PAUL CEZANNE-1839-1906

   Natureza Morta Com maçãs e laranjas, 1895


História é soma, conjunto, passagem.
Cézanne (pós impressionismo) é transição.
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Cézanne é uma ponte, faz as bases para a pintura do próximo século. (Quem andou, magnífico, sobre esta ponte foi Picasso).
7 anos mais novo que Manet e 2 mais novo que Renoir, está no meio de um e já começa outro movimento. Assim caminha a História. Ninguém dorme idade média e acorda renascimento.
Bruto, ranzinza, gênio mais que difícil, atirava tintas e pincéis no teto, cortava telas com facadas, pisoteava. Ao menor obstáculo, estourava. “Merde” era palavra na ponta da língua. “Sou o mais recusado dos recusados”, dizia, mencionando as tantas tentativas de entrar para os salões de Arte.
A verdade é que ele não colaborava. Não aceitava convites para eventos artísticos. E quando ía, arrumava confusão. Além de tudo, tinha horror ao contato físico. Até para dar a mão em cumprimento, lhe era penoso.
A Pintura e Émile Zola foram suas paixões na vida.

Os jogadores de Cartas.1890


Desde criança, o amigo aguentou seu gênio. Aguentou até que por fim, também ele separou. Cézanne tinha se reconhecido no romance "A Obra", de Emile Zola. Uma das personagens era um pintor (de maçãs, rs) que se suicidara. Cézanne se ofende. Zola explica que literatura é realidade mas é também fantasia. Tenta a reconciliação: “você foi cada alegria minha, foi cada tristeza minha” “você é meu irmão”. Cézanne quer a retratação pública. Brigam tanto até que Zola o manda para a... (ver o filme “Cézanne e eu”, Prime). Ele sai brigado e com uma raiva do tamanho do Monte Sainte-Victoire, este mesmo que vai pintar 60 vezes. Rompem em definitivo. Juntos tinham estudado Homero, Virgílio, línguas antigas, feito poesia em Latim. Discutido Literatura, Filosofia, Arte.


As grandes Banhistas ,1906

Cézanne não gostava dos impressionistas. Num diálogo com Zola zomba dizendo que é “arte de pano de prato desbotado”. As sensações, o subjetivismo, o gozo da luz, Cézanne rejeitava. Dizia ser inconsistente, faltava coluna vertebral. Temia que a Arte enveredasse para um novo classicismo em reação ao impressionismo, como já havia acontecido pelo menos duas vezes na História. Ele detestava a confusão, mas não queria a volta às convenções acadêmicas. A Arte teria de chegar ao novo saindo embrião do impressionismo, sem voltar para trás.
Estrutura. É isto que Cézanne vai pesquisar a vida inteira e levar a uma consequência metafísica.
Antes, ele fez toda a caminhada que os pintores fazem. Passa horas no Louvre copiando Rubens, Michelângelo, Ticiano, El Greco, Delacroix, Daumier. Aproxima-se pessoalmente de Renoir e Monet, mais de Pissarro, homem tolerante, com quem mantém um diálogo possível. Só muito tarde chegará, em sua pintura, na culminação absoluta da identidade sensação-pensamento, refinamento e luta de uma vida.
Cézanne vê a natureza como cone, cilindro, esfera. Por isso quando pinta, geometriza. Sua arte é racional. As pessoas são feitas de pedra. Há um esvaziamento psicológico da ordem do mineral. As maçãs não têm vida, são geometria. A paisagem não tem sensações, tem composição. Concebe a cor de um modo sem precedentes: como estrutura. "Cor para construir, não para emocionar”. "O contorno me escapa", dizia.

Chamava seu método de modulação. Em suas numerosas naturezas-mortas, (quase sempre maçãs), levava a cabo uma pesquisa formal cerebralmente perseguida. O que no impressionismo era sensação, aqui é volume e peso. É agradável, em seus quadros, a sensação de "tudo está em seu lugar". Se olhar imagens sólidas, harmoniosas, equilibradas faz bem à nossa alma, este é um pintor terapêutico.
Cézanne também mexe na perspectiva que vinha igual desde os clássicos. Traz o fundo pra frente. Nenhuma maçã ficaria sobre a mesa inclinada para a frente, como pinta. Não é mais a perspectiva tradicional, nem a atmosférica, como era no impressionismo.
Daí a passagem da Arte ter sido quase óbvia ao Cubismo, por exemplo. Cézanne entrega terra fecunda ao futuro onde surgirá a nova Arte. Evidente que Cézanne também recebe de outros, o legado. Delacroix, Daumier, El Greco e outros. A História é soma, é continuidade, como foi dito no começo.
Cézanne pintou muito sua Aix de Provence natal, onde o pai, banqueiro, tinha uma propriedade. Relacionamento turbulento, queria o filho como seu sucessor.
Cézanne casa-se e tem um filho que esconde dos seus pais até a idade de dez anos. Medo de que ele cortasse sua mesada pois dependia dela, não tinha fonte de renda.
Argan, o historiador de Arte, diz que Cézanne era um pintor com biografia "sem acontecimentos" o que facilitou que a pesquisa acontecesse. Diz ainda que Cézanne era consciente da sua importância , tão consciente como um cientista seria. Ele compreendia a crucial importância da "ponte" que era.
Já perto de morrer, o mundo reconhece a grandeza de sua pintura. Ambroise Vollard é o primeiro marchand que reconhece nele, não o que é no momento, mas o que será em breve.
No outono de 1906, Cézanne é surpreendido por uma tempestade quando pintava ao ar livre. Horas molhado e exposto ao frio, vai ser recolhido por uma carroça. Debilitado, morre uma semana depois, de pneumonia.
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No MASP temos "Madame Cézanne em Vermelho" e "O Grande Pinheiro". Foi o que apurei mas acho que tem mais. Confuso este site do maior museu da América Latina.                                                                                  Angela Weingärtner Becker

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