GOYA (1746-1828)
     Talentoso e versátil, pareceu antecipar muitos dos movimentos de arte do século XX.
Nasceu num povoado da Espanha e com 17 anos foi a Madri. Sua intenção era competir por um posto na Academia, o que só vai conseguir na Itália onde recebe o 1º. Prêmio da Academia Real de Belas Artes e assim volta engrandecido para a Espanha.
     Casa-se com Josefa Bayeu, irmã de um dos pintores da corte espanhola. Desta forma ingressa no Palácio Real onde faz cartões (destinados aos tapeceiros da Real Fábrica de Santa Bárbara) e obtém grande sucesso. Abaixo, temos um exemplo de cartão que foi transposto para a tapeçaria. Demonstra o ar galante e refinado do rococó.

O Guarda Sol
     Logo será nomeado pintor oficial e começa a fazer retratos. O rei Felipe IV implica com as tendências liberais de Goya, pois este começa a demonstrar ironia e desencanto pela corte, com suas desonestidades e corrupções. As personagens que pinta, parecem sentir-se deslocadas, incomodadas, psicologicamente esquivas. E nesta arte de captar a alma dos retratados ele se tornará um mestre. Quando pinta a família real em declínio, faz um desfile de mediocridades, máscaras de tolos, de ridícula altivez. A Rainha Maria Luísa de Parma é feia e desngonçada, o rei Carlos IV é débil e demonstra violência contida. Só as crianças se salvam entre sedas, insígnias e bordados(a Pedagogia nasce nesta época elas mãos de Jean-Jacques Rousseau).
A família Real de Carlos IV(1800-1801)-observar no lado esquerdo está o próprio Goya(faz um jogo ao modo de Velazquez)

     Em 1779 uma doença paralisa Goya por meses e o deixa praticamente cego. Ao recuperar-se, descobre-se totalmente surdo. É nesta convalescência que conhece a duquesa de Alba, primeira dama depois da rainha, e fica por um tempo em sua casa de campo.  A relação entre o pintor e a duquesa (bela, extravagante,orgulhosa, caprichosa e altiva como era o estilo aristocrático espanhol) deu muito o que falar! O duque, seu esposo, falece e a amizade entre os dois se intensifica.
     Nos anos seguintes, Goya imerge em grande atividade. Retratos, afrescos, água-fortes. O período é de grande produtividade.
     Em 1808 a França invade a Espanha e a família real é expulsa. O rei agora é Bonaparte(José, irmão de Napoleão) que “a princípio é bem recebido por uma minoria de intelectuais que esperavam reformas para o país atrasado e explorado pela Igreja e pela aristocracia”(Rainer Hagen). Mas, franceses e espanhois eram muito diferentes e só se poderia esperar mal entendidos entre eles. O povo espanhol estava educado para a Igreja e para ser fiel ao Rei. Mas a guerra civil se instala e os horrores grassam por toda a parte.
     Goya aprofunda seu sentimento de tragédia, tanto no campo pessoal como no social. Sua esposa falece em 1812. Neste período faz a conhecida pintura “3 de maio de 1808 em Madri: os fuzilamentos na Montanha do Príncipe Pio” datada de 1814. "Para cada francês morto, 5 espanhóis morrerão" diz um general francês.
    A cena é do fuzilamento pelas tropas francesas de um camponês que viera trazer seus produtos ao mercado. No chão ensanguentado, três cadáveres. Outros esperam na fila a descarga das armas. No centro do quadro, está o coitado, braços em cruz, imaculada camisa branca, olhos que espelham o terror da morte iminente. diante dos soldados-robô, máquinas sem rosto. É noite e ao longe está o perfil da cidade de Madri(que hoje já não existe, há uma praça neste lugar). Pela primeira vez a guerra era descrita como algo fútil, sem glória ou sentido.Tudo se reduzia a assassinatos e covardias.


     Em 1814 a corte é refeita com Fernando VIII e Goya se reinstala como Pintor Oficial. Sua posição, no entanto, não é mais tão sólida quanto antes. Chamado pela inquisição tem de responder por obscenidade pelos quadros “La maja vestida” e “La maja desnuda” (ainda hoje, há dúvidas se a retratada é a duquesa de Alba ou Pepita Tudó, sua amante). É, sim, uma dama de origem nobre que se diverte bancando a plebeia, despreocupada e provocadora. É uma pintura cheia de luz onde a matéria da tinta é fluida e transparente.




     Em1819 ele começa (recém saído de outra doença) a sua série de pinturas sombrias "as pinturas negras” povoadas de bruxas, demônios, seres disformes e grotescos (que aliás estiveram aqui no MASP e são para mim o melhor de Goya).
    Goya está desencantado com a vida na Espanha. Desanimado, sem vivacidade, a alegria desaparece de suas pinturas. Junto com a doença, passa a não ter mais respeito pela aristocracia. Já nada “enfeita” e passa a dar aos seus retratos a verdadeira alma dos retratados. Sua arte se transforma em uma arma ao insano comportamento da aristocracia e a falta de sentido do sofrimento humano. Ele pinta para si mesmo.No final, morre de problemas neurológicos, surdo e tomado de convulsões.


    Sua pintura “Saturno devorando um de seus filhos” que fazia parte da decoração dos muros da casa de Francisco de Goya, é uma das imagens (afresco) mais horrendas e geniais que se possa conceber.
     Sugiro o filme de Carlos Saura “Goya in Burdeox”. Belíssimo filme  em cores pastéis, próprios de Goya em seus últimos meses de vida. Um belo e fiel relato que penetra a dimensão humana da obra e vida deste pintor, talvez o primeiro pintor da era moderna.
Angela Weingärtner Becker

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