Edward
Hopper (1882-1967)
Hopper foi um pintor
novaiorquino conhecido pelas pinturas realistas da sociedade americana do
século 20. Seu professor Robert Henri encorajava seus alunos
a fazerem “movimento no mundo” e “descrições realistas da vida urbana”(escola
de Ashcan)- e assim influenciou-o na escolha de um caminho contrário à abstração que
estava acontecendo tanto nos EUA quanto na Europa. Mas Edward tomou esta via não sem antes fazer três viagens à Europa e conhecer o que lá
se fazia (o cubismo e o abstraciosnismo estavam em plena efevervescência).
Como havia
estudado desenho e ilustração, trabalhou por vários anos comercialmente. Até
que em 1925, com seu trabalho “Casa ao lado da Ferrovia” Hopper marca sua
maturidade artística. Ele escolheu o realismo, a figuração, para expressar todo
um mundo psicológico de silêncio e espanto.(influência tanto de Freud quanto de Goethe). É neste espaço que se deve ver Hopper: o fora, a urbanidade expressando o que vai dentro (emoções).
Ver Edward Hopper é
uma experiência impactante. Ninguém pára diante de uma obra sua sem se
incomodar, sem ficar desamparado, mexido ou, no mínimo, contemplativo.
Entramos de chofre num mundo silencioso e pesado.Uma quietude estranha vai nos absorvendo, como se algo tivesse se rompido minutos antes
de olharmos ou irá se romper nos dez próximos minutos. Vemos o silêncio antes da tempestade. Ou a calma depois da agonia da morte. "Sinceramente, nunca vi nada igual
em outro artista" disse Wim Wenders ao se referir à obra de Hopper. Estamos apreciando um momento de tensão pré ou pós
aniquilamento. Por isso, o tempo de Hopper é um tempo que escorre vagarosamente, se por acaso escorre... Ele capta e se detém neste vazio. Ele paraliza um momento de cansaço da vida. Não há futuro, não há passado. Suas personagem estão num isolamento
das coisas e de uns para com os outros. Nada dialoga entre si.
E, com toda esta
tensão há uma luz metafísica de grande força que faz uma passagem abrupta das
zonas de luz e zonas de sombra, o que esvazia psicologicamente, com um holofote, as personagens
que olham o horizonte sem vê-lo. As sombras são compridas, alongadas como se fosse no fim do dia. Aquela hora em que sol se despede e sobrevém a noite.
Isto acontece num ambiente urbano, a partir de um quarto de hotel, de uma janela
da casa, ou de um bar. Pode ser de fora para dentro, mas comumente é de dentro para fora. A solidão está em tudo e em tudo está também aquela
sensação de que vai acontecer o temido e o fatalmente esperado, o desfecho. Ora é uma sensação de espera, ora é de vazio de um percurso existencial. Alguém lê distraidamente uma revista. Alguém senta na cama sem desfazer as malas, ou recém chegou ou vai partir. São personagens que vivem uma fresta do tempo, de espanto contemplativo e de suspense. Não é para menos que Alfred Hitchcock
vai se inspirar nele para sua “Janela Indiscreta” e Wim Wenders em "Bagdad Cafe", entre outros.
Mas não se pode
nunca dizer que Hopper seja caótico. As formas são criteriosamente calculadas. Tudo é devagar e perfeito.O tempo é mais eterno.Tudo está no seu lugar, com cores vivas e
luz densa. O que se pode dizer é de uma
inescapável interpretação de nós mesmos como seres humanos que desistiram em
algum momento e que -sim ou não- voltaremos a seguir em outro. Porque assim é a vida.
Angela Weingärtner Becker
2 comentários:
Angela, nunca havia pensado na referência a Hopper que Win Wenders fizera em Bagdad Cafe. Teu post acendeu uma nova e mais ampla visão s/a estética do filme. Obrigada! Texto maravilhoso, perfeito na sua análise psicológica, na descrição dos sentimentos que H. causa - "niguém pára diante de uma obra sua sem ficar desamparado". É assim, exatamente.
Que bom que compartilhamos esta mesma sensação!Sinto-me irmanada quando há um Hopper, uma Dorotea, um Wim Wenders vendo que a vida tb se apresenta por este ângulo- e aceitando, e achando maravilhoso que alguém sabe expressar este aspecto.(Angela)
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