1959, faz no Brasil, sua 5ª exposição fora da Inglaterra (já navegamos com mais desenvoltura no cenário artístico mundial, ....eram tempos de JK).
Em 1998, na Bienal de São Paulo, tivemos 14 obras do pintor. Foi quando o conheci. Um raio me caiu na cabeça. É assim com quase todo o mundo.

Liberdade, desespero, vazio, absurdo, náusea, metamorfoses, ansiedade. É esta a sua linguagem. Um contínuo embate existencial. Em superfície de várias camadas, dá a sensação de carne mutilada. “Eu pinto sensações, a vida é sensação”.



estudo para um Papa IV






Ele tinha vivido durante a guerra em Paris, escondido em um asilo onde podia escutar os gritos dos prisioneiros mutilados e mortos pelos nazistas. Passa a pintar bocas abertas em gritos. Mas ele pinta não só a carne mutilada das vítimas que ouvia, mas a carne abstrata de todas as vítimas anônimas. Ao mesmo tempo que registra as atrocidades ele as homenageia. Dizia: “Sou otimista. Otimista em relação à nada.” Assim ele sonda uma camada existencial após outra. E tudo deforma e corrompe.


estudo de figura para a base de uma crucificação

Sua pintura trata do sub-humano, do demoníaco. Faz um desvendamento brutal da verdade. Liga-se à Velazquez, a quem idolatrava. Também Picasso. Numa série de 6 quadros, analisa o retrato do papa Inocêncio X, pintado por Velazquez. Pinta inúmeras vezes, obsessivamente. Elimina todos os ornamentos e aprisiona o papa dentro de um ringue de box, imagem que vai ser recorrente em sua obra. Deforma a figura, retorce sem piedade. Desfigura, transforma o que era forte em fraco, o que era severo em maligno, diz Argan, historiador de Arte. Talvez desvendasse o verdadeiro papa, mas não todo e completamente. É como se dissesse “vou parar por aqui, mas poderia ir além”. Argan diz que ele ao invés de espiritualizar o quadro de Velazquez, o corrompe. E Bacon diz “o divino de nossa época é o infame”. Então desfaz a figura diante do espectador boquiaberto.


Francis Bacon volta à figura tradicional, mas só para desvalorizá-la explicitamente. Com brutalidade. Faz a figura e a desfigura. O “sublime”, com ele, ganha o seu velho significado romântico de místico e satânico. Assim rebela-se contra a moral vitoriana que só dá valor a critérios sociais. Faz a figura, em seguida a degrada. Às vezes passa um pano sobre a pintura fresca, acelerando o tempo na tela, o tempo da degradação.

Não se pode dizer que ele pertence ao movimento pró- figurativismo que começava a surgir em oposição ao abstracionismo. Ele continua com o desaparecimento da figura. Ele a dissolve dramaticamente.

Não é difícil constatar que Bacon está em todo o lugar neste mundo contemporâneo. Basta ligar a tv e ver desabrocharrem flores de náusea dentro de nossas casas. Ele diz “quem pode concorrer com as notícias de tv?”.Sim, ele está sim, em todo o lugar: no Brasil e no mundo. Está palpitando sob aparências comportadas.

 Angela Weingärtner Becker




Gauguin, uma biografia tumultuada



Paul Gauguin (1848-1903)

 Tudo é tumulto, na vida deste pintor. Antes mesmo de seu nascimento, as confusões já tinham começado.
Paris, em 1848, vivia sob um clima de revolução que culminou com a proclamação da República. Clóvis Gauguin, pai do pintor, era cronista político do jornal republicano “National”. A mãe era filha da poetisa feminista Flora Tristan, que morreu em 1844,  numa viagem de propaganda dos grupos operários feministas que ela havia criado.

Gauguin nasceu sob este clima inconformista, aventureiro e rebelde. Em 1851, com o golpe de Estado de Napoleão Bonaparte, o pai achou prudente abandonar a França e se refugiar com mulher e dois filhos, no Peru. Morreu na viagem. Sua mãe chega até Lima onde se instala na casa do tio-avô Don Pio cujo filho foi Presidente da República do Peru.
Até 4 anos este era o cenário onde viveu Gauguin. Sua mãe resolve regressar à França. Em Orleans Gauguin faz o primário e secundário. Sua rebeldia e mutismo leva a um professor a exclamar “Será um gênio ou idiota”! Virou um gênio.

 Com 17 anos entra para a marinha mercante, quando esteve nos portos do Rio de Janeiro e Salvador. Com 20, cumpre o serviço militar durante a guerra da França e Prússia que acabara por destruir tudo o que a família possuía. Em 1881 começa a trabalhar como corretor de fundos públicos. Chega a ganhar muito dinheiro que gasta com obras “escandalosas”de arte impressionista: Monet, Manet, Renoir, Cézanne e Sisley.

Casa-se com a dinamarquesa Mette Sophie Gad. Trabalha, compra arte, desenha aos fins de semana. Frequenta os meios artísticos de Paris. Segue estudos de arte acadêmica, mas gosta mesmo dos impressionistas. Inscreve alguns trabalhos no salão oficial, mas solidariza-se com os impressionistas rejeitados. Em 1880 inscreve trabalhos no salão dos “malditos”. Torna-se amigo de Camile Pissarro. Em 1884 muda-se com a família para a Dinamarca e sua situação está insustentável com os hábitos luteranos da família da mulher. O mundo burguês e o seu não se harmonizam mais. Separa-se e volta para Paris com o filho mais velho, deixando os outros 4 com a mulher. Lá, passa fome e vai colar cartazes na rua para alimentar o filho. Escreve à filha:“A fome desperta o gênio, mas não pode ser demais, senão mata.”

É apresentado a Paul Signac e conhece o pontilhismo. Começa a pintar o que depois seria seu estilo: renúncia ao tridimensional, composição requintada, curvas voluptuosas. Em 1886 exibe 19 telas na última exposição impressionista. Vai para a Bretanha, mora numa pensão barata. Medita e pinta. Conhece o cloisionismo com Émile Bernard: cores chapadas, separadas por contornos.
Retorna a Paris em 1886. A cidade não o acolhe. Não consegue pintar e não consegue não-pintar. Não tem condições de se sustentar. Em 1887 decide viajar para a América Central “para viver como um selvagem”. Adoentado e sem dinheiro, segue para a Martinica. Lá, com esforço, sobrevive e consegue pintar com intensidade luminosa, grandes campos de cor colocados lado a lado. Trabalha de sol a sol numa enxada, dorme mal, come mal. Volta a Paris e depois e em 1888, volta para Pont-Aven para pintar e ficar na companhia de alguns pintores. Formam um grupo e discutem pintura acaloradamente.

 Mahana no atua, 1894. Art Institute of Chicago

Suas cores se tornam puras e ocupam áreas maiores nos quadros. Aceita um convite de van Gogh e de Theo, seu irmão, para Arles onde Van Gogh já alcançara sua linguagem própria. Gauguin tenta ajudar o artista conforme sua capacidade. Discutem à exaustão. Brigam e van Gogh acaba por ferir-se com uma navalha. Depois deste grave desentendimento, Gauguin volta a Paris onde já era de um prestigio crescente entre os jovens artistas, mas principalmente entre o grupo dos “nabis” (profetas, em hebraico). “É preciso simplificar a visão”, ensinava.

Ele era angustiado. Volta para a Bretanha. Instala-se à beira do mar vivendo com os pescadores. Um ano depois volta à Paris e vê uma apresentação do Grupo Pont-Aven em torno de seu trabalho e dos seus princípios plásticos. Os artistas ficam deslumbrados com suas obras. Porém ele anseia pela natureza. Está cansado da Europa e do materialismo vigente. Seus amigos fazem uma exposição para vender suas obras e conseguir dinheiro para a viagem que vai levá-lo ao Taiti “terra deliciosa, terra perfumada”.

Dois meses de viagem e desembarca na cidade de Papeete. Decepção! A cidade está totalmente europeizada e com “esnobismo colonial”. Ali tão longe, também se imitava Paris. Porém instalado entre o mar e a serra descobre a graça e a beleza dos polinésios. Vai viver numa aldeia com a nativa Téhoura. Lá conhece um mundo incontaminado. Escreve e pinta. Os corpos inocentes e belos, quase nus. As mulheres como damas egípcias, os homens despidos e belos. Mas seus recursos tinham se esgotado. Sente saudades da família, escreve à mulher pedindo que ela arranje um emprego. Estava 9 anos longe. Ela não o atende. Volta com a fome e o frio, sem recursos, outra vez em Paris.

Fatata te Miti ,1892. National Gallery of Art

O destino vira de repente: recebe a notícia de uma herança de um tio. Pode se instalar com razoável facilidade. Organiza uma exposição com suas obras taitianas, mas não consegue vender quase nada. A crítica o condena, os clientes rejeitam aquele mundo primitivo que retrata. Arranja seu atelier com pinturas por todo o lado, paredes, portas, janelas. Ana, uma bailarina de Montmartre vive com ele na companhia de um macaco e um papagaio. Recebe artistas e escritores de forma generosa. Veste-se estranhamente com colete azul bordado de amarelo e verde, bengala, luvas brancas, casaca azul. Num passeio com Ana é ridicularizado e ao se defender é ferido e abandonado no hospital pela javanesa.
Em 1895 deixa a Europa rumo à Oceania. Definitivamente. Tinha vendido algumas obras num último leilão lamentável. Preços muito baixos, resolve recomprar as poucas obras vendidas. No Taiti reencontra seus amigos nativos. Retoma as pinturas e o mundo que ele sonhava, mas que mesmo ali na natureza, tivera de inventar.

Em 1897 seu ferimento da briga na Bretanha volta e ele, sem dinheiro, mal consegue ser hospitalizado. Envolve-se em brigas com o governo local e com padres europeus. E pior: recebe a notícia da morte de uma filha.
Neste desesperador ano de 1897 exclama “minha saúde está cada vez mais deplorável e, para reparar as forças perdidas, não tenho sequer um pedaço de pão”. Neste momento pinta a obra “De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?”. Toda a existência humana é posta em questão nesta tela.  “Eu queria morrer” diz em 1901, e para apressar o desfecho toma uma dose de arsênico. Foi uma dose insuficiente e não morre.

7De onde viemos? O que somos? Para onde vamos? 1897

 Depois de tudo, continua a ter ânimo para pintar e experimenta em várias obras, a beleza pura, a vitalidade primitiva. Envolve-se com a situação dos indígenas que o deixa cada vez mais violento para com os brancos. Arranja muitos inimigos através de um jornal onde escreve.
Resolve mudar para uma ilha das Marquesas ainda quase antropofágica. Aluga um atelier onde espera ardentemente pintar e ser feliz. Na sua porta coloca um cartaz “Casa do prazer”.

 O ano de 1902 é, enfim, tranquilo. Tem um raro período de paz e harmonia com a sonhada felicidade natural. Vê, no entanto, chegar à ilha a rápida e avassaladora influência dos brancos. Sucedem-se os conflitos. Gauguin defende o direito dos indígenas de não ir à escola dos missionários nem assistir à missa. Começa a ser perseguido pela polícia e preso por desacato a uma autoridade militar. No começo de 1903 sua saúde decai totalmente e, muito doente, não mais sai de casa. Morre às 11 h da manhã do dia 8 de maio de 1903 em circunstâncias não bem esclarecidas. Diz-se que os indígenas repetiam “Gauguin morreu, estamos perdidos”.

Nafea Faa Ipoipo,1892 óleo sobre tela

Em 2015, o quadro Nafea Faa Ipoipo, ou em português, “Quando te Casarás?” foi arrematado por US$ 300 milhões, na época, o equivalente a R$ 835 milhões. Naquele momento, foi a obra de arte mais cara vendida na história.


fonte: Mestres da Pintura Abril Cultural. SP, Brasil

Angela Weingartner Becker
     O Kitsch

Podemos reconhecer o kitsch na madeira imitando mármore, nos objetos de zinco imitando o bronze, no adesivo imitando o ladrilho. Está em tudo o que imita, sempre procurando aparentar ser algo mais nobre do que é. Adora uma cópia, uma adaptação do modelo erudito. Às vezes tem um tom surreal e outras vezes humorístico. O kitsch também usa cores vivas ou estranhas combinações. Com tendências ao exagero, à acumulação, tem conotação sentimental. A sua funcionalidade é nula ou minimizada, cedendo para o decorativo. (O pinguim sobre a geladeira faz uma associação ao frio? Para quê?). O kitsch vive da imitação e do simulacro.

KITSCH- designa uma categoria de objetos vulgares, baratos, sentimentais, bregas, que copiam cultura erudita sem critério e longe da qualidade de seus modelos. São destinados à massa.  A palavra "kitsch”, às vezes, está relacionada ao “lixo”. Desde a sua origem assumiu uma conotação negativa. Varia segundo os tempos, os grupos sociais, as preferências individuais e as geografias. O que permanece é que é sinônimo de algo banal, barato e de mau gosto.

Muitas vezes é oposição ao conceito de arte, enquanto outras vezes ele é aceito como arte, (mas de má qualidade).  Embora o kitsch se sinta, ele mesmo, ”profundo", "artístico", "importante" , ele deve estas sensações  por  associações externas ao objeto mesmo . Há quem entenda o kitsch como ausência do senso crítico. O Kitsch é compreendido de imediato pelo seu público e sua presença em países do terceiro mundo muitas vezes é tomada como uma evidência de modernização.

O Kitsch com sua enorme penetração na psicologia das massas, muitas vezes é usado pela elite para dirigir a opinião pública, seja na forma de publicidade comercial, educação escolar, propaganda partidária ou iconografia religiosa. Pode ser típico da classe média com pretensões de ascensão social. Nos círculos ilustrados emprega-se o termo com intenção pejorativa e como reprovação moral baseando-se quase sempre em juízos de valor. E isso é algo muito subjetivo.

 O kitsch é um fenômeno de largo alcance e movimenta uma indústria milionária. Para um bom número de pessoas é todo um modo de vida. E é sentido como legítimo “genuíno”. O conceito não se sustenta em bases objetivas e até a Arte (com A maiúsculo) o Design ( D maiúsculo) não escaparam do kitsch.

É manifestação cultural de muitíssimos fatores como:  industrialização, tecnologias, ascensão da classe média,  êxodo rural, dissolução das culturas tradicionais e folclores, da ascensão à educação, da conquista de maior tempo para o lazer, entre outros.

Para Walter Benjamin o kitsch traz uma sensação de “intimidade sentimental  com o consumo fácil, sem exigir um esforço de elaboração intelectual a respeito do objeto”. Lúdico e “fácil” traz "Conforto e felicidade para todos" (este poderia ser um dos lemas do kitsch). Posso levar a Torre Eiffel pra casa. Posso ter a Vênus de Milo na minha cabeceira e ainda em “magnífico” dourado. Greenberg, estudioso do assunto, definiu o estilo como "a arte da cópia" e das "sensações falsas”.

Uma das coisas mais tristes do kitsch é que ele derruba e substitui as tradições.  Elimina e desfigura as culturas nativas.  Não se confinou às cidades, expandiu-se.  Porque anda paralelamente ao processo de educação de massas, ele tem enorme penetração.  O que poderia ser mais kitsch do que a propaganda oficial na simbologia da pátria amada? Formatar é preciso. O Kitsch sabe fazer isso muito bem e em grande escala.


O objetivo do kitsch não é criar novas expectativas, nem desafiar o status quo, mas sim agradar o maior número possível de pessoas. E, preferencialmente, só mantendo (não expandindo) o nível de expectativas já existentes. O Kitsch perdura “explorando impulsos humanos básicos relativos à família, à raça, à nação, ao amor, à nostalgia, às crenças religiosas, às posições políticas, tornando-se um estilo de vida onde está ausente o questionamento e a aversão a encarar o lado sombrio da existência”. Para Abraham Moles, o kitsch é "a arte da felicidade”.

Gatinhos de porcelana, estátuas religiosas de gesso, bonecos de pelúcia, anões de jardim, paisagens tropicais com coqueiros ao pôr-do-sol, postais suíços nevados, essas e outras imagens são recorrentes no mundo kitsch. E, simpáticas e familiares, rapidamente compreensíveis, nunca desafiam nem subvertem  a ordem social maior, porque o papel do kitsch  é pacificar, e não provocar.
Hoje em dia o kitsch está recebendo um olhar mais favorável. Estes “méritos” estão sendo reconhecidos por motivos políticos, religiosos, econômicos. No mundo do politicamente correto é fácil atribuir a rejeição ao kitsch à uma arrogância  das classes cultas. Começa a ser visto (já há algum tempo) até como boa arte: uma atividade ou produto criado com o único fim de fruição e deleite - a ideia de "arte pela arte", ideia esta muito cara à Arte. Milan Kundera disse que ninguém é super-homem o bastante para escapar completamente ao kitsch “Não importa o quanto o desprezemos, ele é uma parte integral da condição humana".

Já eu não consigo assimilar o kitsch mesmo sabendo que nada e ninguém conseguem escapar. Sei que nem a Arte mais sagrada escapa. Principalmente esta (a sagrada)fica quase encostada no kitsch. Até porque ela mesma provocou um apelo tão contundente no público que a elegeu para o pedestal em que se encontra. Monalisa, Romeu e Julieta, Tan tan tan tã, sinfonia de Bethoven. Vênus de Milo, São Sebastião das sete lanças, Sagrado coração de Maria ou de Jesus(tudo em epóxi, rs).  Compramos a arte barata também porque não podemos comprar a arte cara. Até na Morte o kitsch se manifesta glorioso. Anjinhos rechonchudos, deusas nuas adornam os túmulos. Sem falar na “Ceifadora “ com seu gadanho prateado em miniatura. O Kitsch mata o sofrimento  e as grandes questões da humanidade com uma estatueta de mau gosto.                                                                                                                                                                                                               Angela Weingärtner Becker


Andy Warhol (1928-1987)





A trágica morte da atriz Marilyn Monroe, em 1962, foi a inspiração para uma série de trabalhos do artista pop Andy Warhol. A obra acima é uma das serigrafias do portfólio de 10 imagens criadas a partir da foto da atriz. Usa cores vibrantes e repete o tema. Vi esta obra no Institute of Art -Chicago e vi também o apelo popular que continua tendo até os dias de hoje.


Cada uma dessas imagens, reproduzida 250 vezes, (datadas e assinadas cada exemplar) foram criadas na sua famosa empresa, a “Factory Additions”. A sequência de retratos de Marilyn Monroe é seu trabalho mais famoso, bem como as pinturas nas latas de sopa Campbell's.Praticamente todas as celebridades da época passaram pela arte de Andy Warhol: Liz Taylor, Elvis Presley, Jacqueline Kennedy, Che Guevara, Mao Tse Tung,  Monalisa, Brigitte Bardot, Marlon Brando, Michael Jackson, e mais.

Estas reproduções são quase um deboche ao establishment artístico sobre arte tradicional e mostram como ele fez  a apropriação das técnicas de produção em massa que dominavam o cenário capitalista do pós-guerra.

Filho de imigrantes tchecos nasce em Pittsburgh, na Pensilvânia, como Andrew Warhola. Em criança sofre uma doença nervosa que o põe acamado por longo tempo. Isto faz com que ele se ocupe com desenhos, recortes, colagens, artigos de jornais.(era apaixonado pelas celebridades de Hollywood). 

De personalidade exótica e peculiar, foi dono de um talento artístico inquestionável. Tornou-se íntimo da cultura de massa “não creio que a arte deva ser apenas para uns poucos escolhidos, eu penso que devia ser para o povo americano em massa” dizia. 

Conhecia bem a força que as comunicações exerceriam no mundo Capturou perfeitamente o espírito de época e a percepção do quanto nossa sociedade moderna passou a ser pautada pelo imaginário da publicidade.

Graduou-se em design e trabalhou como ilustrador de revistas: Harper's Bazaar, The New Yorker e Vogue. Tornou-se um dos  mais bem sucedidos ilustradores da década de 50. Faz filmes underground (“Empire”1964), “(Blow Job” 1964) e (“The Chelsea Girls” 1966) filmes conceituais, onde uma câmera filma um corpo humano ou um edifício desde uma janela. Seus anúncios publicitários ganharam o status de arte.

Em 1961, Warhol começa suas primeiras pinturas pop baseadas em quadrinhos e garrafas de Coca Cola. Nesta arte, não há nenhuma intervenção de si mesmo para deslocar ou poetizar o motivo.Não há engenho ou toque pessoal. Estreia a famosa série “Soup Can Campbell” e faz a primeira exposição na Ferus Gallery em Los Angeles, vendendo todas as telas. Começa a produção de retratos.


 Mao, 1973. 488,3 x 346,7serigrafia em tela  A face do político tem um makeup como se fosse um clown.


 Em 1964, quando a feminista Valerie Solanas, buscando apoio para a peça Up Your Ass, e Warhol não concordando, ela, cheia de raiva, atira no artista. O ataque deixa sequelas. Ele é assunto da mídia o tempo todo. Depois de recuperado, ele volta à vida artística.

Em 1969 Andy Warhol funda a revista "Interview". Entre os anos 70 e 80, dedica-se à pintura, escreve diversos livros sobre si mesmo e sobre a Pop Art. Apresenta um programa na TV.

Usa uma peruca para disfarçar a calvície.Sua arte é garantida pelo seu "nome". Warhol é público. Conhece muito bem o sistema publicitário e sabe que tem de repetir a mensagem incessantemente até saturar. Ele é um objeto de consumo.

Cria as frases “No futuro, todo mundo será famoso durante quinze minutos”. “O que é incrível sobre esse país é que os consumidores mais ricos e os mais pobres compram essencialmente as mesmas coisas. Você pode estar assistindo TV, ver uma Coca-Cola, e você saberá que o presidente toma Coca-Cola, Elizabeth Taylor toma Coca-Cola, e você pensa que também pode, você, tomar uma.... Todas são iguais e todas são boas". É reconhecido como a própria Pop Art,  é figura central e fundadora do movimento.

Andy Warhol, "o artista que previu e inventou o mundo de hoje", faleceu em NY, 1987. Ele e seu grupo eram capazes de  revelar o refinamento que havia na estética publicitária e quanto tais estéticas e produtos faziam parte de nossa identidade profunda.




 Angela Weingartner Becker



Georges Seurat (1859-1891) e "Uma Tarde de Domingo na Ilha de Grande Jatte” 



Na época em que Cezanne se debatia por uma conciliação dos métodos do impressionismo que tomavam vários rumos, um artista bem mais jovem tentava resolver a questão de forma matemática. Para isso estudou a teoria cromática. Usou pequenas pinceladas de cor como pontos formando uma área, um mosaico. O olho do observador faria a mistura das cores. Ou melhor, seu cérebro faria a mistura das cores sem que perdessem sua autonomia na tela. Seurat também estava ciente de como a mistura ótica de cores nos olhos era diferente da mistura na paleta.

Em sua pintura não há contornos e isso, claro, deixa a visão do todo um pouco imprecisa, nebulosa. Há regiões na tela, em que a área de pontos não é muito densa e causa uma impressão contínua. Os limites se perdem um pouco, o que, na minha opinião, trouxe uma beleza difusa e interessante. A forma se colapsa em nossa frente. Lógico que para usar esta técnica ele foi obrigado a simplificar a forma, abolir detalhes. Nem Cezanne foi tão ousado. Ele jamais imaginaria esta radicalidade da forma. Era o pontilhismo, também chamado de divisionismo.

"Uma tarde de domingo na Ilha de Jatte" óleo sobre tela. 2.60 m x 3.50 m (1884-1886)

Sua obra máxima “Uma Tarde de Domingo na Ilha de Grande Jatte”  está no Art  Institute –Chicago. O quadro retrata a ilha de Grande Jatte, situada no rio Sena, próxima aos portões da cidade de Paris, na França. A imagem possui 48 pessoas da burguesia urbana do lugar, 8 barcos, 3 cachorros um macaco e um cavalo puxando uma carroça, ao fundo.

No Art Institute of Chicago ocupa uma parede destacada. Em sua frente aglomeram-se pessoas impressionadas que se aproximam e se afastam para ver a técnica, sentir a justaposição dos pontos da cor que se realiza pelo nosso cérebro. Observamos seu belo efeito meio furta-cor, meio irreal. Há um frescor de tinta acabada de pintar. Espetáculo! A gente ali sabe que está diante de uma obra prima rara: equilíbrio, requinte, trabalho minucioso, inovação. Senso de atemporalidade: a pintura parece ter sido feita uma hora antes de chegarmos no museu. Uma solenidade e silêncio das pessoas em frente a esta obra nos provam sua grandiosidade. É comovente. Também pelo tamanho: jamais tinha me dado conta do seu tamanho monumental 2,60m  × 3,50m. Mas sua apreciação não foi sempre assim. Quando  apresentada pela primeira vez, a crítica a chamou de "confusa, escandalosa e hilária".

 A educação de Seurat foi convencional. Nada apontava para este papel revolucionário na História da Arte. Estudou na École des Beaux-Arts, em Paris, por um ano e meio quando a deixou  para prestar o serviço militar obrigatório. Volta para as Artes e produz pequenos e requintados trabalhos em preto e branco e monocromáticos. Ali já traz a marca mais antiga de sua maturidade artística  Trabalha por conta própria. O talento inicial (evidente em seus desenhos) floresceria em um estilo altamente refinado e único, em 1884, quando ele realiza A Grande Jatte.

 É extraordinário que apenas quatro anos depois de abandonar a escola de arte, Seurat, altamente intelectual e analítico, estivesse pronto para começar esta obra. Ele se baseava em Chevreu, notável teórico das cores do século XIX. Ele observou que assim como as oposições da escuridão e da luz se aprimoram, qualquer cor também é aumentada quando colocada ao lado de seu “complemento”. Quando os complementos vermelho e verde são colocados lado a lado, por exemplo, o vermelho parece mais vermelho e o verde, mais verde.

Seurat tem influências do artista romântico Eugène Delacroix, e, claro das pinceladas dos impressionistas Camille Pissarro, Pierre-Auguste Renoir e Claude Monet. Em 1884, ele e outros pintores formaram a Société des  Artistes  Indépendants. Fazia parte deste movimento o pintor Paul Signac com o qual Seurat partilhou as suas ideias  sobre o pontilhismo.  

Seurat morreu em Paris aos 31 anos de idade. A causa da sua morte é incerta (meningite ou difteria). O último trabalho realizado pelo pintor, O Circo, foi deixado inacabado.

Ele criou outras telas ambiciosas, mas La Grande Jatte continua sendo sua conquista definitiva. Tornou-se um ícone, uma das imagens mais reconhecíveis do mundo da arte.
Angela Weingärtner Becker


Grant Wood(1891-1942) e sua “American Gothic”


Grant Wood foi um pintor americano nascido em ambiente rural, no estado de Iowa. Foi um dos principais regionalistas dos anos 30. Estudou Artes (Instituto de Artes de Chicago, Washington, Academia Julian) e visitou por quatro vezes a Europa onde se apaixonou pela obra do pintor holandês Jan van Eyck. O detalhamento de sua pintura futura, quando volta para se estabelecer em Iowa, é resultado desta influência flamenga.

Grant Wood viveu de 1922 a 1935 num sótão de uma carruagem onde fez seu estúdio.
Ficou casado por três anos, mesmo sendo homossexual. Ajudou artistas iniciantes durante a Grande Depressão quando a América agonizava.
Tornou-se um grande proponente do regionalismo em seu país, onde deu inúmeras palestras acadêmicas sobre o tema. Logo estava associado a este tipo figurativo, regionalista onde o típico americano era retratado. Ao mesmo tempo rejeitou com veemência a abstração europeia que vira em suas viagens para estudos artísticos.
American Gothic-Grant Wood-1930 74,3x62,4
Em 1930 participa de um concurso no famoso Art Institute of Chicago quando recebe o terceiro lugar. Rapidamente os jornais reproduzem a obra que ganha popularidade instantânea. O povo gosta. Usa-se a pintura para cartoons, propagandas, paródias. Wood é reconhecido imediatamente. Mas não na região de sua terra natal onde as pessoas se ofenderam. Críticos como Gertrude Stein, viram na obra a ironia, a caricatura. Seus conterrâneos entenderam como uma obra ofensiva.Não queriam ser tratados como caquéticos, cômicos, puritanos.
De fato, até hoje é considerada uma mistura de arte, reverência e sátira ao americano da zona rural.
Grant Wod era um admirador sincero do regionalismo americano e se defende junto aos conterrâneos dizendo que não tinha feito uma caricatura “Tive de ir à França para apreciar Iowa” diz.

O dentista e sua irma, modelos da obra

Para fazer o famoso “American Gothic” ele usou como modelos sua irmã e seu dentista pessoal. Vestiu-a com um avental de padrão colonial evocando a arte americana do séc XIX. O forcado nas mãos do velho, a austeridade dos rostos demonstram a dureza do trabalho rural.

 Seu biógrafo fala que ele teria achado absurda a casa que se vê ao fundo com a janela imitando as catedrais góticas europeias. Seria o estilo “gothic revival”. Ele teria dito  que pintara a casa imaginando como eram as pessoas que ali habitavam.

  Já nessa explicação tem uma ambivalência entre a reverência e a sátira....Provavelmente  os dois.
anúncio de roupas em 1958

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A verdade é que esta obra se tornou quase tão popular como “O Grito” de Munch  “O Rinoceronte” de Albrecht Dürer, e outras que são usadas em todo o tipo de artigo vendido nas lojinhas dos museus e mais. 
Quando visitei o Art Institute de Chicago, lamentei muito não ter visto esta icônica obra. Estava emprestada. O vazio na parede foi muito lamentado por mim.Obras famosas caminham pelo mundo.
Angela Weingartner Becker

Sobre Impressionismo, Expressionismo, Simbolismo.


Expressão é o contrário de impressão, nos diz Giulio Carlo Argan quando define estas duas grandes linhas da Arte, ocorridas no final do século XIX e início do XX.

A Impressão vem do objeto e sensibiliza o sujeito. A Expressão parte do sujeito para o objeto. O primeiro (Impressionismo) é um movimento de fora para dentro.O segundo (expressionismo) parte de dentro para fora. 

O Impressionismo é sensitivo, tem na sensação o motor da ação. O Expressionismo é volitivo, tem na vontade, o motor  da ação. No primeiro caso, o "fora" imprime o sujeito. No segundo caso, o sujeito imprime o entorno, o objeto, o "fora".

Impressão sol nascente 1872 de Claude Monet

Temos como exemplo de pintores do Impressionismo: Monet, Renoir, Degas, Pissarro, Sisley. etc.
No segundo caso, o Expressionismo temos Kirchner, Kokoschaka, Klimt, Schiele, etc


.O Impressionismo nasce na França enquanto o Expressionismo nasce na Alemanha. Porém mesmo tendo marcadamente estas nacionalidades, não foram movimentos que empunhavam uma bandeira ideológica, nacionalista. Ambos foram movimentos realistas, isto é, tinham base na realidade.

Dançarinas em vermelho Ernst Ludwig Kirchner

Diferentemente foi o Simbolismo. Este foi um movimento que transcendeu a realidade, chegando para além dela e alcançando os lugares do sonho, do onírico, da alegoria, do símbolo. Neste sentido, comparado com com os outros dois movimentos, o Simbolismo não lidava com a realidade objetiva. Era uma arte de evasão.

Podemos concluir facilmente o caráter hermético do Simbolismo. Seus temas eram da ordem da experiência mítica, mística, erótica. Motivos ligados à morte, ao pecado, à doença eram recorrentes.

                                                           A Intriga, 1890 James Ensor

                                                                                                                   Angela Weingärtner Becker



 Edward Hooper



                                                  "Nighthawks" 84,1 x 152,4 cm-1942-  Institute Arte of Chicago



Quatro personagens - um garçom e três clientes- sentados num bar, um desses bares que ficam abertos a noite toda, em NY, 1940.

Uma luz fluorescente ilumina a cena. Ilumina mas não aquece. As quatro pessoas ali estão  mergulhadas, cada uma em seu próprio mundo.

Hooper pinta a metrópole de NY. E aquele lugar em particular passa a simbolizar todas as metrópoles. Está fora do tempo e do espaço, transcende NY e se instala dentro de nós com uma fria familiaridade. Nós conhecemos aquela desagregamento, ele está em todo o lugar.

A noite é quieta e fechada. Desta pintura foram retirados os sons. Nenhum pio, nenhum vento. Quem mergulhou um dia, sabe do silêncio físico e psicológico que aqui se fala. A luz que sai de dentro do bar é aguda. É a luz fria do neon, que recém começava a ser usada em 1940.

É extraordinária a atmosfera psicológica deste quadro. O anonimato, o mistério das coisas e das pessoas, a sugestão de vida transitória.De chegadas e partidas. A impossibilidade de comunicação debaixo de uma luz de tortura.

Edward Hooper  tem quadros de cenas em hotéis com uma luz metafísica, impessoal e desolada incidindo sobre o estranho mundo das coisas e das pessoas que jamais se comunicam.
Sem passado e sem futuro a noite das aves humanas não faz mais perguntas porque conhece a impossível resposta. Quem sou eu. Quem somos e para onde vamos. Tudo é sem resposta. Tudo é denso, parado e só.

Para olhar este quadro (vi no ano passado no Institute of Art Chicago) seria adequado o ambiente estar quase vazio. Digo “quase”  pois algumas poucas pessoas  isoladas e perdidas  poderiam pesar mais do que a sua ausência. Dariam a certeza de que há o mundo, mas há a patética impossibilidade de comunicação.

Hopper não é mudo, porém. Ele não trata a cidade com desprezo ou qualquer outro julgamento. Apenas constata o sólido custo humano da civilização.

Ao mergulharmos na solidão do quadro, fazemos uma síntese. É dentro de nós que se faz a união de elementos soltos numa única certeza: a pesada certeza metafísica do isolamento humano.
                                                                                  Angela Weingärtner Becker