Gregos, nossos ancestrais culturais

foto: by Alexey Krasin
     A mitologia é apaixonante, instrutiva, poética. Era uma forma de explicação do mundo, dos homens, dos fenômenos nos tempos primordiais.
      A missão mais importante dos heróis era garantir a ordem do cosmos. E era assim que eles ganhavam uma espécie de perenidade. A pior coisa que poderia acontecer ao homem, era o esquecimento. Este se assemelhava à morte. Se conseguir se tornar objeto de lenda ou mito, o ser humano escapa da morte. Será recordado, talvez, para sempre.
     Lembremos que o Hades é a personificação de um lugar onde ninguém tem rosto nem memória, nem nome. Os mortos perambulam sem direção, sem identidade. Este é o  “inferno”. A todo o custo era preciso escapar do Esquecimento. Daí termos os heróis Aquiles, Ulisses, Perseu e outros que, por inteligência, coragem e astúcia obtém a glória e assim ficam livres do Hades.
     Não é para menos que viviam guerreando. Na guerra há oportunidades de heroísmo e conhecimentos. A guerra também se constituía no melhor dos esportes.
    A Grécia, naquela época não ocupava área geográfica definida. E nem era centralizada politicamente. Havia cidades-estado (polis) mas seus habitantes tinham plena consciência de serem da mesma raça, língua e cultura.
    O século V a.C. é o século clássico por excelência, é a Idade de Péricles. O Parthenon foi aí construído em marfim e ouro por Fídias. E é hoje ainda um dos pontos altos da arquitetura de todos os tempos. Neste século V, todos os intelectuais vão para Atenas que se torna esplendorosa.
foto by Labrakos

    Por que os gregos chegaram a este estado de sabedoria em ciência, artes, política e filosofia? Certamente porque não viviam sob uma classe detentora do conhecimento. Lá o poder era dessacralizado. Havia sacerdotes, mas estes eram gente do povo e não tinham conhecimento esotérico. Viviam um tempo como sacerdotes e depois voltavam à vida de cidadão comum. Eles nunca estiveram à mercê do sobrenatural. Pensavam por si mesmos. Os mitos gregos não são escrituras sagradas. Não são criados por guias espirituais, não são artigos de fé. Não são dogmas. Seus deuses dormiam com mulheres comuns, tinham defeitos e qualidades humanas. Eram deuses antropomórficos. Seus pecados, se assim se pode dizer, não eram individuais, eram sim contra a ordem do cosmos, por isso considerados tão graves pois feriam a harmonia de tudo e todos.
    Do mito vão passar ao “logos” que é razão, investigação. Tudo é explicado primeiro pelo mito e depois pela razão. O saber não lhes é dado por “revelação” onde o sacerdote, depois, irá usar da forma que melhor lhe interessar.
    Além da Democracia, Ciência e Filosofia, os gregos se destacaram também nas Artes. O seu caminho será o do naturalismo, que é imitação da aparência visível das coisas. E o maior tema da Arte grega será a Mitologia.
    Até o século XIX, teremos a influência da arte grega em nosso mundo ocidental.Eles são nossos ancestrais culturais.


    Em 1600-1200 a.C. vai aparecer a Ilíada e a Odisséia supostamente escrita por Homero. Muitas invasões e uma catástrofe (que ninguém sabe bem o que foi) aconteceu e destruiu a civilização. Existem tábuas de cerâmicas daquela época que ainda não foram decifradas.
    Em 1876 o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann escavou o sítio arqueológico do Hissarlik, revelando 7 cidades superpostas, construídas em sucessão uma à outra. Uma das cidades descobertas foi Tróia VII (identificada com a Troia homérica). Assim fica provado que realmente Homero tem fundo histórico e não apenas lendário como se poderia pensar.

                                                          teatro Grego Epidauros

    Em 1200 a. C. Perde-se a escrita e com ela a cultura. Volta-se à vida pastoral.Há um vácuo cultural-espécie de idade média da Grécia.O motivo ainda é obscuro. Guerras? Catástrofe natural? Invasão dórica? Esta última hipótese é o que a Grécia aceita como verdade.
     Só no século VIII a cultura é recuperada.
     Espanto-me toda a vez que lembro de Epidauros, quando a guia grega, toda vestida de preto, levava algumas pessoas ao teatro, localizado a uns 100 km de Atenas. Pediu que subíssemos ao último degrau do teatro. Do alto víamos uma formiguinha, ela, lá em baixo, no centro da arena. A grega amassava um papel de bala. Ea gente, lá em cima, ouvia o barulho como se ela estivesse bem ao nosso lado. A acústica perfeita do teatro, local escolhido a dedo entre montanhas e ventos, trazia o som aos nossos ouvidos, com uma nitidez inacreditável. A ciência daqueles gregos de antes de Cristo fazia milagres.
Angela Weingärtner Becker

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