Museu Picasso e Las Meninas
O museu de Barcelona foi o primeiro “Museu Picasso” criado ainda em vida do artista. (Há um, na França, outro em Málaga, sua cidade natal). Seu amigo de juventude, Jaume Sabartés doa sua coleção à cidade. O museu abre as portas em 1963, no palácio Aguilar. Logo, Picasso doa quase mil obras que, junto com as 58 telas da série As Meninas, convertem o museu em importante espaço. Principalmente de obras relativas à sua juventude e de seu tempo em Barcelona. No Museu há também importante coleção de gravuras e cerâmicas. Estas, doadas por Jacqueline Roque, a esposa com quem viveu até o fim de seus dias.
Las Meninas, Diogo Velázquez. Museu do Prado, Madri, 1656
Em Barcelona Picasso estuda na Escola de BelasArtes. Lá, mergulha no universo da vanguarda. Conhece artistas e intelectuais que frequentam o cabaré Els Quatre Gats. Pensão, pub, restaurante, para o qual desenhará o menu. O espaço se torna um centro das discusssões modernistas, como em Le Chat Noir, de Paris.
Picasso não veio à inauguração do seu museu. Jurara não pôr os pés na Espanha, enquanto grassava o regime franquista. Supervisionou plantas e planos, de Paris.
Ao entrar no Palácio Aguilar (5 casas unidas para aumentar espaço de exposição) entramos direto em conexão com aquele Deus da pintura do século XX. Elegância antiga e formas modernas já o anunciavam. As mansões solenes sofrem intervenções modernas, adaptando-se (não sem polêmicas) à sua nova função.
Vi os quadros de juventude de Picasso. Fase azul. Fase Rosa. Retratos. Vi obras pouco divulgadas. Diante da série Las Meninas estanquei. Picasso fez 58 versões do quadro de Velázquez! (lembrei de Demoiselles D’Avignon para o qual fez cerca de 800 esboços). Ele varia tanto, a ponto de haver um colapso do bidimensional, e entra no quadro. Revira, planifica, modifica. Flerta perigosamente com a obsessão. De assimetria em assimetria, encontra a síntese. Veloz, vai desconstruindo e reconstruindo em mil possibilidades. E a gente vai sendo tomado por ele. Que febre! Sua criatividade e tenacidade não se completam nunca. Há sempre mais e mais conteúdos para mostrar. Que conquista íntima de liberdade! Morre, só para ressuscitar de outra forma. Pinta Velázquez febrilmente. E com ele está nas células, na carne. O corpo se lembra, as ariculações se lembram da obra do Prado. Ele devora a obra, recria, brinca de deus. Faz do ortodoxo, o heterodoxo. É o touro e o toureiro. .
Saio repleta de Picasso e chego em casa sem o conhecer.Olho-me ao espelho, recomponho uma figura cubista. No apartamento de baixo tocam uma música dodecafônica, e um cão late quadrado.Picasso tem esse efeito sobre mim: demora a evanescer..
Um homem conseguiu cortar a história da arte em antes e depois. Sobre Picasso, não tenho conceito, tenho sensações. Neste caso, o escritor argentino, Ernesto Sábato, diria “A razão não serve para a existência” pelo menos para mim, em se tratando de Picasso.
Saio repleta de Picasso e chego em casa sem o conhecer.Olho-me ao espelho, recomponho uma figura cubista. No apartamento de baixo tocam uma música dodecafônica, e um cão late quadrado.Picasso tem esse efeito sobre mim: demora a evanescer..
Um homem conseguiu cortar a história da arte em antes e depois. Sobre Picasso, não tenho conceito, tenho sensações. Neste caso, o escritor argentino, Ernesto Sábato, diria “A razão não serve para a existência” pelo menos para mim, em se tratando de Picasso.
Angela Weingärtner Becker