São Domingos adorando a Crucificação, 1441
por FRA ANGÉLICO (1395-1455)
Convento de São Marco, Florença, Itália. 340 x 206 cm
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Argan diz em seu livro Clássico Anticlássico que o rosto de São Domingos aqui corresponde à condição da alma: sobrancelhas franzidas, mandíbula cerrada, olhar atento, ao mesmo tempo que os lábios mostram “uma palpitação férvida, uma dilatação das narinas. Um frêmito das mãos que roçam a madeira ensanguentada”. Assim seria o espelho da verdadeira penitência.
Tão diferente do Fra Angélico angelical espiritualizado que conhecemos, com cores pastéis, tênues e aéreas muito presentes na sua obra “Anunciação”. Aquele do mito, que cantava hinos enquanto pintava. Aquele que chorava antes de começar a pintar.
Aqui há uma massa plástica densa, um peso material, uma certeza compacta, uma corporalidade de coisas verdadeiras. Enquanto outras obras de Fra Angélico parecem ter caído do céu, esta aqui parece ter brotado da terra.
Vê-se que Fra Angélico se deixava trespassar pelo tema que ía executar : ora inefável, com louvores aos céus, ora mediando o agudo da luta e sofrimento do mundano.