Henri Matisse (1869-1954)



Confesso que ao percorrer o Hermitage, bem no fundo de mim pairava um desejo especial, quase como o impulso propulsor da visita. Tratava-se de ver o icônico quadro de Matisse: “A Dança” (1909), feito especialmente para Sergei Shchukim.  É a mais famosa obra (e também a de maiores proporções) que, junto com “A Música” foram feitas especialmente para decorar sua mansão-palácio. Este mesmo colecionador de arte comprou 258 famosas pinturas que incluem Picasso, Monet, Renoir, Cézanne,van Gogh, só pra citar alguns. Foi a maior coleção particular de arte moderna antes do MOMA de NY, como disse o professor de História da Arte, Renato Brolezzi. Com a revolução de 1917, o governo apropria-se da sua coleção.

A Dança
Também no Hermitage encontrei -entre muitos Matisses- o famoso “A Conversação” onde um casal conversa, estáticos como numa pintura bizantina, tendo entre eles uma janela-surpresa que se abre dentro do azul parado.Na falta de anatomia e silêncio do casal, uma iluminada janela. Não há conflito, em Matisse nunca há conflito. Há verossimilhança e equilíbrio absolutos.

A conversação

Matisse nasce de uma família modesta, entra no curso de direito na Sorbonne, e perde-se num mundo mercantilista até que uma crise de apendicite (mergulhei na crise absoluta, diz) funciona como uma revelação e lhe abre caminho para pintura. Abandona o curso e toma aulas de desenho. “Quando comecei a pintar, senti-me transportado ao paraíso” diz ele, embora a arte lhe imponha solidão, sacrifício e até uma certa dose de heroísmo.

      Entra para a academia de Belas Artes onde conhece o pintor simbolista Gustave Moreau, de uma sensibilidade bastante aflorada, que retratava sempre a femme fatale, o poder feminino que pode destruir o homem, temática simbolista.

É o fin-de-siècle, é Paris.

Estúdio Vermelho

Matisse vai comprar obsessivamente, tapetes orientais, viaja ao

 norte da África, ao deserto. Esta experiência vai fasciná-lo.

Em 1896 casa e tem dois filhos. Amélie Parayre, trabalha para

 manter as crianças e o próprio Matisse. É esposa e provedora.

      Como a maioria dos pintores, Matisse também vai até a

 Provence, atrás da luz. Lá encontra Signac e Seurat, pontilhistas,

 que dão um caráter científico à cor. Pela cor, Matisse vai dar

 suntuosidade a cada quadro seu. “A cor tem um valor expressivo

 em si mesmo”. É como se dissesse que quando pinta um verde,

 não significa grama, mas “o verde”. Ele pinta “o azul”, não pinta
 o céu.
Odalisca

Matisse faz uma arte em que busca a voluptuosidade da cor. Não

 há perspectiva, há cor. Tudo é plano e de uma harmonia cromática

 “de poltrona confortável”. Ele mesmo disse “eu sonho com a arte

 da serenidade, algo como uma boa poltrona em que se descansar”.

 De fato, a tapeçaria, as tramas, as cores brilhantes, os estampados

 fazem o mundo de Matisse. É preciso ter um olhar primitivo e algo

 oriental para apreciar Matisse.

 nu azul


      No final da vida, já doente, ele, com a motricidade fina

 prejudicada, recorta.”Agora me restou pensar a cor como objeto”.

 Ele recortava e colava a cor.

Matisse e Picasso fazem a dupla dos maiores pintores do século

 XX. “Mademoiselles D’Avignon” de Picasso e “A Dança”de

Matisse, são os dois grandes quadros modernos.

Angela Weingärtner Becker

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