Giorgio Morandi

Nunca pensei que um dia acharia graça no pintor italiano Giorgio Morandi (1890-1964). Suas garrafas eternamente repetidas em séries infindáveis me pareciam monótonas como um estribilho eterno e cansativo.
Homem de poucos amigos (só conheceu Cézanne dos artistas de sua época) e que nunca saiu de sua terra natal, e, ainda por cima só fazia pálidas e repetidas naturezas mortas, pouco me atraía.
Mais do que serenidade na agitação de sua época, me parecia estranho e algo absurdo. Até que neste sábado tive uma belíssima aula com Rodrigo Naves, no MASP.
Morandi, milagrosamente sai da obscuridade e, justamente o que eu desvalorizava, acaba por se ressaltar como grandes qualidades.





Morandi, como de Chirico e Carrá, faz parte da pintura chamada “ metafísica”. (a metafísica trata de problemas sobre o propósito e a origem da existência dos seres A pintura Metafísica nasce da intenção do artista em criar um mundo que não existe na realidade).
Dizia o professor “Enquanto de Chirico proclamava o absurdo, Morandi é o próprio absurdo”. Suas garrafas têm uma ausência de solidariedade entre si. Há um rompimento das coisas. Tudo é solto e há que ter um alguém em frente à tela que faça, com sua percepção, a unificação das coisas.
Esta é sua primeira fase.
Na segunda fase ele vai para o lado oposto em que passa a trabalhar com a unidade das coisas. Como faz isto? Faz principalmente pela tonalidade e graus de luminosidade.Seu repertório recorrente(as garrafas) contribuem para que, de tanto repetir os mesmos temas do mundo cotidiano, estes passem a se tornar idéias (platônicas).


Ao olharmos suas pinturas, vemos que há um véu que as cobre, uma neblina que as fazem aparecer como ecos das próprias coisas. Uma garrafa é a alma da garrafa. Tudo está num passado intemporal. A melancolia presente nos objetos humildes (pãozinho, garrafas, potes artesanais) estão sob uma cortina diáfana, sem tempo, sem história.
Naves usa a metáfora do pulôver feito pela avó com todo o desvelo e carinhos possíveis que vai ser vendido no mercado ao lado de pulôveres industrialmente feitos.Tudo terá o mesmo valor, e o valor afetivo do pulôver feito pela avó se perde ocultado e esmaecido.Morandi seria uma voz que grita artesanalmente contra o vazio da industrialização.Seus objetos saídos de uma época artesanal, hoje com sua luz corpórea, interrogam, clamam em sofrimento.
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Um comentário:

Airam Jair disse...

Não conhecia o Morandi, mas também gostei do artista que o Prof. Naves apresentou. Muito mais que simples garrafas e copos, mas um valor universal.