O Rococó
 

Luis XIV 
 Ao longo do século XVIII o eixo da cultura se desloca da Itália para a França. Seu mais poderoso símbolo (imitado em todo o mundo, da Rússia ao Brasil) é o Palácio de Versalhes cuja “vasta e imponente massa é a afirmação em pedra de um sistema político” diz Stephen Jones, historiador de Arte.
Estamos na época dos Luíses.
 
                                                                                 Palácio de Versalhes
 
Luís XIV (l’état c’est moi) vai fazer da França a potência dominante no cenário europeu ocidental. Era invejado pelos outros monarcas. Embora todos estivessem ungidos pela divindade,o que inclusive lhes conferia poderes de cura (impor as mãos em enfermos, para curar!).
E a França estendeu seus braços para mais além da política. “A moda, as maneiras, toda a cultura elegante da vida das classes altas reflete o exemplo de Versalhes e de Paris” continua o historiador, “o francês tornou-se a língua internacional da sociedade culta. O lendário Rei Sol imprimiu uma imagem do futuro da Europa”. Normas rígidas de conduta social estavam sendo forjadas. Na pintura, tudo era leve, comedido, sem passagem brusca de uma cor à outra. Mostrar a visceralidade da morte, por exemplo, não faz parte do decoro do século XVIII. Toda a violência é narrada com cuidado, disfarçada, apenas insinuada. A pintura é feita “com leite e rosas” disse alguém.
 
Madame de Pompadour-François Boucher
 
O séc XVIII abre espaço para as qualidades femininas tanto nas artes como nas relações sociais e intelectuais. Mme Le Brun é uma grande pintora. Mme de Pompadour ("Depois de mim, o dilúvio”)-favorita de Luis XV- vai ser grande patrocinadora de artistas. François Boucher faz seu retrato num opulento jogo de sombra e luz. Jean-Honoré Fragonard, discípulo de Boucher, em sua obra “O Balanço” mostra a mais completa expressão do estilo rococó, diz Stephen Jones. Um fidalgo espia sob as saias da moça que ondula no balanço num embelezamento do sexo em sensualidade elegante que embalava também a própria (vazia) existência.
 
O Balanço-Jean-Honoré Fragonard
 
A oscilação, a tensão entre natureza e cultura, estava organizando o mundo desde os jardins às perucas e rostos empoados da corte. Era preciso dominar a natureza. Tudo o que era natural era visto como grotesco.
Muitos retratos são pintados tendo o retratado um livro em mãos, indicando a avidez intelectual da época. Um livro era artigo de luxo além de conter a cultura. O grego e o Latim eram a base da educação. Os preceptores educavam as crianças abastadas com o rigor da etiqueta (o pintor Chardin vai pintar muitas cenas de educação).
A jovem professora-Jean Siméon Chardin
 
O ócio é cultivado na corte e entre os abastados que, claro, não eram a maioria. Mas um pouco desta sensação de júbilo também está presente na sociedade. A moralidade tolerante emanava da corte para toda a França.
A revolução francesa chamará o Rococó de estilo “ancien Régime”. O nome deriva de rocaille, espécie de concha que no barroco italiano era usado apenas em exteriores e na França vai entrar para dentro das edificações e se tornará a fonte característica do estilo. Porém aqui já não são atormentadas como no barroco. Também entre eles há antiguidade, mitologia, mas sem atitude reverente. Delicadamente representam o prazer, a sensualidade. Penso sempre no feminino, quando penso no rococó.
Depois da Revolução Francesa, este estilo foi chamado de “frufru”.aludindo pejorativamente ao estilo que visava apenas deleitar uma sociedade cortesã ociosa em que a vida e a arte estavam fantasiosamente intrincadas. 


Antoine Watteau-A Dança Campestre
 
 A pincelada leve, as cores suaves, elementos rebuscados com guirlandas, querubins, nuvens fazem parte do vocabulário das artes da pintura, arquitetura, escultura, numa unidade conjugada. No final do reinado de Luiz XIV o formalismo dá lugar ao informalismo ficando a intriga, a desocupação o artificialismo, o tédio, a decadência mais no âmbito da corte. Esta atmosfera está registrada em alguns pintores, entre eles Antoine Watteau.
Recomento o filme indicado para melhor filme estrangeiro “Ridicule”, 1996, “Caindo no ridículo” (título em português) dirigido por Patrice Leconte, que vai fazer você entrar, neste mundo da corte francesa.
 
Angela Weingärtner Becker

Nenhum comentário: