O
Rinoceronte de Dürer- a arte prevalece sobre a realidade
As novas tecnologias renascentistas
em navios foram se encontrar com as novas tecnologias da imprensa no rinoceronte
de Dürer.
Por volta do século XV,
os otomanos dominavam o Mediterrâneo, obrigando Espanha e Portugal a descobrir
uma nova rota de comércio para o Oriente. Foi seguindo a costa da África, no
Oceano Atlântico, que isto aconteceu. O Atlântico era difícil e perigoso. A
costa da África, interminável. Mas este era o caminho alternativo possível: dobrar
o Cabo da Boa Esperança e alcançar o Oriente. Foi por esta via que nosso rinoceronte
viajou.
Afonso de Albuquerque o
enviou, em 1514, por um navio que passava por ali. Albuquerque havia feito
negociações onde presentes diplomáticos tinham sido trocados. No pacote estava
um rinoceronte vivo, de uma tonelada e meia.
O animal viajou junto
com seu tratador indiano, Osem, e muito arroz como ração. Assim viajaram por
quase quatro meses, os coitados. A embarcação chegou a Lisboa recebida por uma
multidão sedenta de novidades exóticas. A surpresa de ver um bicho daquele
porte, e vivo, foi notícia espalhada por toda a Europa.
O rei de Portugal, D.
Manuel I, resolveu bajular o papa LeãoX, pois precisava de seu apoio. Enviou o
rinoceronte a Roma, como presente. O rei tinha certeza de que o papa cairia de
amores pelo bicho assim como já havia feito anteriormente com um elefante
branco, também vindo da Índia. Lá se foi o nosso rinoceronte devidamente
acorrentado no navio. Mas nunca chegou. Na costa da Itália uma tempestade
afundou o navio com rinoceronte e tudo.
O animal não foi
esquecido, porém. Poemas, relatos, esboços e descrições inundaram a Europa que
desde o Império Romano não mais tinha visto um exemplar.
Uma esquete do bicho
veio a cair nas mãos de Albrecht Dürer, em Nuremberg, Alemanha. Ele jamais vira
um, cara à cara, mas pelo esboço e por uma descrição fez sua xilogravura em
detalhes. Detalhes que nem existiam. Desenhou o bicho com escamas, placas
blindadas, pele enrugada pernas que terminavam em dedos largos, barba e um
chifre extra na nuca. Morto o original, o desenho ganhou a Europa. Foi
reproduzido em massa em Nuremberg, sede de editoras e gráficas, onde o próprio
Dürer era tipógrafo.
Entre 4 a 5 mil cópias
foram vendidas durante a vida do artista e milhões, até hoje. O rinoceronte,
imaginado por Dürer, apareceu em livros de História Natural, em esculturas, em
pinturas, em gárgulas, enfim. No século XVII o mundo inteiro tinha cópias.
Mesmo depois de aparecerem desenhos mais realistas, a imagem feita por Dürer
prevaleceu.
Até hoje temos em
camisetas, chaveiros, ímãs de geladeira e miniaturas para presente esta famosa
imagem.
Depois da morte do
rinoceronte indiano,passaram-se mais de sessenta anos até que a Europa pudesse
ver de novo um exemplar vivo.
Angela
Weingärtner Becker