Paolo Ucello, A Batalha de San Romano, 1435


Madona-Rafael de Sanzio, 1498


COR como regozijo dos sentidos

LINHA como conceito (razão)
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Até hoje estas duas tendências aparecem bem nítidas nas artes em geral. E isso vem de longe, lá dos venezianos e florentinos, desde o Renascimento.
A capacidade dos venezianos fazerem as relações da pintura pela cor e os florentinos pelo desenho é algo muito interessante.
Tradicionalmente se atribui à cor, o SENSÍVEL e à linha, a RAZÃO.
Florença está mais próxima à forma geométrica, à linha. Veneza à cor.
Quem já foi à Veneza sabe que sua luz envolve, vibra, desfaz os contornos É palpável esta sensação. São as as águas que a rodeiam que compõem esta atmosfera iluminada. E que por desmanchar os contornos das coisas, unem tudo. A COR prevalece.
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Na tradição florentina, a LINHA conduz a composição, com figuras bem delineadas e economia formal. O princípio organizador é a simetria, o equilíbrio. Há um privilégio do contorno.
Veja-se Paolo Ucello, uma grande preocupação com a perspectiva. Em Rafael há muita cor mas evidentemente é muito esquemático. Há nele uma ânsia de simetria, as vezes quase uma “dobradiça” já que faz os dois lados da tela onde um lado é igual ao outro.
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Em Veneza temos o mar, a luz irradiada, a atmosfera que funde tudo em névoa. Em Florença temos a proximidade com Roma e aí a esta com a antiguidade greco-romana, o que torna a pintura mais universalizante, próxima ao desenho.
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O historiador de Arte Vasari defende que a a arte florentina como “a arte” oriunda do desenho. O desenho é quase um conceito, um juízo da percepção.”DISEGNO” em italiano é desenho e desígnio(projeto). O traço é privilegiado, a natureza não tem linhas.
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A concepção de cor dos florentinos, distingue-se da concepção de cor dos venezianos. Eqto Florença se preocupa com a construção, Veneza se preocupa com a atmosfera "suculenta". A aproximação de Veneza com Constantinopla vai produzir uma cor dourada (vide fundo da pintura bizantina) o que em Florença não se deu.
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Em Veneza temos o culto dos sentidos, regozijo dos sentidos. Em Florença, sendo mais protestante, mais calvinista, tende para o rigor da delimitação.
Veneza é um entreposto em que há uma diversidade nas pessoas de várias nacionalidades onde esta presença fulgurava em variedades. Veneza tendo em baixo o mar e em cima o céu fica entre duas luzes que retirava dos corpos sua solidez. Algo do reflexo e da difusão da água coloca em cheque as linhas, a geometria.
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(Notas de aula com prof. Rodrigo Naves)