Ao entrar na Alte Nationalgalerie em Berlim, não havia curiosidade maior do que ver o grande, inigualável representante do estilo Romântico, Caspar David Friedrich.
Seus temas tão especiais, tão sublimes (na acepção de Edmund Burke- o sublime gerando o horror, paralizando a razão) que a nenhum outro pintor se poderia comparar.
E neste museu eu veria suas grandes obras, inclusive “.O Monge perto do Mar" e "Homem e Mulher contemplando a Lua”.
Seus temas tão especiais, tão sublimes (na acepção de Edmund Burke- o sublime gerando o horror, paralizando a razão) que a nenhum outro pintor se poderia comparar.
E neste museu eu veria suas grandes obras, inclusive “.O Monge perto do Mar" e "Homem e Mulher contemplando a Lua”.
Seu simbolismo e melancolia, sua luz escura e sinistra chamavam o meu lado obscuro e com ele dialogavam maravilhosamente, numa catarse facilitada. O espírito do Romantismo estava todo ali, e ali bem na minha frente, o seu maior representante.
Suas figuras -quase sempre de costas- induziam para que tomássemos o seu lugar. Assim, através de suas figuras, podia-se contemplar as manhãs nebulosas, as noites escuras, as tempestades aterradoras, as ruínas. Eu “vestia” suas figuras de costas e por isso sem rosto, pois o rosto identifica e individualiza. Meu olhar era o olhar da figura de Friedrich, numa subjetividade fina. Com figuras reduzidas à miniaturas diante da paisagem imensa, fatalmente nos levava ao infinito.
Friedrich nasceu na cidade de Greifswal, no mar báltico, em 1740. Perde sua mãe aos 7 anos e casa-se com Dorothea Bechly com quem tem 3 filhos. Estuda em Copenhagen onde tem aulas com mestres seguidores do movimento “Sturm und Drang” (Tempestade e Ímpeto) que propõe temáticas do folclore nórdico para uma pintura mais nacionalista. De lá, Caspar se instalou em Dresden, centro da música, da Arte e das letras românticas (onde Goethe também viveu). Foi conhecido como o homem que descobriu a tragédia da paisagem. Os expressionistas e surrealistas o descobrem nos anos 20, 30. Por ser interessante aos nazistas (dado ao aspecto nacionalista) perde a popularidade novamente até que nos anos 70 ganha nova valorização e uma importância internacional.
A identificação do homem com a natureza é um tema que permeia todas as suas obras. “São como momentos cristalizados” diz o historiador Donald Reynolds “há uma sutil manipulação da luz. Sua obra transmite uma coerente -ainda que alarmante-visão da vida expressa através da paisagem”
É o que vemos em Goethe, em “Os sofrimentos do Jovem Werther”. A natureza é indomável, assim como as paixões. O Romantismo é muito preso à literatura (Baudelaire, Byron, Schiller, mas sobretudo Goethe) Viviam a nostalgia do Paraíso Perdido. Valorizavam os estágios anteriores ao conhecimento, quando não havia a ruptura do homem com o cosmos (Idade Média). Aqui já se sente a ameaça da industrialização. Os artistas vão fugir para o mundo da imaginação, a originalidade mais do que o conhecimento é o que importa. Em oposição ao clássico que cumpria regras objetivas, aqui há o mergulho no “eu” com tudo o que tem de destruição. (veja-se a onda de suicídios na Europa com a leitura do livro de Goethe!) A própria obra estabelece suas regras “eu sinto, logo existo”.
O que importa é a projeção de sua vida íntima e esta não tem regras. É mística, selvagem, espontânea. Há um desregramento dos sentidos.
Caspar David Friedrich em “Nascer da lua sobre o mar” mostra um mar plácido com figuras ensimesmadas (sempre de costas) mirando o horizonte num contato íntimo com o universo. A moldura corta a paisagem (como nos demais quadros) deixando com que imaginemos o infinito. “Em Frade Capuchinho à beira mar” há uma solidão avassaladora, com um céu ameaçador e um opressor vazio existencial.O frade, sozinho e vertical, une os 3 elementos, mar, terra e céu, 3 linhas horizontais.Suas cores são deslocadas da realidade. O frade está só e inquire aos céus sobre as grandes questões humanas pelas quais se sente oprimido. Ele olha o vazio que está fora e que está dentro. Tudo isso numa alegoria psicológica do ser e de sua existência, num espanto do sublime. Conforme o filósofo Schelling a paisagem de Friedrich era um envoltório do tema. Ele apenas induzia a uma razão que o espectador deveria chegar. Alguns dizem que seria religiosa. Mas é difícil passar uma ideia religiosa sem esta ser explícita.
Caspar David Friedrich morre na pobreza e deprimido. Mas ele é uma experiência do sublime como nenhuma outra. Ele engrandece nossa existência.