Edouard Manet introduz o Impressionismo
Manet, por Nadar, em 1867.
Em 1839, a fotografia é
patenteada por Daguerre. É o primeiro mecanismo da revolução industrial que
consegue fazer uma imagem. Os impressionistas eram fãs da fotografia (nem
todos). Ela captava o momento e o movimento do impressionismo fazia a mesma
coisa: captava a luz em determinado instante. Tudo a ver, uma coisa com a outra.
No século XIX, não existiam as Ciências Sociais, mas os
artistas captavam as suas contradições, não como sociologia, mas na condição de
artistas. Manet é um destes artistas que capta a contemporaneidade em suas
mulheres de carne e osso (não derivadas do mármore como fazia seu inspirador,
Boucher).Ao mesmo tempo vulgares e apresentando uma beleza nova. Em Boucher é
uma alegoria, uma deusa, uma ideia. Em Manet a mulher é uma parisiense não-eterna.
Nos novos tempos vive-se a impossibilidade da eternidade. Tudo segue o
utilitarismo (pra que serve?) e ao final, “quanto lucro dá”. Uma árvore é uma
matéria-prima. O relógio contabiliza o tempo, diz o professor Brolezzi em sua
aula do MASP, na qual este texto é baseado..
O Bebedor de Absinto
Sua pintura é uma síntese plástica nova. Manet conhece a
tradição e quer romper com ela. Ele não faz esse rompimento com ignorância, o
faz com genialidade. Evidentemente que ninguém escapa aos valores da era
industrial. Todos são burgueses. (Manet era da alta burguesia, frequentava a
sociedade elegante, viajava, tinha amigos poetas- Baudelaire, Mallarmé). O
artista, porém, percebe esta situação que tudo molda. E percebe onde ela desembocará,
muitas vezes sob forma, de especialização. Nossa casa é especializada, tem
cozinha para preparar a alimentação, banheiro para a higiene, etc. A rotina do
compartimentalizado se impõe. Mesmo inserido nesta sociedade, o artista será
seu crítico e visto como “maldito”. Manet pinta o homem burguês, aquele que não
lê Homero, que lê jornal. O eterno é trocado pelo instante. Manet pinta o ser
anônimo “O bebedor de Absinto”. Absinto esse, que como a sífilis, é uma epidemia
na época.
Almoço na relva
Em 1863, pinta o “Almoço na Relva” e expõe no Salão dos
Recusados, registrando muito mais público do que no salão oficial. A obra
apresenta figuras vestidas com figuras nuas fazendo um piquenique. A mulher nua
olha diretamente o observador. E não é Diana, a caçadora. Não está “protegida”
pela mitologia, não é uma ideia. Aqui ele lança as premissas do Impressionismo.
Há uma unidade da sensação visual, figura e fundo. A luz não incide como um
raio (Caravaggio) sobre as figuras, iluminando partes e deixando outras na
sombra. É uma pintura de manchas coloridas, sem contornos descritivos. O
público e a crítica não entendem a ausência de chiaroscuro, sempre presentes nas poéticas românticas. Tudo é visto
com o ambiente. Tudo se resolve na
superfície do quadro. Manet é um revolucionário. Faz isso 11 anos antes da
famosa exposição dos Impressionistas no atelier do fotógrafo Nadar. Ali, embora
inspirado na tradição (Ticiano, Goya, Velasquez, Frans Hals, Boucher) ele
liberta a percepção dos convencionalismos. É um homem de seu próprio tempo como
diz Argan.
Almoço na Relva
Em 1865 pinta “Olympia” (uma prostituta) com a mão espalmada
sobre o sexo. Sinal de que estava
“limpa” de sífilis e com os papéis em dia com a prefeitura que legaliza e
controla a prostituição. Manet apresenta a obra no salão oficial e é aceita. Os
tempos são outros.
Manet, diz Brolezzi, é o último dos antigos e o primeiro dos
pintores modernos. Ele chega à soleira do Impressionismo e será venerado por
seus seguidores.
Angela
Weingärtner Becker
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