MICHELÂNGELO, ele "podia" era um enviado.
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Michelângelo é de personalidade forte e com sua extraordinária presença, dialoga de igual para igual, com papas, príncipes (sentava-se à mesa de Lorenzo Médici) e pessoas influentes da cultura de sua época.
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Ele intervém na sua biografia (1568) feita por Vasari e supõe-se que realmente nada era escrito sem sua anuência. Michelângelo já era um precursor do que hoje conhecemos como “marketing pessoal”, pois realmente fazia questão de cuidar de sua imagem, interferia, aprovava ou desaprovava o que se divulgava a seu respeito e a respeito de sua arte.
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Pode-se dizer que Michelângelo revoluciona a Arte usando a "licença" para introduzir novas regras, a representação das proporções fundamentadas na ótica, coisa que não havia na Arte do Império Romano.
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Esta licença é uma liberdade, uma autoridade intrínseca do gênio que pode fazer inovações e passa a ser um modelo a ser imitado.
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No caso, uma interpretação subjetiva dos modelos clássicos. Ele faz correções óticas usando o clássico como uma maneira de ser interpretada e não um conjunto de normas a serem seguidas.
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A figura de Michelângelo passa a ser então um divisor de águas. Antes a imitação da natureza era o objetivo a ser alcançado. Agora, a natureza deve ser passada pelo filtro pessoal.
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Na biografia de Condivi, Michelângelo é o Platão da arquitetura, escultura e pintura. Este dom fora criado diretamente por Deus, pois o esforço humano não seria capaz de realizações de tal magnitude e excelência. É claramente um enviado, à semelhança de Cristo. Há uma espécie de colaboração do próprio artista para assim ser considerado.
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De fato, se olharmos os nus que Michelângelo pintou no teto da Capela Sistina, nas mais inusitadas posições e movimentos, com escorsos inacreditáveis e sempre jogando com a escultura, arquitetura e de uma forma tão admirável que os próprios artistas ficavam estupefatos. Concordaremos facilmente com esta parceria com o próprio Deus, era o que se supunha verdadeiramente. e sem esforço.
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Mas o gênio de Michelângelo, e pode-se entender isto, era de caráter inamistoso, difícil, às vezes beirando a mesquinhez e a selvageria.
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A Capela Sistina lhe é dada para fazer como se fosse um castigo por ter fugido de Roma enquanto esperava para fazer o túmulo de Júlio II.
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E é ali que ele realiza talvez o maior de seus “milagres”. O corpo humano é iluminado, sólido, tátil. A esbeltez e robustez dos nus são extasiantes e,-não procurando a unidade entre a pintura e a escultura- encontrou nelas a unidade.
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A imagem da Criação no centro da composição está entre as mais importantes de todos os tempos. E quem poderia duvidar de que até hoje todo o cristão ora para aquele Deus que voa no céu e encosta o seu dedo no dedo de Adão, criado por Michelângelo?
(texto AB, 2014)
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