John Constable

               
John Constable (1776-18837)
John Constable-autorretrato

                           


Com biografia discreta, quase não viajou. E, como seu pai, próspero comerciante de grãos, nem a Londres lhe apetecia ir. Nasceu em Suffolk, Inglaterra, e sua arte derivou diretamente do solo natal. O pai, dono de moinhos e de um extenso vale, viveu intimamente com a natureza que depois derivaria em telas. Estava em plena época da Revolução Industrial, mas não foi afetado pelo trem a vapor, pela fumaça das fábricas, pelo frenesi do que estava “no ar”. Não era um homem da modernidade. Foi um pintor não-teórico, mesmo tendo estudado na Royal Academy de Londres.


A carroça de Feno

Constable pinta para a elite do país, sofisticada, sutil, discreta. “Todas as condições técnicas do impressionismo já estão em Constable” diz Renato Brolezzi, mas ele tem obsessão pela complexidade e não pinta como os impressionistas “está afinado com duas noções: o belo e o sublime”. (Os objetos belos devem ser pequenos, lisos, cores puras, luz suave e fundada no prazer. Já os sublimes possuem dimensões grandes, linhas retas, masculinas, ásperas, trevas, solidez fundada na dor.) No sublime, a tragédia grandiosa. No lirismo, a beleza, a miniatura, o feminino, o belo.

O historiador Donald Reynolds diz que as telas de Constable propõe a questão “para que olhar mais além?”. Ele quer ver o que está diante dos olhos, sem acrescentar nada, apreciando aquilo que o momento oferece."..mesmo assim Constable fala de recordação, porém não mais do que isso” (tipo reflexões morais, por exemplo).O olho vê um quadro de Constable como uma festa, porém também vê a alma que cada coisa tem.


Para Constable a tradição -no sentido de igualar, ultrapassar- não era importante. Ele queria pintar o que via. Queria tão somente a verdade, diz o historiador Gombrich. Ele detestava o que chamava de “bravura”(fazer algo além da verdade).O modelo, na época, era Claude Lorrain, que desenvolvera um esquema pelo qual praticamente qualquer um podia fazer uma obra relativamente agradável: uma árvore em primeiro plano e atrás, uma paisagem que se abria para uma vista longínqua. O esquema das cores também tinha uma elaboração fixa: no primeiro plano cores quentes que esfriava-se ao distanciar-se. Era uma “receita”, truques para pintar nuvens, troncos de árvores, enfim.

Constable saiu destas convenções embora não tenha sido audacioso. Fazia esboços direto na natureza e depois terminava no atelier. Diz Gombrich que estes esboços eram mais arrojados do que o trabalho terminado. Mesmo assim, ele causava grande atenção pela técnica perfeita. O quadro que o tornou famoso em Paris (para onde o enviou) foi uma cena rural “A Carroça de Feno” (1824). Nele podemos viajar, entrar, seguir o rio e ver as nuvens preparando-se para uma tempestade. Ali vemos um Constable que se submete à natureza, que não quer ir além, nem ficar aquém. Não há essa pretensão. Há uma honestidade presente sem projeção dos seus sentimentos .

A Catedral de Salisbury-MASP

O MASP possui uma belíssima obra de John Constable "A catedral de Salisbury".A catedral é um dos signos da Inglaterra anglicana, exemplo do gótico inglês. Ela está por detrás da paisagem, como uma surpresa que se descortina entre as árvores. Constable não está preocupado em fazer a apologia do gótico. A paisagem é de pincelada solta, com detalhes precisos. Entre claros e escuros faz a sinfonia do agradável.
Angela Weingärtner Becker



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