Pierre Auguste Renoir
(1841-1919)
Filho de família simples, pai alfaiate e mãe modista, nasce em Limoges em 1841. Criança pequena
ainda, vai morar em Paris. Estuda em escola pública e é censurado porque
desenha o tempo todo (como a escola tem tradição em podar!). Aos 13 anos já
ganhava a vida numa fábrica de louças onde desenhava pequenos buquês de flores
sobre fundo branco. Cada peça tinha a marca “Sévres” no verso, e era exportada
para o oriente. Com isso acabou absorvendo a sensualidade, a doçura e a beleza
herdadas do Rococó. Era uma pessoa habilidosa em tudo: “Meu Deus, se eu tivesse
seguido metade das profissões sugeridas pelos outros!” disse certa vez
contando o episódio em que seu professor de música (nada mais nada menos que o famoso Charles Gounod) falara a seus pais para que seguisse a carreira de
cantor.
Na fábrica de porcelanas foi promovido a pintor de retratos. Às 10h, no intervalo do trabalho, corria ao Louvre onde copiava
quadros antigos. Esquecia-se ali e ao se dar conta, tinha de comer apressadamente
qualquer coisa e voltar logo ao trabalho.
Este foi seu começo.
Quando as
primeiras experiências de impressão em porcelana obtém sucesso, a loja
artesanal obriga-se a se industrializar e o “feito à mão” foi desvalorizado (preferia-se a uniformidade da máquina!).
Renoir passa a decorar leques com
cópias de Watteau, Boucher e outros mestres franceses do século XVIII. Depois foi
pintar cortinas em rolos, temas religiosos que os missionários levavam
à Africa como imitação de vitrais.
"Rosa e Azul"-Pierre Auguste Renoir, MASP
Renoir fez muitos retratos onde
explorava o que mais gostava: cores, textura e composição. Penso que um ponto alto de sua obra está no MASP, “Rosa e Azul” onde cria uma sinfonia de
cores, texturas luminosas, preciosidades que dificilmente alguém possa dizer
que não gosta. Puro deleite dos sentidos. Renoir é o pintor da beleza doce, das harmonias, da sensualidade.
Ele dava um tratamento francamente diferenciado à
roupa e à paisagem, em aplicações de camadas de tintas com acabamento
impressionista. Nos rostos, porém, era conservador, mantendo a definição dos contornos.
Sua fama de retratista crescia. É incrível como a luz emana de dentro de
suas personagens! Assim, tem uma estética moderna e ao mesmo tempo
conservadora. Seus temas eram flores, cenas de crianças, mulheres, paisagens ensolaradas e
o nu feminino. Era
tão simples que não gostava de ser chamado de ‘artista’ preferindo ser
chamado de pintor. “Eu sou como uma rolha jogada em um riacho e levada pela
correnteza. Quando pinto, eu apenas me deixo levar totalmente” dizia. Esta
fluidez é facilmente percebida em suas obras.
O famoso marchand Ambroise Vollard, um dos maiores da virada do século XX, faz entrevistas com Renoir onde capta tanto sua carreira artística como
tocantes fatos de sua vida particular. Em seu livro “Renoir, um retrato íntimo”
podemos conhecer bem o mestre que diz “Na Arte como na natureza, provavelmente o
que consideramos como novo é, no fundo, apenas uma continuação do que veio
antes”.
E sobre o Impressionismo: “O que chocava as pessoas era
principalmente o fato de não conseguirem encontrar nada nos nossos quadros que
lhes lembrasse o que se encontrava tradicionalmente nas galerias”.
O artista já era um homem maduro quando teve seus filhos
oficiais(teve dois com uma modelo cuja paternidade não
reconheceu). Jean Renoir, filho seu, foi considerado por Orson Welles e François Truffaut como um dos maiores cineastas franceses e que abriu as portas para a nouvelle vague.
Pierre Auguste Renoir adorava Camille Corot e nele inspirou-se. Conviveu com vários pintores do
movimento impressionista. Entre eles Edouard Manet, Claude Monet,
Degas, Cèzanne, Berthe Morisot, Rodin e outros. Ilustrou um livro de Zola, amigo e
defensor dos impressionistas.
Em certa altura pensou ter
chegado aos limites do impressionismo e correr o risco de se tornar
superficial. Então parte para a linha, para o desenho.Suas últimas obras
têm contornos bem marcados e solidez clássica.
Trabalhou até o fim mesmo atacado pelo
reumatismo e com mãos retorcidas. Por vezes amarrava os pinceis nos punhos e
pintava.“Estou liquidado”, aborrecia-se. Mas nunca deixou de reconhecer: “Não há dúvida de que tive mais sucesso do que qualquer outro pintor,
durante a vida. As honrarias chovem sobre mim”.
Angela Weingärtner Becker