A arte dos Países Baixos

A arte dos países baixos se diferencia muito da arte italiana. Tamanha diferença vem do fato de que, quando acontece o Renascimento, já havia um estudo científico-humano de profundidade imensa na Itália, enquanto nos países mais ao norte da Europa, este conhecimento ainda era incipiente. O próprio Dürer disse que muitos jovens começaram a germinar sua arte com carência de conhecimento intelectual.
Michelângelo, refere-se ao estilo gótico (do norte da Europa) com uma sinceridade irônica, dizendo que a pintura de Flandres agradará às senhoras muito jovens ou muito velhas, aos frades e às freiras que gostarão de sua pequenas figuras feitas sem cuidado e sem simetria. E diz ainda que os nórdicos fazem tantas coisas ao mesmo tempo que poucas delas já bastariam para um bom quadro. É verdade, quase sempre.

Painel central inferior do políptico de Jan van Eyck

De fato, impressiona a profusão de detalhes que aparecem num único quadro e o miniaturismo incrível em cada obra(influenciados, certamente, pelas iluminuras). Este modo de operar a Arte seria provindo do gótico, de pessoas treinadas no artesanato. Há uma “veneração da habilidade” ou um “entusiasmo patético” pelo detalhe, pela descrição, conforme diz um historiador.E acrescenta que, o que nós exclamaríamos em frente a uma obra destas, não seria “Como é lindo isso” mas sim “Como deve ter sido difícil de fazer isso”.
"Apocalipse"-Albrecht Dürer
Albrecht Dürer, no entanto, que provém de uma cidade muito artesanal da Alemanha (Nuremberg) destaca-se na gravura com um virtuosismo técnico sem par. Dürer faz duas viagens à Veneza e quando volta, a sua linha -sempre fortemente delineada e suas cores muito chapadas mas sobretudo a composição- mudam, ganham nuances e centralidade. A tinta a óleo (inventada nestes países) faz veladuras cuja transparência permite a transição dos contornos com mais suavidade. Ele vai se dar muito bem nos retratos, que, para mim, são de uma beleza rara. Ao contrário de suas paisagens megapovoadas e cheias de simbologia nórdica, além da inclusão dos objetos queridos dos patrocinadores da obra. Tudo over, na opinião de muitos críticos, principalmente os admiradores da arte de origem greco-romana.

Autorretrato Albrecht Dürer
Particularmente, sou fã incondicional dos autorretratos de Dürer, da obra “O casal Arnolfini” de Jan van Eyck, de “A descida da Cruz” de Rogier van der Weyden. Não haverá explicações que me convençam da falta de genialidade desses pintores. Sem falar no "deus" Vermeer cujas mulheres, todas, trabalham. São abençoadas pelo trabalho que é uma glorificação protestante. Suas pinturas de interiores são obras primas. Uma delas, "a mulher de azull" recentemente tivemos o privilégio de ver no MASP e em outros estados

“A Leiteira” por Jan Vermeer (1632-1675)

Falaremos nos incríveis Hieronymus Bosch e Pieter Bruegel. Estes dois últimos que são da ordem do extraordinário, do espetacular, do absurdo grotesco, merecem um espaço todo particular.
Angela Weingärtner Becker

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