O belo na Idade Média e o belo na Renascença


Foi Leon Batista Alberti (1404-1472), grande humanista do Renascimento, quem realizou a espécie de mito do homem renascentista, este que sabe matemática, sabe filosofia, é um bom cavaleiro, bom falante, sabe das artes, sabe tudo ao mesmo tempo. A questão central de seus textos é superar o arcaizante da Idade Média e mostrar a nova era do Renascimento.


 No período medieval as coisas só eram explicáveis por uma visão celeste impressa em nosso interior. A representação medieval tinha um grande afastamento do real. Pela renúncia da tridimensionalidade, pela perspectiva absolutamente diferente do Renascimento. Quem era mais importante na obra, ocupava o lugar central e era de tamanho maior. O céu sempre dourado, afastado da representação (azul) naturalista.


Além de tudo o dourado do fundo, refletia a luz de tal forma que dava a impressão de procedência divina. O artista não poderia jamais se deixar seduzir ou fazer o espectador ser seduzido ao mundo sensível. Havia uma esquematização regrada como se houvesse uma descrição da ideia no lugar da representação. Era preciso ensinar dentro de regras preexistentes, sem nenhum lugar para fugir deste papel. Tudo era dado.

 O Renascimento vive outro paradigma, onde a perspectiva, o raciocínio, a verossimilhança, a arte - antes totalmente submetida à religião- tudo muda gradativamente. Passa pelo conceito de vinculação da “fórmula” que cada um traz dentro de si, e a harmonia com a beleza visível, que está no mundo (nesta passagem a ideia recebe a experiência do real) A imagem passa para o sensível, nasce lá na realidade e é esculpida e modelada pelo artista, possibilitando os diversos estilos. É o sujeito quem cria as leis. Já não há hostilidade entre espírito e natureza como era no século XIII e XIV. E vai até ao ponto de que a arte possa ser filha da imaginação (uma visão de arte praticamente moderna).
Neste instante da História-onde se usam os conceitos do belo nesta acepção- há enormes discussões a respeito do uso das imagens religiosas. Seria idolatria, a imagem, ou não?

A Virgem e o Menino com Santanna-Leonardo da Vinci,1508

Sabe-se que naquela época, as pessoas basicamente não sabiam ler. Os afrescos, por exemplo, tinham a grande função de ensinar. Era por meio da imagem que o conhecimento chegava às pessoas. Argumentos fortes para o uso da imagem na representação das ideias religiosas era de que nosso espírito não poderia se desvencilhar das coisas sensíveis para que houvesse compreensão. Mesmo com esforço muito grande não teríamos capacidade de entender o mundo espiritual, etéreo, impenetrável sem a intermediação de algo sensível.
São Tomás de Aquino resolve de certa forma a questão quando diz que cada coisa material tem dupla natureza assim como Jesus teve, diz Rodrigo Naves. Então a tinta, a tela, o ouro, a prata usados na confecção da imagem, nos dão o acesso ao espiritual.
No Renascimento a arte, para além da verossimilhança deve conter o belo. Há uma tensão entre a verossimilhança e a correção da natureza.
Nascimento de Vênus-Sandro Botticcelli-1486

Rodrigo Naves nos diz que o jogo da Arte está exatamente na tensão de buscar o belo e a impossibilidade de definir este belo. Há uma fragilidade intelectual nunca resolvida. A arte é complexa por causa disso e por causa disso escapa à definições. E termina: como colocar Picasso e Matisse dentro do mesmo conceito de belo?
Angela Weingärtner Becker

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