Nicolas Poussin (1594-1665)


Nasce na Normandia e vai para Paris em 1612. Segue para Roma em 1624, destino obrigatório a todo artista, pois lá estava o centro de tudo. Ele detestava Paris. Para lá regressa somente em 1640-42, persuadido pelo próprio rei Luís XIII e o poderoso cardeal Richelieu.


Antes de ir para Roma, frequenta em Paris pequenos ateliês. Mas logo Roma exerce seu fascínio e ele vai sob a proteção do poeta Marino que o apresenta aos intelectuais Francisco Barberini e Cassiano dal Pozzo, este um patrono das Artes. Surge aí um caminho profícuo para o pintor que adota Roma como cidade amada.


Suas obras são cheias de mitos, signos, referências e menções. “É preciso perder tempo diante de seus quadros” diz o professor do MASP, Renato Brolezzi. A dedicação diante dele é que vai permitir com que possamos retirar o máximo de conclusões que não se dariam en passant. E, continua “a inteligência da obra de Arte não acontece solta, ela faz parte de um todo”.


Poussin pinta tanto temas pagãos como temas católicos (mesmo em plena Contra-Reforma).O MASP possui a obra “Himenaeus travestido durante um sacrifício a Príapo”.Tema grego por excelência. Príapo é filho de Vênus e Baco, a quem as jovens dançavam antes do casamento, pedindo fertilidade.


Dizem que Poussin, detalhista ao extremo, planejava em um tabuleiro, com figuras de cera, antes de começar o quadro. Perfeccionista, matemático. Tudo no quadro é parado, sem movimento algum, embora seja uma dança. Ele usa o modelo da estatuária, conta o professor Brolezzi, e os figurantes têm os rostos padronizados e os gestos coreografados. De si exigia o rigor absoluto mas ao mesmo tempo tinha uma luz clara e intensa. Era um artista da inteligência e da beleza com ordenamento racional, sem perder a sensibilidade. Não foge do equilíbrio nem perde o controle. Suas cenas de bacanais são orgias contidas dentro da moldura. Tudo está estruturado, tem permanência. E isto faz dele um artista pleno: intelectual com paixões na alma. Seu modelo é Ticiano e depois Rafael.


Seu quadro religioso, “A sagrada família” tem uma arquitetura matematicamente clássica, onde as figuras são distribuídas em triângulo, com precisão. Há, no entanto, uma luz caravaggesca iluminando uma faixa que atravessa o quadro. O primeiro plano, por sua vez, é cheio de símbolos.


Embora Poussin tenha feito sucesso tanto em Roma como diante das mais altas autoridades da França, ele teve vida sofrida com intrigas da corte francesa (quando retorna da Itália fica ali somente dois anos). Antes de ser famoso, em um duelo, mata um rapaz e vai a pé para Paris.


Poussin é admirado e seguido por futuros pintores franceses tais como Jacques–Louis David, Ingres e Cézanne. Este último admirou em Poussin a geometria, a razão, a harmonia formal. Nicolas Poussin, é até hoje na França, um mito nacional.

Angela Weingärtner Becker



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