MICHELÂNGELO, e a basílica de São Pedro.

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A história da construção de uma catedral é sempre longa e complexa. Imaginem só a basílica de São Pedro, no Vaticano! No ano de 323 a mãe do Imperador Constantino (Santa Helena) pede ao filho que levante uma igreja sobre o túmulo do apóstolo Pedro. Isto foi feito. Depois foi demolida e sua reconstrução levou várias gerações, vários arquitetos, vários papas até ficar pronta.
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O papa Paulo III contrata Michelângelo como arquiteto do projeto. Não sem muitas brigas e incomodações. Mas, em 1547, a comissão ratifica o seu nome e Michelângelo assume a tarefa.
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Michelângelo tem relutância para aceitar o projeto pois já passava dos setenta anos e o trabalho até aquele ponto era dominado por Sangallo e seus funcionários ou diretamente pela sua família que tinha negócios(escusos) com a Igreja já há 25 anos.
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Com Sangallo estava a maquete da Igreja e, portanto já havia investimento da Igreja, um dinheirão, por sinal (tenho este valor em escudos, se quiserem, procuro).
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Não era fácil simplesmente despedir o pessoal de Sangallo ali envolvido. Mas o problema não era só de ordem artística ou político. Era também religioso.
Os protestantes-partido opositor- denunciavam corrupção na construção, desvios e furtos. Também católicos reclamavam que a exploração da Igreja passava dos limites e o próprio Michelângelo era um crítico desta situação e simpatizante, neste ponto, dos protestantes.
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Os primeiros movimentos de Michelângelo na construção são conhecidos pelas cartas dos deputados e que Argan (historiador) diz serem absolutamente não-convencionais. Michelângelo fez várias ações administrativas que não agradou a quem lá estava: colocou gente nova, despediu pessoal, interrompeu o trabalho e chamou dois homens, os mais importantes do partido de Sangallo para dispensá-los. Imediatamente o pessoal de Sangallo foi aos deputados dizendo que Michelângelo não queria mais seus serviços e que havia dito que só daria satisfações ao Papa. (Eu só falo com o Papa!!!)
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A resposta de Michelângelo a todos foi em três partes:
1º: mandou desconstruir a maquete de Sangallo. Não gostou do projeto. Era escura, tinha uma coluna em cima da outra, muitas ordens, etc .Parecia mais trabalho germânico (depreciativo como gótico) do que um charmoso e belo maneirismo.
2º: trocou os colaboradores por homens de sua confiança.
3º: Disse que só se reportaria ao papa, sobrepondo-se aos deputados que eram sujeitos à corrupção.
Só assim aceitaria a missão da construção. Não pedia nenhuma compensação em dinheiro, mas em troca queria liberdade para gerenciar a construção.
E foi pra já, mudou tudo no dia seguinte ao que assumiu.
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Olhem só o que ele disse numa reunião da comissão:
-“Nosso Senhor(deus) me mandou aqui dizer a Vossas Senhorias que Sua Santidade(papa) me deu comissionamento para a Igreja de São Pedro e digo que não quero mais ninguém envolvido, com exceção de mim mesmo. E eu não quero que tenham roubos e fraudes como aquele em que o vendedor de Traventino (mármore) é o mesmo que faz os termos de compra. E eu não quero nada mais construído com qualquer cal ou pedra que não satisfaça a mim”.
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Eita!!! Michelângelo é como o anjo de Guimarães Rosa- que vem para dizer, não para discutir ou argumentar e nunca para pedir!!!
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Michelângelo pega este enorme problema, ou seja, uma catedral em andamento. Mas parece não se importar com este aspecto. Já tinha feito outros trabalhos deste tipo e de grande porte. Sua arquitetura é capaz de negar as regras e sua própria estrutura para alcançar novas soluções inesperadas e geniais. A impressão que dá é que Michelângelo domina tudo, mas prefere fazer tudo diferente. Segundo Panovsky, historiador de Arte “ele fazia tudo errado, mas é sublime, numa escala muito superior”.
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Era importante que esta Igreja fosse extraordinária porque cada romeiro que ali viesse, deveria sair embasbacado para sempre pelo poder, pela glória da Santa igreja Católica.
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Todo o tempo, Michelângelo pensa nos elementos expansivos, sombra e luz. Cria zonas de sombreamento e luminosidades.
O problema sempre será não esconder a cúpula. Todos que sucederam Michelângelo tentaram ser fiéis a ele, o gênio que tinha “a régua no olho” isto é, uma capacidade sobre-humana de intuir, sobre-calcular, acertar e maravilhar.
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