Gustav Klimt—1862-1918
Gustav Klimt

Estar em Viena, justo no ano em que são festejados os 150 anos de nascimento do pintor austríaco Gustav Klimt, foi para mim um esplendoroso acontecimento. Pude ver grande parte de sua obra, tanto no Museu Belvedere, no Leopold Museum e no Museu de História da Arte. E -o que me agradou muitíssimo- sempre havia a comparação da obra de Klimt com a de Egon Schiele, meu pintor preferido.
Precoce, desde os 14 anos, quando ingressou na Escola de Artes Decorativas, logo foi reconhecido como talentoso.
Destacou-se dentro do movimento Art Nouveau austríaco, aliás foi seu expoente. Fez muitos afrescos em instituições importantes. Destes -Filosofia, Medicina e Jurisprudência- destinados ao auditório de uma universidade, causaram escândalos por serem considerados "perigosamente radicais", pornográficos e perversos. Corriam os anos de 1900 a1907. Em maio de 1945 todas as três pinturas foram destruídas pela SS nazista.

Emily e Klimt

Pude ver os murais, a pintura dos cantos e dos intercolúnios (espaços de pintura entre colunas) do Museu de História da Arte. Com as mulheres ali representadas fiquei pasma ao ver como estão perfeitamente bem inseridas naquele prédio barroco! Evocam o clássico, o bizantino,  mas são modernas, ao mesmo tempo.Que mágica, este homem fez!
Klimt foi generoso em vida. Sustentava seus parentes, atendia a família, mãe e irmã. Ajudou dois irmãos que também trabalhavam em arte. Teve várias mulheres (elas estavam disponíveis a ele em sua porta do atelier, conforme explicou a guia). Teve também vários filhos -14 filhos- dos quais só reconheceu oficialmente 3 deles. Adorava gatos e chegou a ter 22 felinos que, com certeza, inspiraram a elegância de suas figuras.O garbo, o mistério felino está presente no tema principal a que se dedicou: as mulheres.

Sua reputação de pintor de excelência virou moda na Áustria e era  requisitado em abundância pelas mulheres, para serem retratadas. A alta sociedade queria ser imortalizada pelas suas mãos. Com Emily Flöge teve interessante relação. Em seu atelier, em meio a  mulheres desnudas, ele, sempre vestido com uma bata até os pés, fazia uma figura dândi, moda da época.



Aliás, época de Freud, que muito influenciou sua pintura com a teoria do incosciente, do amor, dos sonhos, da morte. Sua pintura mostrava o erótico, a sexualidade, a morte.  Cheio de simbolismos, ele mesclava Grécia antiga com vestuário contemporâneo.O vestuário ganhava tratamento com muita ornamentação enquanto o rosto clássico permitia a identificação da retratada.O exotismo lhe dava um toque universal de tempo e espaço.A época descobria a beleza oriental.

 Mas, claro, Klimt tinha críticos e rejeição. Por usar espaços imensos de vazio, por usar muito dourado, por ser incompreensível em suas alegorias, por ser banal, inclusive, foi acusado.


O que sei é que diante de “O beijo” ou “Der Kuss”  (1907/1908), auge de seu período dourado, precisamos parar e contemplar. É de uma beleza rara, dourada, extasiante. Homem e mulher formam uma única massa, ele com ornamentos retangulares nas vestes e ela de flores vestida.Os dois sobre um ninho de flores miúdas e cintilantes. Reflexos dourados, bizantinos. Erotismo e dor, difícil distinguir um do outro. Eros e Tânatos. A obra hipnotiza. É necessária uma firme determinação interna para sair de sua frente porque parece que o lugar pra se ser feliz é ali.
“O beijo” é uma das mais populares e reproduzidas obras de arte no mundo. 
        Angela Weingärtner Becker





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