Gauguin  (Paris, 1848 – Ilhas Marquesas, 1903)


“Vou para o Taiti onde as necessidades materiais da vida podem ser satisfeitas sem dinheiro...Quando na Europa homens e mulheres só sobrevivem depois de um trabalho crescente durante o qual se debatem em convulsões de frio e fome, presas da miséria, os taitianos, ao contrário, felizes habitantes do Paraiso desconhecido da Oceania, só conhecem a doçura da vida”.

 Assim diz, assim faz Eugène-Henri-Paul Gauguin depois de abandonar a esposa dinamarquesa com cinco filhos pequenos.
Este é mais um daqueles artistas marcados para sofrer. Como van Gogh, como Modigliani, comoToulouse-Lautrec.

Gauguin nasce em Paris e em seguida sua família atravessa o Atlântico rumo a Lima, Peru. Nessa viagem, morre seu pai. Assim, o futuro pintor desembarca apenas com sua mãe e irmã. Volta a Paris com 7 anos e é adotado pelo tio. Com 17, ingressa na marinha mercante e corre o mundo. Tenta trabalhar na abertura do canal do Panamá. Sangra as mãos e foge para a ilha Martinica. Volta a Paris e vai trabalhar  na bolsa de valores. Em1873 casa com Mette Sophie Gad.

 Aos 35 anos, após a quebra da Bolsa de Paris, toma a decisão de dedicar-se totalmente à pintura.Mergulha na vida errante e promíscua de Paris. Joga fora tudo o que juntou. Num leilão, desfaz-se de sua coleção de obras impressionistas. Passa problemas econômicos. Vai então para Copenhagen, casa do sogro, onde acaba ocorrendo o rompimento de seu casamento.


Paris é devassidão. Deseja um lugar incivilizado, puro, primitivo. Vai para o interior, a Bretanha, que parece viver na idade média e ainda tem mitos, valores simbólicos e morais. Lá há uma igreja com um cristo pintado de amarelo. As mulheres se vestem como freiras. Ele não quer mais a modernidade. O espírito do romantismo mora nele: o artista é aquele que é contra tudo e todos. Ser artista é ter solidão, abandono, é ser underground. É ter uma missão. Na Bretanha encontra van Gogh que lhe pintara 11 quadros de girassóis para decorar o quarto do amigo esperado. Numa acalorada discussão, corta uma orelha.


Gauguin vai para o Taiti. Havia combinado com seu amigo Émile Bernard com quem tinha muita afinidade artística que iriam para um mundo fértil, incontaminado, um mundo que ainda tinha a pureza que a velha Europa já não podia mais oferecer.Seu amigo falta no último minuto. Ele vai sozinho.


Gauguin encontra o paraíso no Taiti, entre o povo maori.O mundo mítico que esperava:os nativos escrevem a história em seus corpos tatuados. Gauguin pinta com cores intensas, sem ponto de fuga. A perspectiva é dada pelas cores.O olho quer a perspectiva, mas Gauguin nos dá cores, em troca. Longas e planas manchas de cores. Mundo tropical, a manga, é símbolo que substitui a maçã bíblica. Máscaras polinésicas. Deusas e deuses do Taiti.
Mas ninguém se despe de sua cultura: a França está no seu coração. Ele mistura toda a simbologia grega, cristã, mas principalmente egípcia. Vai até o início da civilzação. Seu caminho é largo e comprido.


 Sua caligrafia é a cor, pura de preferência, e delineada pelo preto. Manchas, sem meios tons. “Chega ao grau zero da cor e da forma”, diz Renato Brolezzi. O simbolismo, a imagem evocativa, a quietude, o sem-movimento. Toda a tradição está no espírito deste homem.

Volta a Paris para receber uma herança. E fica lá por dois anos. Inquietação. Já não sabe viver o tempo industrializado, precisa do tempo mítico, primevo, onde tudo tem significado: o anzol preso no maxilar inferior esquerdo do atum lhe conta da traição de sua mulher de doze anos. (Pedofilia para o mundo ocidental-nada mais errado!- lá nas terras e águas do Taiti,  normal).


Volta a esta terra exótica e “inculta” que lhe dá toda a bagagem que precisa para sua maneira nova de pintar.
Em 1901 vai às ilhas Marquesas, bem próximas do Taiti. Tenta se suicidar com arsênico, mas como tomou dose excessiva,vomita a maior parte do veneno. Agoniza por dias e morre lentamente.

Gauguin deixa uma arte que tem mais a ver com vitrais e tapeçarias do que com tinta a óleo. Logo Matisse vai se apaixonar por sua obra. E os nabis vão se inspirar neste éden de Gauguin.

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