A colunata da Praça de São Pedro

Gian Lorenzo Bernini-colunata da Praça de São Pedro

Sabemos que o Barroco veio como aparelhamento ideológico da Igreja Católica em função da Reforma de Lutero. A Igreja desejava a propagação da fé, e que esta fosse “em massa”.
O Papa Sisto V programou a reforma urbanística de Roma, já como alegoria deste espírito. “Alegoria” que falo, é a transposição do conceito(abstrato) ao plano material, da imagem mesmo, de forma que, no caso, a Arquitetura passe a ser um produtor de valores.
A colunata do Vaticano, idealizada e construída por Bernini, na Praça de São Pedro, representa a Igreja Católica abraçando seus fiéis. Há um valor ideológico na concepção do espaço.



Então, como diz Giulio Argan (onde sempre busco referências) “entrar naquele espaço (abraçado pela colunata) é entrar no conceito. Há um convite para entrar e integrar-se”.
A coluna em si é um elemeneto plástico, um suporte mas é também um símbolo de força, porque tem a finalidade de sustentar. Na Praça de São Pedro ela é usada como expressão visível e monumental da força do processo persuasivo católico.
O espaço natural diante da Igreja de São Pedro dá lugar a um espaço artificial, com uma razão bem clara: a crise religiosa da Contra-Reforma que deveria ser vencida por todos os meios, incluindo a Arquitetura. A fé, levada ao nível de massa, seria uma defesa eficiente contra a “heresia” protestante.
Não é para menos que o século XVII será “o século da imagem”, isto é, da propaganda. É de todos os modos que a Igreja Católica passa a preparar-se para sua contra-ofensiva.

É neste estado de espírito que Bernini desenvolve a espacialidade aberta da Colunata da Praça, em forma elíptica, como se fossem braços de um corpo (o da Igreja Católica) onde a cúpula de Michelângelo é a cabeça. A igreja católica abraça seus filhos, reunindo-os num amplexo. Pronto! O Conceito está transmitido magnificamente, em forma plástica- que convida a entrar (é aberta)numa alegoria de universalidade que a Igreja almeja, em tempos de Contra-reforma. Já não é um conceito abstrato, mas um rito de ingresso num espaço sagrado.
Se Bernini “que também foi um grande encenador de espetáculos” (Argan) pudesse ver as imagens que vemos na televisão a todo o momento, como ficaria satisfeito com o resultado monumental de sua colunata, encimada pelo céu físico, e encabeçada pela cúpula de Michelângelo! Tudo grandioso e teatral como deveria ser para funcionar dentro da ideologia que se propôs!
Angela Weingärtner Becker

Nenhum comentário: