Wisława Szymborska (Kórnik, 1923) Poetisa com obra que tem como tema as vicissitudes da Polônia moderna. Emprega uma linguagem simples e coloquial, herança do realismo social que dominou a Europa oriental, mas sua modernidade se revela no tom irônico e na complexidade formal de muitas de suas poesias. Recebeu o Nobel de Literatura de 1996. (Wikipédia)



Elogio dos Sonhos



Nos sonhos
eu pinto como Vermeer van Delft.

Falo grego fluente 
e não só com os vivos.

Dirijo um carro 
que me obedece.

Tenho talento,
escrevo grandes poemas.

Escuto vozes
não menos que os mais veneráveis santos.

Vocês se espantariam 
com minha performance ao piano.

Flutuo no ar como se deve 
isto é, sozinha.

Ao cair do telhado
desço de manso na relva.

Respiro sem problema 
debaixo d'água.

Não reclamo:
consegui descobrir a Atlântida.

Fico feliz de sempre poder acordar 
pouco antes de morrer.

Assim que começa a guerra 
me viro do melhor lado.

Sou, mas não tenho que ser 
filha da minha época.

Faz alguns anos 
vi dois sóis.

E anteontem um pinguim. 
Com toda a clareza.


Nota: A poetisa polonesa morre em 1/1/2012, em Cracóvia, na Polônia.Em 1996 foi laureada com o Prêmio Nobel de Literatura.

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