Francis Bacon
Nasce em outubro de 1909. É considerado inglês, apesar de ter
nascido na Irlanda. Seu pai mudou-se com a família, para
Londres no começo da 1ª. Guerra Mundial. Portador de asma, não teve
educação formal, e sim com professores particulares. Sai de casa aos 16 anos, rejeitado, quando seu homossexualismo é descoberto pelos pais.
Em 1925, muda-se para
Londres. Posteriormente passa um período em Berlim e na França. Em 1928 fixa residência em Londres. Inicia-se na pintura como
autodidata e trabalha como decorador.
Em
1953, faz sua primeira individual em NY. Representa a Grã-Bretanha na Bienal de
Veneza, em 1954. Em 1959 está na Bienal de São Paulo. Uma grande retrospectiva
de sua obra foi feita na Tate Gallery de Londres em 1962, e posteriormente em
toda a Europa. Em 1964 foi feita uma em NY, no Guggenheim, e no Art Institute,
de Chicago.
Francis Bacon morre em 1992 aos 82 anos, sem ter deixado uma
produção maciça. Sabe-se que destruiu quase toda a sua obra, nos anos 40. Foi
considerado o maior pintor vivo “se você olhar para os outros, verá que não tem
muita concorrência” dizia, fugindo ao elogio.
Viveu pegando pesado na vida marginal. Nos anos 20 foi
garoto de programa em Berlim e depois Paris. Frequentava festas milionárias e
bares underground. À parte disso, trabalhava em regime monástico. Seu atelier
era um cenário caótico. Latas de tintas, pincéis, telas, diagramas de filmes,
radiografias (usava como modelo), papelada solta. Tudo misturado.
Em 1959, faz no Brasil, sua 5ª exposição fora da
Inglaterra (já navegamos com mais desenvoltura no cenário artístico mundial, ....eram tempos de JK).
Em 1998, na Bienal de São Paulo, tivemos 14 obras do pintor.
Foi quando o conheci. Um raio me caiu na cabeça. É assim com quase todo o
mundo.
Liberdade, desespero, vazio, absurdo, náusea, metamorfoses, ansiedade. É
esta a sua linguagem. Um contínuo embate existencial. Em superfície de várias
camadas, dá a sensação de carne mutilada. “Eu pinto sensações, a vida é sensação”.
Ele tinha vivido durante a guerra em Paris, escondido em um asilo onde podia escutar os gritos dos prisioneiros mutilados e mortos pelos nazistas. Passa a pintar bocas abertas em gritos. Mas ele pinta não só a carne mutilada das vítimas que ouvia, mas a carne abstrata de todas as vítimas anônimas. Ao mesmo tempo que registra as atrocidades ele as homenageia. Dizia: “Sou otimista. Otimista em relação à nada.” Assim ele sonda uma camada existencial após outra. E tudo deforma e corrompe.
estudo para um Papa IV
Ele tinha vivido durante a guerra em Paris, escondido em um asilo onde podia escutar os gritos dos prisioneiros mutilados e mortos pelos nazistas. Passa a pintar bocas abertas em gritos. Mas ele pinta não só a carne mutilada das vítimas que ouvia, mas a carne abstrata de todas as vítimas anônimas. Ao mesmo tempo que registra as atrocidades ele as homenageia. Dizia: “Sou otimista. Otimista em relação à nada.” Assim ele sonda uma camada existencial após outra. E tudo deforma e corrompe.
estudo de figura para a base de uma crucificação
Sua pintura trata do sub-humano, do demoníaco. Faz um desvendamento
brutal da verdade. Liga-se à Velazquez, a quem idolatrava. Também Picasso. Numa
série de 6 quadros, analisa o retrato do papa Inocêncio X, pintado por
Velazquez. Pinta inúmeras vezes, obsessivamente. Elimina todos os ornamentos e
aprisiona o papa dentro de um ringue de box, imagem que vai ser recorrente em
sua obra. Deforma a figura, retorce sem piedade. Desfigura, transforma o que
era forte em fraco, o que era severo em maligno, diz Argan, historiador de
Arte. Talvez desvendasse o verdadeiro papa, mas não todo e completamente. É
como se dissesse “vou parar por aqui, mas poderia ir além”. Argan diz que ele
ao invés de espiritualizar o quadro de Velazquez, o corrompe. E Bacon diz “o
divino de nossa época é o infame”. Então desfaz a figura diante do espectador boquiaberto.
Francis Bacon volta à figura tradicional, mas só para
desvalorizá-la explicitamente. Com brutalidade. Faz a figura e a desfigura. O “sublime”,
com ele, ganha o seu velho significado romântico de místico e satânico. Assim rebela-se
contra a moral vitoriana que só dá valor a critérios sociais. Faz a figura, em
seguida a degrada. Às vezes passa um pano sobre a pintura fresca, acelerando o
tempo na tela, o tempo da degradação.
Não se pode dizer que ele pertence ao movimento pró-
figurativismo que começava a surgir em oposição ao abstracionismo. Ele continua
com o desaparecimento da figura. Ele a dissolve dramaticamente.
Não é difícil constatar que Bacon está em todo o lugar
neste mundo contemporâneo. Basta ligar a tv e ver desabrocharrem flores de náusea dentro de nossas casas. Ele diz “quem pode concorrer com as notícias de tv?”.Sim, ele está sim, em todo o lugar: no Brasil e no mundo. Está palpitando sob
aparências comportadas.
Angela Weingärtner Becker
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