Museu Hermitage
É um símbolo russo. Eu diria mais: é um símbolo da Humanidade, já que tem a característica de agregar as mais diversas tradições, ocidental e oriental. Estar dentro do museu Hermitage é estar numa mostra universal de Arte.
O museu parece um formigueiro de pessoas. Rostos que mostram todas as nacionalidades, filas e filas de excursões, estudantes, gente avulsa, em família ou a sós, aguardam para entrar no complexo de cinco construções que constituem, no centro da cidade de São Petersburgo, às margens do Rio Neva, o museu. Palácio de Inverno, Pequeno Hermitage, Novo Hermitage,Velho Hermitage e o Teatro.
Tudo lá lembra Versailles. A fachada com o “barroco escandaloso”, assim disse a guia ser conhecido o gosto fulgurante de Catarina II. A riqueza em mármores, cristais, tapeçarias, pedras preciosas se misturam em estilos: barroco, rococó, neoclássico. Os melhores arquitetos e artesãos da Itália, Holanda, da Europa enfim (onde havia alguém com talento) eram trazidos para fazer os espelhos, as escadarias, as armas, os frizos, os lustres, a marchetaria, azulejaria, porcelanas, pilastras, balaustradas.
Luxo é pouco, eu pensava. Já estava à beira da síndrome de Stendhal (conta a lenda que ele se sentira mal, em Florença, por excesso de beleza) e no meu caso, ainda nem tinha visto a coleção. Precisava era respirar fundo, passo firme, ir adiante.
A fundadora do museu é Catarina II, o ano é 1764. Um rico comerciante (Gotzkowski) propõe à imperatriz saldar suas dívidas de impostos com 225 obras, em sua maior parte de pintores holandeses, alemães e flamengos do século XVII. Por aqui entram vários Rembrant, Mengs, Rubens, Van Dick (tendo hoje, ao todo, mais de 500 quadros da belíssima arte flamenga).
Depois desse início, Catarina não parou mais. Comprava coleção atrás de coleção, era generosa, pagava bem, e tinha bons contatos que a informavam sobre coleções a comprar. E vão chegando obras de qualidade da Itália, da França, da Inglaterra, da Espanha.
Ao final do século XVIII o museu já era um dos maiores da Europa. Em 1852 Nicolás I constrói o Novo Hermitage e assim completa a série de 5 edifícios que compreendem o que chamamos simplesmente de “o Hermitage” (que quer dizer hermético, fechado, reservado, pois ali ficava, com seus íntimos, a dona do palácio).
Era a primeira vez que se abria ao povo um museu russo.
As obras de arte foram retiradas do Hermitage durante a primeira e segunda guerra mundial e na instauração do poder soviético, em 1918.
A abertura de todas as salas só foi possível em1923 e sob grandes festejos da cidade. Neste ano, foram nacionalizadas todas as coleções particulares de que o governo comunista era ciente. Nem tudo foi acréscimo, porém. Uma boa parte de importantes obras foi vendida ao estrangeiro (Stalin vendeu secretamente obras impressionistas aos americanos, para comprar tratores).
O tocador de Alaúde-Caravaggio
O período da segunda guerra afetou grandemente o museu que, praticamente nas vésperas do Cerco de Leningrado, escondeu na cordilheira dos montes Urais, a parte mais valiosa das obras. Mas o museu não parou. Os professores levavam os alunos diante das paredes vazias e ensinavam arte como se o quadro lá estivesse. Que sutileza de comportamento! Resistiram ao Cerco com garra e quase elegância, como se elegância coubesse naqueles 900 dias de horror dramático. (Recomendo o filme “Leningrado” direção de Aleksandr Buravsky,2009.
A Virgem e o Menino (Madonna Litta) Leonardo da Vinci
Terminado o cerco, já o museu torna a renascer e em 1946 se pode ver as obras nos seus devidos lugares e perfeitamente restauradas.
Dois anos mais tarde foram transferidas ao museu 298 obras de impressionistas, pós-impressionistas, que estavam espalhadas por vários lugares da Rússia.
O retorno do Filho Pródigo-Rembrant
No período dos anos 90, com a perestroika ele se torna um museu exemplar, centro científico e cultural nacional e multifuncional onde acontecem eventos, tanto de arte, como científicos e culturais.
A bebedora de absinto-Picasso
Falar do Hermitage é tarefa inglória. Por mais que se explique, sempre é insuficiente, frustrante. Sempre é pouco, escasso e incompleto. É preciso ir lá, percorrer suas quase quinhentas salas abarrotadas de Velazquez, Dürer, Goya, Watteau, Hals, Murillo, Caravaggio, Canova, Leonardo da Vinci, Michelângelo etc. Sem falar nas várias salas de Picasso, de Gauguin, Renoir, Kandinski, Cezanne, Matisse.... e sair de lá sentindo que alguma coisa ultrapassou os limites do humano.Talvez um sentimento parecido de quem chega ao pico do Everest.