Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875)

“Nem romântico, nem realista” assim começa Wendy Beckett a falar de Camille Corot. “ele achava que estas duas abordagens não precisavam necessariamente se opor”. Lirismo e verdade objetiva conviviam nele. E, penso, foi justamente esta simplicidade e naturalidade que encantou as pessoas. E assim é até hoje.

Viajou para Roma em três ocasiões (1825, 1834,1843). Pode-se dizer que é o mais italiano dos pintores franceses. Fez a “lição de casa” que todo o pintor fazia: viajar para Roma, o centro das Artes. Lá pintou ruínas e paisagens que muito influenciaram nas paisagens de sua terra natal. Foi ali que experimentou pela primeira vez pintar ao ar livre (plein air). E passou a dar muita importância aos esboços in situ. Aprendeu técnicas e desenvolveu um estilo de “sutis contrastes tonais” como diz Donald Reynolds. Uma personagem de Oscar Wilde descreve os “crepúsculos de prata” e “auroras rosadas” pintadas por Corot.Também Proust põe uma personagem a falar de Corot. Obras suas também serviram de pano de boca para balés russos. Ele foi popular e teve telas que muito se assemelhavam ao impressionismo, diz o mesmo historiador de arte.

Corot influenciou jovens pintores e os encorajou, principalmente aqueles que pintavam realisticamente. Como Constable, Camille Corot começou determinado a apenas representar a natureza e mais.nada além. Gostava da maneira clássica de pintar. Há um silêncio intenso e doce em suas paisagens, do agrado quase instantâneo de quem as olha. Há uma sensação de antiguidade e subliminarmente gostamos desta segurança. “Mas na verdade, diz Gombrich, ele capturou, mais do que detalhes, o conjunto, os tons gerais na luz radiante e na atmosfera”. Suas paisagens são rurais, idílicas. Era um passo para o impressionismo. Principalmente suas primeiras obras. Usava de figuras bíblicas e mitológicas, pois gregos e romanos são os pais da cultura francesa e o novo nada mais é do que um diálogo com a tradição.

A poética da paisagem, o onírico somado à solidez, foi o que lhe deu fama internacional. Ele fazia paisagens espirituais. Em qualquer museu que entramos, suas pinturas nos chamam com sons de farfalhar de folhagens rendadas. Poucos pintores tiveram a delicadeza dele na passagem de uma cor à outra. Mesmo que sua última fase apresenta um certo declínio em relação à inigualável magia de suas primeiras obras.Mas nunca perdeu a tranquilidade contemplativa, diz Wendy Beckett.

Corot considerava uma obra de arte, um pensamento de emoção. Ele não foi um intelectual. Era humilde, simples, e se definia como artesão. Filho de pais comerciantes, só aos 26 anos realmente se decidiu a ser pintor.Em 1817 recebe o Grand Prix du paysage historique. Ele conhecia como ninguém a harmonia das cores, dos matizes, das formas numa matemática invisível,de uma conversa harmoniosa das formas e cores entre si. Contrastes e passagens suaves que fazia, agradaram muito ao pintor francês, seu contemporâneo, Delacroix.

Jean-Baptiste Camille Corot era um homem bom. Tinha paciência para com os jovens e ajudou finaceiramente à viúva de Millet e ao pintor Daumier quando este ficou velho e cego. Também dizem que assinava telas aos menos afortunados do que ele.
Angela Weingärtner Becker


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