RENÉ MAGRITTE (Bélgica 1898-1967)
Seu pai, Leopold, era alfaiate e proprietário de uma pequena manufatura têxtil. Agressivo, namorador, irreverente, com altos e baixos financeiros. Os três filhos, indisciplinados a ponto de a família ter de mudar de cidade por duas vezes, Châtelet e Charleroi, na Bélgica. Os moleques logo tinham má fama sendo rejeitados pelos vizinhos.
A mãe foi chapeleira (não é para menos que Magritte se autorretratava de terno e chapéu).
Ela, portadora de melancolia profunda, tenta suicídio várias vezes. O marido a tranca no quarto por temporadas, até que um dia, em 1912, definitivamente termina com a sua vida e é retirada do rio Sambre, afogada. Um pano envolvia a sua cabeça. Magritte tinha 14 anos e presenciara a cena.
Esta imagem com pano, vai aparecer muitas vezes em sua pintura (mas também corresponde ao interesse surrealista por máscaras).
Dois eventos lhe marcariam a vida: um encontro com um artista pintando em um cemitério, com quem ele se deparou enquanto brincava com um amigo e a cena da morte da mãe.
Na escola, conhece Georgette Berger com quem se reencontra mais tarde para casar-se.
Frequenta a academia de Belas Artes da Bélgica. E, casado com Georgette que trabalha numa cooperativa de artistas, tem a rica oportunidade de conviver com arte.
Conhece vários membros da vanguarda belga interessados pelo futurismo italiano e o movimento The Stijl. Trabalha numa fábrica de papel de parede e depois com publicidade.
Certo dia conhece a tela de De Chirico “Canção de amor” que o influencia ao ponto de fazer uma guinada nos seus trabalhos. Um ar desolado e misterioso toma a sua obra apontando para o que será.
Em 1926 faz sua primeira tela surrealista “Lost Jockey” e realiza sua primeira individual em Bruxelas. Expõe “Assassino Ameaçado” influenciado pela popular série policial Fântomas, da qual era um fã. Um quadro chocante.
Muda-se para uma cidade perto de Paris e se junta aos surrealistas liderados por André Breton: Paul Eluard, Hans Harp, Miró. Com Eluard e sua esposa Gala, visita Dali em Cadaques. ( vejam..pouco tempo depois, Dali casa com Gala).
Nesta época pinta “Ceci n’est pas une pipe”(1929) - Isto não é um cachimbo. De fato, não era mesmo um cachimbo, mas a figuração de um cachimbo. Então o observador se pergunta qual a verdade mais real.
Isto terá implicações semânticas, linguísticas. Nomeia o que, evidentemente, não tem necessidade de nomear e quando o faz, nega-o. (O filósofo Michel Foucault faz um estudo sobre o tema. Há de ter aqui na internet).
Em 1930, ignorado pelo grupo surrealista de Paris, volta para o conforto belga. Não gostava das questões do subconsciente, resiste à psicanálise. Seu método, no entanto, foi revelado por um sonho, no ano de 1932.
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Magritte tem a obsessão do banal misterioso. Toma um objeto da realidade, e o tira do contexto originário, estabelecendo um enigma. É surrealista, mas não segue Breton que preconizava o automatismo psíquico, a gestualidade casual. Ele não se volta ao subconsciente em si. Trata do objeto e de como este invoca o subconsciente quando o desloca para outra realidade.
O objeto, desenha e pinta íntegro e autônomo (não derramado ou alterado como fazia Dalí e outros). Cria um outro tipo de lógica, a do absurdo. Os títulos também são deliberadamente sem relação com as obras. Usa o título para outra vez deslocar. Magritte adorava quebra-cabeças.
Sua maior tela está no teto do Théâtre Royal des Galeries, em Bruxelas. Um céu azul pontilhado de nuvens, motivo caro ao pintor belga. Inicialmente, o artista havia proposto o mesmo motivo com sinos, cuja pintura pode ser vista no Museu Magritte. Esta última opção acabou não sendo mantida, mas um gigantesco lustre com bolas de vidro foi adicionado no meio. Ficou lindo, vi por fotografia e posto acima.
Briga pela segunda vez com Breton e deixa os elementos sombrios (tão caros ao surrealismo) para fazer quadros mais alegres. Pelo surrealismo, incorpora o nonsense e autoriza-se ao irracional.
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Como uma resposta subversiva à desolação da guerra, escreve:
“A sensação de caos, de pânico, que o surrealismo esperava promover, para que tudo pudesse ser posto em questão fosse alcançado com muito mais sucesso por aqueles idiotas nazistas. Contra o pessimismo generalizado, agora proponho uma busca por alegria e prazer.”
Pinta várias telas por influência de Renoir. Eu vi, não gostei, concluí que Magritte, no impressionismo, não estava em seu elemento.
Há quatro anos vi a tela “tempo paralisado” pintada com petróleo. Apresenta um trem saindo pela lareira e adentrando o silêncio de uma sala vazia. A pintura foi feita por encomenda pelo empresário de Londres Edward James. O tema é encomendado em homenagem à esposa, que morreu sob um trem descontrolado em Londres. " Eu decidi pintar a imagem de uma locomotiva para que seu mistério seja invocado", disse.
Tem uma tela roubada “Olympia”, avaliada em 3 milhões, onde aparece Georgette nua. Os ladrões a devolvem três anos depois por ser muito famosa e não conseguir, por isso, comercializá-la. Surrealista, não?
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Morre de câncer aos 68 anos.
Nos últimos dez anos de vida o sucesso o alcança definitivamente. Ele dizia “meu único desejo é enriquecer-me com pensamentos excitantes”.
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