O Renascimento e o Barroco
Andrea Mantegna, Calvário, 1457-60
O crítico de arte Heinrich Wölfflin (1864-1945) conferiu rigor na separação do Renascimento e Barroco. Isto ocorreu pelo olhar finíssimo ou pela “teoria da visibilidade pura” que vem a ser a possibilidade da arte ser analisada pela capacidade expressiva que o artista possui através de sua percepção visual. O crítico avalia a obra a partir desse “olhar” e não a partir do contexto sócio-econômico, biografia ou até da técnica do artista. Quer dizer, não precisaríamos sair da obra para analisá-la.
Esta forma de ver a Arte foi muito seguida na Europa. O linear (óptico) onde o olho é conduzido a seguir as linhas e tatear as formas, e o pictórico (áptico) onde percebemos as massas, manchas, contornos esmaecidos, etc.
Na passsagem do Clássico ao Barroco tomando-se esta linha de pensamento, vemos no clássico um comedimento, simetria, contenção. No Barroco temos o ilimitado, a fugacidade, o movimento. O Renascimento apresenta a imagem fechada em si mesma, ao contrário da imagem aberta do Barroco que vai além, é fugidia, e a unidade não existe.
É de consenso entre os teóricos que o Barroco tem ligação com a Contra-Reforma e com a Monarquia. A conflagração dos sentidos-para um mundo praticamente analfabeto-veio para convencer, persuadir e desta forma o Barroco seria a Arte da Retórica.
Caravaggio restitui uma arte “dignificada” ao maneirismo que de certa forma havia levado a técnica à consequências de extremismo onde corpos ocupavam o espaço em escorsos e volumetria, as mais estranhas possíveis. Parecia mesmo que este desvio da forma, seria uma demonstração de malabarismo técnico. Era realmente um cansaço da forma.
Judite e Holofernes-1599 Caravaggio
Caravaggio retorna à compostura, à dignidade da forma. E será muito, mas muito importante para os pintores que virão.(sua influência se estende até à contemporaneidade) Todo mundo vai ler em sua cartilha. Sua luz “de holofote” cenográfica, implacável, impossível (porque provém de várias fontes na mesma obra) tem um papel decisivo na composição. Ela será unificadora das partes criando um dinamismo entre os elementos. E todos a copiam, como se nada mais pudesse ser tão eloquente. Por certo, como pintava cenas sempre muito radicais (decapitações, martírios, aparições, mortes, sustos) parece que reunia misticismo e sensualidade ao mesmo tempo.Sua luz faz surgir, muitas vezes do nada, a forma dramática, passional, sensual e religiosa.
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