Kurt Schwitters (1887-1948)
"O relativo esquecimento da obra de Kurt Schwitters na arte
moderna seria tão grave quanto esquecer o abstracionismo", disse um historiador
em NY,1991, quando da exposição “Conflitos com o Modernismo ou a
ausência de Kurt Schwitters”. Ele teria trazido a arte de volta para a esfera
física, num movimento contrário ao abstracionismo mas igualmente fundamental
para a arte de hoje.
Kurt Schwitters fez poesia (eram grandes colagens
de palavras catadas ao léu) teatro, ensaios. Foi crítico, editor, publicitário e
agitador cultural. Está presente em todo o gênero de arte incluindo declamação e
música (usa sons primordiais, e efeitos ótico-acústicos-ver o vídeo abaixo). No entanto, a colagem
é sua base artística.
Estudou em Hannover, Dresden e Berlin. No começo- como soe
acontecer- faz uma arte acadêmica. Parece-nos impossível,
ele com um vulcão inteiro a expressar, contrário a todo tipo de consenso e a tudo que se estabelecesse como regra!“A
arte não quer influências e não quer influenciar, mas libertar da vida, de
todas as coisas que nos sobrecarregam....”,teria dito, antecipando em décadas
alguns processos incorporados aos artistas contemporâneos.
Faz colagens (em sobreposições) realizadas com lixo industrial,
todo o tipo de material.“Por economia pegava aquilo
que encontrava, pois éramos um país empobrecido. Também se pode gritar com
resíduos de lixo, e eu fazia isso colando e pregando-os”.
À racionalidade junta a casualidade. Dá o nome de “merz” palavra criada com um pedaço da palavra "comércio" (Kommerz) que para ele significava arte total sem fazer diferença entre poemas, colagens, música, etc. Ele criara algo novo daí a necessidade de um nome novo. “Merz” foi o movimento de um homem só, o de Kurt Schwitters, que desestabilizava tudo o que era burguês (mas com senso de humor dizia de si mesmo “eu sou um burguês idiota”). Foi além do dadaísmo. Foi libertário. Em 1936 destroem na Alemanha grande parte de sua obra.
À racionalidade junta a casualidade. Dá o nome de “merz” palavra criada com um pedaço da palavra "comércio" (Kommerz) que para ele significava arte total sem fazer diferença entre poemas, colagens, música, etc. Ele criara algo novo daí a necessidade de um nome novo. “Merz” foi o movimento de um homem só, o de Kurt Schwitters, que desestabilizava tudo o que era burguês (mas com senso de humor dizia de si mesmo “eu sou um burguês idiota”). Foi além do dadaísmo. Foi libertário. Em 1936 destroem na Alemanha grande parte de sua obra.
No Brasil apresentou-se na Bienal de 1961, e na Pinacoteca
em 2007. Está longe, porém, de ser
conhecido fora do circuito artístico. O trágico e o dramático que constrói causa
estranheza. Mas quem o compreende, é fisgado para sempre. Hélio
Oiticica é um deles e diz: Schwitters inaugura um dos maiores caminhos da arte
de hoje de onde derivam o novo dadaísmo, a arte bruta, toda a arte designada
pelo termo assemblage.
Diferente do cubismo que
colava mostrando que um objeto “saído da realidade” poderia compor a arte sem alterar
sua substância, para Schwitters não existe este problema espacial, diz Argan. Ele
cola alucinadamente e faz estruturas.Vai construindo seu Merzbau, uma espécie
de coluna central que cresce com tudo o que ele encontra por acaso, dia
após dia, coisas que por um instante lhe chamaram a atenção. O gesto de
pegar e colar barbantes, arames, rolhas, botões, cacos de vidro, jornais, ferros velhos, bilhetes de ônibus, trapos enfim, sem
ordem nem finalidade, é o que constitui sua arte.Coisas que até então tinham um
prazo de validade curto, passam a ter vida eterna nos quadros e instalações de
Schwitters. “são testemunhos breves, truncados, dissociados de uma crônica
cotidiana amorfa, opaca, desordenada como a das personagens de Ulisses de Joyce”,
diz Argan . Também Haroldo de
Campos concorda que sua arte tem conexões formais com a (posterior) obra de e.e.cummings
e com James Joyce. No descarte que usa não há a preocupação de “revelar
a beleza secreta” ou coisa assim. É simplesmente uma trama vivida, uma poética
do acaso, do objeto encontrado ou talvez “do inconsciente que, como motivação
profunda, determina o fluxo incoerente da vida cotidiana”(Argan)
Em
1923 faz sua "Merzbau" (Casa Merz), primeiro grande trabalho de
ocupação espacial que tomava toda a residência do artista em Hannover, foi considerada
a primeira instalação artística. Consistia em um apartamento com malas, roupas
presas através de arames na parede que subiam e desciam escadas e tomavam toda
a casa até que sem espaço teve que quebrar o teto e subir com seus bizarros
objetos achados ou presenteados por seus amigos. Era uma catedral gótica pessoal
que invadia todos os cômodos (8, ao todo!). Do estúdio do artista, crescem como um ser
vivo. Entre os nichos desta instalação gigantesca, havia espaços reservados: “espaço
Hans Arp” “espaço Goethe” “Mis-van-der-Rhoe”, além de uma caverna para os “assassinos”(nazistas?). Enfim referências pessoais misturadas com referências históricas. (Hélio
Oiticica vai se inspirar nestes ambientes da “torre" de Schwitters.
Tendo morrido na pobreza e em relativa obscuridade, o sentido de sua
obra e muitos dos seus trabalhos tiveram que ser resgatados posteriormente,
tendo grande parte deles se perdido. Neste resgate foi possível reconhecer a
enorme influência de Schwitters sobre a arte do século XX e início do século
XXI.
No final de sua vida, na Inglaterra, antecipa-se à Pop Art
usando recortes publicitários, quadrinhos, anúncios e obras de grandes mestres.
Antes de falecer pratica uma pintura mais convencional, como era no início.Demonstrou
que nunca fora por
inabilidade que rompeu tão dramaticamente com a arte convencional.
Schwitters, o
criador da instalação, visionário da arte pop e conceitual, morreu em 1948, na pobreza e obscuridade.
Angela Weingärtner Becker
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