O mito de Édipo


     No livro de Luc Ferry “A sabedoria dos mitos gregos” (que aliás recomendo pela linguagem fácil e pelos diversos pontos de vista de vários mitógrafos) temos, evidentemente, a narração do mito de Édipo. O que nada mais é do que uma tentativa de explicar por que os mortais às vezes são punidos sem terem culpa. Catástrofes, doenças, acidentes recaem igualmente por todos os seres humanos.
     A vida de Édipo, apesar de ser um homem excepcional, ter senso de justiça, coragem e benevolência é um pesadelo. Sua vida é transformada em um inferno. Forças cegas o tornam um joguete do que os gregos chamam de destino, a que ninguém pode escapar. O mundo, para Édipo é um lugar tecido por loucuras organizadas, ciladas medonhas, onde ele cai sem querer, ou merecer.
Édipo traz em si toda uma antecedência de gerações que pecaram por hybris (abalos contra o cosmos). Toda a desarmonia criada antes de seu nascimento vai culminar no pequeno Édipo que nasce de Laio e Jocasta.
      Como era de costume, o casal consulta um oráculo que diz que se tiverem um filho, este vai matar o pai e deitar-se com a mãe. Num caso assim era costume “expor” a criança, isto é, amarrá-la numa árvore e deixá-la entregue ao apetite dos animais (ou à clemência dos deuses).Édipo é entregue a um pastor que terá como tarefa expô-la. Os tornozelos são furados para passar-lhes uma corda e assim ser transportado mais facilmente. (Édipo=pés inchados).
     No caminho o pastor encontra homens de Corinto cujo rei Políbio era infértil. Os camponeses se propõem a ficar com a criança para entregar ao rei.
     Adotado, acredita serem seus pais. Um dia, brincando com colegas, um menino o chama de bastardo. Édipo questiona seus pais adotivos, mas não se convence. Vai a Delfos consultar o oráculo para saber da verdade. Lá a pítia (sacerdotisa) lhe repete o vaticínio: iria matar o pai e casar-se com a mãe. Édipo fica arrasado e para evitar que se cumpra a profecia, deixa Corinto para sempre, pensando ficar longe daqueles que julga serem seus pais. Assim vai para Tebas e de forma inexorável de encontro ao destino do oráculo.
     A cidade de Tebas estava arrasada por uma epidemia e Laio, por sua vez também decide ir a Delfos se aconselhar. Um vai de encontro ao outro. No caminho estreito se encontram e alguém tem de ceder passagem. Ambos se negam e numa briga Édipo se atraca com Laio e o mata. Apenas um dos empregados de Laio consegue fugir. Cumpre-se a primeira parte da profecia.
     Édipo vai em direção a Tebas. Na entrada da cidade a Esfinge o espera.Corpo de leão e asas de abutre, devorava quem não respondia ao enigma que propunha (que animal, pela manhã, anda com 4 patas, ao meio-dia com 2, e com 3 à noite?)
     Édipo responde que este animal é o homem que quando bebê engatinha, adulto anda com suas pernas e quando velho usa uma bengala que se torna a terceira perna. A Esfinge é vencida e morre. Na cidade, Édipo é recebido por Creonte, como herói e seu prêmio é casar com Jocasta, sua irmã. Cumpre-se a segunda parte da profecia. Édipo em total inocência de que matara o pai e casara-se com sua mãe, tem com ela 4 filhos.
     Quando os filhos se tornam adultos, a cidade de Tebas é assaltada por novas epidemias, acidentes, mortes inexplicáveis. Um mensageiro é enviado a Delfos para trazer a explicação dos acontecimentos. O oráculo responde que os flagelos só acabarão quando o assassino de Laio for capturado. Édipo, ignorando suas origens, empenha-se em seguir o oráculo, organiza uma investigação, chama Tirésias, o adivinho. Este, que tudo sabia, sente-se reticente em revelar que Édipo matou o pai, mas o faz por insistência dele mesmo. Jocasta se desespera, Édipo pensa que Tirésias delira. Neste momento chega um mensageiro da cidade de Corinto contando da morte de Políbio e acrescenta que Édipo não precisava afligir-se porque de qualquer forma ele não era seu pai, era sim, filho adotado. Para se certificar, Édipo convoca o pastor que levou a criança para expô-la e confirma que a criança exposta era realmente ele e que foi levada por camponeses para ser adotada pelo rei de Corinto.
     Jocasta, aterrorizada com os acontecimentos, se suicida. Édipo pega-lhe o broche de seu corpo enforcado e fura seus próprios olhos, cegando-se. Deixa a Creonte o trono de Tebas e refugia-se em Colono onde e passa a viver como mendigo cuidado pela filha Antígona. Há várias outras versões do mito, mas esta, de Sófocles, é a mais corrente.

O mito de Édipo fascinou durante séculos e fascina ainda hoje.
O que tanto nos atrai neste mito? A incompreensão das calamidades inevitáveis, dos flagelos, das dores que se abatem sobre os homens. O caos existe e a injustiça também, independente de agir certo, errado ou por engano. Isto pertence à nossa condição de humanos. É um erro querer fugir da desordem cósmica a todo o custo. O melhor que temos a fazer é viver bem, conviver com o caos e a harmonia.


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