Florença, um luxo! Desde San Miniato, uma visão privilegiada
Vou escrever uns três artigos sobre Florença. É lá que temos, até hoje, o metro quadrado mais sofisticado do mundo ocidental. Começo com um plano geral e depois vou particularizando nos pontos mais... dramáticos.

Por um caminho ladeado de ciprestes, entra-se para chegar à Igreja de San Miniato al Monte, um santo que, segundo a lenda, foi decapitado pelas perseguições anticristãs. Depois, carregou sua própria cabeça atravessando o rio Arno e voltou para sua solidão de eremita. É o ponto mais alto de Florença.
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O ar ondulava com vozes de canto gregoriano dos monges, chegamos na hora do Angelus. 
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No topo da colina, a Igreja, escura por dentro, fulgurava seus mármores verdes e brancos ao último sol do dia.
Entrando, o chão marchetado em mármores com os signos do zodíaco. Isto ainda é reminiscência da transição da era pagã/cristã. À direita, dezenas de turíbulos desciam do alto, por correntes de prata, refletindo a luz vermelha das lamparinas. Meu coração disparou. Ai, como gosto de turíbulos, esta delicada peça litúrgica. Sempre quero “levá-los” comigo. Uma amiga desejava os rosados e rechonchudos MeninosJesus, dos presépios. Eu quero os turíbulos para, debaixo de suas pequenas luzes, tomar vinho cor de rubi e ver fulgurar os vermelhos, das sombras rendadas nas paredes. Ah, esta Igreja com esplêndidos mosaicos do século XII, tudo isto olhado ao som de música sacra dava uma atmosfera de ante-sala do paraíso. Não foi à toa que, durante o cerco de Florença em 1530, Michelângelo mandou colocar colchões para proteger a Igreja.
Ponte Vecchio sobre o Rio Arno

Saindo da Igreja vejo o cemitério de São Miniato onde, descobri, está enterrado o criador de Pinóquio, Collodi, que faleceu em 1890. Sem dúvida, a criatura engoliu o criador. Em todo o mundo se conhece a história de Gepeto e seu boneco, cujo nariz cresce na mentira. Eu mesma havia comprado um pequeno pinóquio, oferecido em cada tenda de Florença. Agora entendia o porquê da  proliferação de pinóquios.
E a tarde caía sobre o berço do Renascimento. Lá em baixo, a cúpula de Brunelleschi dominava a cidade. O Rio Arno, a ponte mais antiga, Ponte Vecchio (1345) cheia de lojinhas charmosas que vendiam jóias, o melhor artesanato, e o melhor sorvete do mundo. A vista panorâmica abraça o coração de Florença: Santa Croce, Palazzo Vecchio, il Bargello, Il Campanile e, mais além, as colinas do norte.
Nas escadas da piazzetta, Michelângelo; logo abaixo da Igreja, pessoas de todo o mundo desfrutavam o por do sol no mirante mais bonito da cidade. Todos banhados em fino ouro. Lindo demais.
A cidade de Florença traz infindáveis nomes das Artes, como Leonardo da Vinci, Giotto, Michelângelo, Ghiberti, Brunelleschi, Masaccio, Botticceli, Dante Alighieri, Maquiavel e tantos outros. Poucos lugares do mundo têm uma reunião tão grande de obras de arte. E uma configuração especialíssima dos astros trouxe os maiores gênios que a humanidade já conheceu - o mais incrível: durante o mesmo período histórico.
Isto ocorreu no seio da família Medici, que deram uma “mãozinha” aos astros, é preciso que se diga. Riquíssimos banqueiros, foram políticos, clérigos e nobres. Atingiram o seu apogeu entre os séculos XV e XVII. Eram governantes não oficiais de Florença. Mecenas, colecionadores de arte cujas obras depois formaram  a magnífica galeria dos Uffizi. Traziam os artistas para junto de si, a comer em sua mesa. Michelângelo frequentava a casa dos Medicis como se filho fosse.
Já pensaram o que era aquela época? Estar em Florença, com a mais fina flor das sensibilidades, desde a Grécia Antiga? .
Florença sempre foi sensível sobretudo ao aspecto helênico, clássico. Diferentemente de Veneza que criou estilo próprio. A cidade foi o novo berço da cultura italiana e européia. Foi a cidade-farol do Humanismo e do Renascimento. Para ela, escolho a palavra
Esplendor!                                                                        

   Angela Weingärtner Becker

2 comentários:

Charles Netto disse...

Obrigado pela partilha de grande assunto Histórico de grande conclusão em que questiona respondo dizendo que ainda não tinha feito esta releitura a respeito uma vez que dizes bem assim: "Já pensaram o que era aquela época? Estar em Florença, com a mais fina flor das sensibilidades, desde a Grécia Antiga? .
Florença sempre foi sensível sobretudo ao aspecto helênico, clássico. Diferentemente de Veneza que criou estilo próprio. A cidade foi o novo berço da cultura italiana e européia. Foi a cidade-farol do Humanismo e do Renascimento. Para ela, escolho a palavra Esplendor!"

Angela Weingärtner Becker disse...

Realmente, Florença e Veneza seguiram caminhos diferentes.Eqto a primeira tendia ao clássico (helênico)Veneza( um dos fatores seria a luz vigorosa da cidade) adquiriu "tintas" próprias.