Pietro de Cortona-O Triunfo da Divina Providência-1633-1639 Roma

O Barroco inventa a modernidade

O barroco exerce (pelo menos em mim) o fascínio da liberdade. Acredita-se que a modernidade tenha surgido do barroco, como produto da cultura, “arte filha da arte”, onde o imaginário do homem dentro de um sentido de irracionalidade (não seguindo mais rigosamente os cânones clássicos) foi transformada em estética. Já não contava a natureza nem a história como cópia fiel e sim o colorido infinito de tons existências, como fala o hitoriador Argan.
Roma foi o seu ponto de referência. O barroco era urbano por excelência. E aí, está outro aspecto de modernidade, bem como do nascimento do mercado, da propaganda que teve na gravura seu meio de difusão- inclusive nas Américas.
O barroco nasceu religioso (a Igreja católica revalorizou as imagens que a Reforma destronara, disseminou uma nova iconografia sacra com objetivo de devoção em massa e fim último de salvação) e muitas vezes foi considerado “devoto demais” mas extrapolou e se fez laico e político no século XVII e XVIII. Seus representantes eram Michelângelo, Caravaggio, os irmãos Carracci, Bernini, Borrromini, Guido Reni, Poussin, Velazquez, Zurbarán, só para citar alguns, pois a lista é interminável.
O sentimento em vez do raciocínio, a magia em vez da lógica numa concepção distinta, até então, da cultura .Há uma transposição da atividade artística da esfera do intelecto para a esfera da imaginação. A figura, não tendo mais esta ligação com a verdade copiada tal e qual é, passa para o verossímel, e assim é comunicada. Amplia-se sua gama de apresentações, ganha asas, comunica a possibilidade. E isto é modernidade. A figura age na esfera da ação moral e não intelectual(quando a técnica a antecede)o que valia era o apelo aos sentidos. A camisa de força do puramente mental é rompida e agora opera associações, escolhas, ganha autonomia- mas claro sem escapar da sua função útil sacra ou profana, já mencionada. A causa dos afetos é o belo e o belo não mais procede da natureza mas da prória arte “nada é belo em si, mas a beleza pode ser eleita pelo juízo da alma”e persuadem não tanto mais pelo que dizem , mas pelo modo que operam” diz o historiador Argan em seu belo livro Imagem e Persuasão.
“Nas coleções de príncipes e cardeais, os quadros são alinhados na parede, prontos para a consulta” há uma espécie de conversão textual da obra figurativa. Agora é o observador que interpreta e não mais o autor que por autoridade do mental diz o que o outro deve sentir. E isso também é muito, muito moderno.

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