PAUL CEZANNE-1839-1906
No MASP temos "Madame Cézanne em Vermelho" e "O Grande Pinheiro". Foi o que apurei mas acho que tem mais. Confuso este site do maior museu da América Latina. Angela Weingärtner Becker
PAUL CEZANNE-1839-1906
No MASP temos "Madame Cézanne em Vermelho" e "O Grande Pinheiro". Foi o que apurei mas acho que tem mais. Confuso este site do maior museu da América Latina. Angela Weingärtner Becker
Albrecht Dürer- 1471-1528
Ele não tinha só toda a técnica do seu tempo.
Tinha também talento, imaginação, intuição, e uma tremenda
sinceridade.
Albrecht foi o terceiro dos 18 filhos de seu pai que veio da Hungria e instalou-se em Nuremberg com a família. Ourives, pai e avô, o menino tinha destino traçado. Era nobre ser ourives e, na oficina costumavam reunir-se intelectuais e gente de poder.
Após alguns anos de escola, Dürer estava já gravando em ouro e prata, começo de uma grande carreira deste que foi
considerado o Leonardo da Vinci do norte da Europa.
Por quatro anos estuda xilogravura na melhor oficina da
época em Nuremberg, atividade que mais tarde vai elevar à dignidade de Arte. E, no campo das artes gráficas, nunca terá rival. Nesta época a reprodução da imagem por gravuras
era um meio poderoso de propaganda religiosa. A Reforma de Lutero já estava no
horizonte.
Terminado este aprendizado, planeja encontrar em Colmar, maior mestre gravador em cobre que se tinha notícia, Martin Schongauer. Quando chega soube que ele havia falecido. Mas fica na oficina e absorve tudo com os discípulos. De lá vai para a Basiléia, Suíça, centro livreiro, estudar sobre tudo sobre impressões.
Segue para o norte da Itália, berço do Renascimento, aspiração maior de um artista. Ali enche sua bagagem de todo o conhecimento da época. Volta para Nuremberg para abrir sua própria oficina. Para isto tem de casar, uma regra de respeitabilidade vigente. Agnes Frey, esposa arranjada, não tem filhos e não gosta do gênio artístico ao seu lado. Há cartas em que ele relata aos amigos esta situação. Aliás, há farto material da época sobre o artista. A cidade de Nuremberg tinha uma organização municipal muito rígida e documentada.
Dürer tinha amplo conhecimento em matemática, geografia, medicina, alquimia, ciências da natureza, filosofia, literatura. Com pouca idade, era um erudito. Dotado de grande talento e técnica, logo obtém sucesso e se torna um dos homens mais ricos da cidade. Foi por isso mesmo imitado, falsificado e roubado (muitas pinturas se perderam por esta causa). Para tentar manter-se longe de imitações, criou seu famoso sinete, assinatura própria, que aparece em toda a sua obra.
Na série de xilogravuras do “Apocalipse de São João” talvez
sua obra mais famosa (no total mais de 200 estampas) ali traça visões aterradoras do Juízo Final jamais descritas.
Ele fez tudo: desenhou as ilustrações, gravou e imprimiu. Como deixaria ao encargo de outros esse artista obcecado pela perfeição?
O público vibra com as cenas cruas, aterroriza-se, comenta
os detalhes do acontecimento fatal acreditando que o apocalipse transcorreria ainda
no decorrer de suas vidas. Dürer pintou o Anjo São Miguel enterrando a lança na
goela do dragão com a fúria que todos queriam ver. Monstros diabólicos pelejam
com anjos e os anjos não fazem pose (como era no gótico).
"Os quatro Apóstolos"
Visionário e detentor de toda a tradição ocidental e toda a técnica da época, Dürer desenhava e pintava com maestria. A natureza, arvores, flores, céu, animais detalhe por detalhe são cuidados com atenção individual e olhar absorto. Num quadro onde pinta uma lebre, o animal parece vivo. Na “Natividade” imprime um ar plácido, repousante e contemplativo. Em “Adão e Eva” distorce habilmente os corpos adaptando regras para descobrir a melhor harmonia. Ele tinha toda a técnica e a liberdade interior do gênio. Alargava ou alongava conforme achava melhor excelência .
Vai pela segunda vez a Veneza e lá conhece Bellini que
reconhece nele toda a sua genealidade. Em carta a um amigo diz: “Aqui sou um
senhor, no meu país sou um parasita” queixando-se da rigidez das guildas
(oficinas) de Nuremberg onde a ordem do imperador Maximiliano I eram rígidas
ditando como proceder com tintas e métodos, já que a Arte estava a serviço do
sacro império germânico e Dürer era o pintor oficial da corte.
Com 50 anos visita os Países Baixos e é recebido como um
fidalgo. Teria dito em carta que num jantar em sua homenagem os convidados
inclinaram-se para que passasse em sinal de honra.
Em 1528, ano de sua morte (malária é a suspeita maior) foram publicados os quatro livros
do seu próprio tratado de proporções onde escreve “Afirmo que a beleza e a
forma perfeitas estão contidas na soma e todos os homens”.
Albrecht Dürer
extremamente culto e talentoso deixa uma obra espetacular, ele que resumia em
si toda a Arte ocidental da época, como disse um historiador de Arte:
“Dürer era um artista tão grandioso, um pensador tão profundo e abrangente, que quase se constituía, ele mesmo, numa Renascença”.
Angela W. Becker
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Há uma boa história sobre um ícone de Dürer, um rinoceronte que ele desenhou mesmo sem ter visto um. Hoje ainda este rinoceronte frequenta as lojinhas de museus de todo o mundo em camisetas, posters, xícaras, chaveiros de lembranças. O detalhe é que o rinoceronte não confere com a realidade. Mas quem se importa? Para esta história, veja em :http://angelweing.blogspot.com/search?q=rinoceronte
TURNER, energias arrebatadoras
Navio de escravos, 1840
William TURNER (1775 —1851)
Tudo é movimento, volúpia e esplendor. Tudo nos traga.
Os pré-rafaelitas
“Pré-rafaelitas” esta denominação remete à época de antes de Rafael Sanzio, (1483-1520) no chamado quattrocento italiano.
É assim que se chamaram os pintores
ingleses, rebeldes às regras do classicismo ainda vigentes na Academia inglesa em 1848. Lá estudavam três moços que fizeram a virada da arte
britânica: Dante Gabriel Rossetti, William Holman Hunt e
John Everett Millais. (Este último pintou o conhecido ícone "Ophélia"). “Moços”
porque o mais velho, Hunt estava só com 21 anos.
A arte acadêmica na Inglaterra, aquela inspirada no modelo grego, permanecia, cansada, esgotada inutil enquanto na Europa continental já estava quase destronada, e o Impressionismo já anunciado.
Foram estes três jovens que, formando uma confraria, uma fraternidade ao estilo medieval, reagem a esta arte britânica que tanto tardava. Eles partiram ideologicamente para a época da "pureza" anterior ao pintor Rafael, antes de a Renascença ter trazido o modelo grego.
Era o ano de 1848, e na Inglaterra vitoriana, com grande
prosperidade econômica, grassava um moralismo hipócrita, uma deprimente involução
cultural e de exploração do trabalho, um sem fim de arte esgotada de “bois e
vacas no pasto” “barquinhos na àgua” uma arte tola, pueril, ridícula, cheia de
clichés, e de escandalosa convivência do puritanismo anglicano com o capitalismo. Veja-se que
na Europa continental já sopravam os ares do Impressionismo e Marx já estava
fazendo o seu Manifesto.
Neste ambiente, surge o grupo pré-rafaelita organizado como uma guilda medieval. Eles vem colocar abaixo todo o classicismo, todas as regras acadêmicas. Surge uma arte com função sanadora desta
sociedade, que vai buscar inspiração lá no gótico, “antes do pecado do orgulho” como diz
Argan, onde ainda existia o sentimento puro, a ética do trabalho, o artesanato,
a poesia, a profunda humildade, a honestidade. Depois da decadência, o retorno.
A obra deveria nascer no artista sem regras, sem sequer
atelier pessoal. Deveria ter alma e espiritualidade. O romance, o erotismo, o misticismo,
lendas, cenas religiosas visionárias, inocência, eram atributos para serem glorificados
nas telas. A realidade não importa muito, pode ser apenas sugerida. Efeitos de
cores luminosas, esmaltadas e muitas vezes fulgurantes faziam com que o
invisível fizesse parte do quadro pela atmosfera.
O Romantismo e seu conceito de sublime estavam claramente no
comando do gesto, do tema, do espírito. O mágico e o metafísico compondo a obra. Mas não em forma de símbolo, não ainda transformada numa cobra, numa
pomba, numa concha. Ainda não. O símbolo é intelectualista, abstrai, ocupa o
lugar da coisa. Aqui é a atmosfera que conta. O natural deve falar
simultaneamente com o espiritual. O espiritual é intrínseco à natureza. O pintor
envolve o metafísico com cores.
Gosto muito deste efeito real-irreal que traz a atmosfera do mistério. “A arte deve estar ela persuadida e não tentar persuadir” diz Argan. Este apenas levantamento do véu, este apenas espiar o mistério é um voyeurismo que me agrada. Assim, na “Anunciação” de Rossetti o anjo, nu por debaixo da túnica, fala com Maria de vestes simples (não mais de brocados) e fala apontando a haste da flor ao seu útero. Ele anuncia a concepção dela, do mesmo jeito que se anuncia a gravidez d e cada mulher: é ali no útero que se dá.
Os jovens pré-rafaelitas são os que revigoram, que se
lançam, que não confiam em ninguém com mais de 30 anos. São estes que fazem a
revolução. Os mestres antigos lá longe, na época de Rafael vão ser mais um
exemplo do que modelo estético. Os pre-rafaelitas estão bem inseridos no aqui e agora.
Na vida cotidiana, eles são insultados, desprezados e não vendem nada. A imprensa bate neles diariamente, sem trégua, por dois anos, até que um crítico de arte de prestigio, a caneta mais prestigiada da Europa, John Ruskin, se importa com o grupo e o movimento. Ruskin escreve uma carta ao “The Times” e é como se uma mão descesse do Olimpo, mão esta, que tem o poder de salvar ou condenar quem quer que fosse. O reconhecimento chega de forma que a Arte pré-rafaelista acaba por transformar de vez, a arte britânica, trazendo novos temas, novas técnicas, nova concepção.
William Morris (1834-1896, Arts&Crafts) vem para abarcar tudo isso e multiplicar em ferro, papel, móveis, design e arquitetura a mesma liberdade e fantasia no Art Nouveau cujo parentesco com os pré-rafaelitas podemos facilmente imaginar.
Angela Weingartner Becker