O Impressionismo

É sempre um choque para nós aprendermos a ler uma nova imagem, com outro código, e com outros olhos. Porque perdendo-se o referencial, fica-se no ar, e a atitude mais comum é a de rejeição.
Até meados do séc. XIX, o público estava acostumado a ver o mundo refletido na tela, como um espelho reflete a imagem. O novo modelo quebra o espelho e sobram os cacos. Isto torna impopular a arte, como sempre acontece no começo de um novo movimento. Porém, o artista não aceita manter-se nos estreitos limites da compreensão do público. Tudo evolui e evolui também a linguagem plástica. Nosso olho humano, demasiado humano, se acostuma a ver o que sempre viu e quando surge uma nova linguagem, é natural que a rejeite porque não compreende o seu código. Como esperar que o espectador, que antes via a realidade tal e qual refletida na tela, aceite de uma hora para outra uma realidade criada pelo artista?

 La Promenade -Renoir

O impressionismo foi sobretudo criado a partir de suas próprias entranhas, isto é, não veio de uma filosofia, literatura, uma guerra, ou movimento social.Talvez o que influenciou, de fato, o impressionismo foi a fotografia. (Sabe-se que no início, uma fotografia era resultado de demorada exposição. Uma pessoa a ser fotografada deveria ficar imóvel e caso ela se mexesse, o resultado era enevoado, tremido, sem contornos). “A maioria dos artistas de vanguarda foi afetada de um modo ou de outro, pela fotografia” diz Donald Reynolds, historiador de Arte. Isto sem falar do enquadramento, nitidamente influenciado pela fotografia.


Mas que é o impressionismo? Numa linha histórica ele vem depois do realismo e o que ele quis foi expressar as mudanças visuais da realidade. A paisagem é o centro temático do impressionismo. Podemos perceber a diferença de objeto quando pensamos que num quadro de Leonardo da Vinci, por exemplo, a paisagem era um fundo para a figura humana. No impressionismo a paisagem “vem para a frente” e é, não raro, o único motivo do quadro.(E aqui sempre faço uma comparação-e não sei bem por quê- com o movimento da Bossa Nova que não veio a serviço de nenhuma ideologia, veio sem vincular mensagem, veio somente música, som e ritmo. “O barquinho vai, a tardinha cai..."


Para o impressionismo o que contava era mostrar a atmosfera das coisas. Pequenas pinceladas que ao olho se parecem como manchas de cor que por si mesmas são o limite da figura. Limites está aí uma coisa ao  que o impressionismo era avesso. Exatamente porque tratava de um compor e decompor a paisagem dada pela luminosidade de cada instante. Isto tudo já vinha sendo estudado inconscientemente por Edouard Manet, Camille Pissarro, Jean-François Millet, Courbet e tantos outros. Quando este sentimento que vinha vindo se torna consciente, temos o Impressionismo: uma técnica pictórica onde a mistura ótica de pinceladas de cor pura feita pelo pintor, encontra (a uma distância de 2 a 3 m do quadro) o espectador que faz uma síntese ótica. É a participação do espectador que completa a obra.( e nisso é absolutamente contemporâneo em termos de arte) É ele quem une as pinceladas justapostas do pintor, é ele quem faz a fusão ótica necessária.
Entusiasmados e excitados com tal descoberta os pintores começaram a procurar lugares –entre Paris e a Normandia- cujas condições proporcionassem a importante atmosfera de vapores, rios, neblinas, reflexos. Isto era evidentemente feito ao ar livre, fora do estúdio, a “plein air”. (a figura de van Gogh carregando paleta, tela, tintas em campos de trigo, é bem ilustrativa deste tipo de pintor).


 Ao impressionismo o que importava era a luz de cada instante que se evanescia fluidamente em matizes de sombra e luz. O resultado era uma espécie de esboço, o que causou críticas, pois esboço seria só uma etapa para a arte final acadêmica e não  o produto final como o era para os impressionistas.
As primeiras exposições de quadros com esta nova concepção aconteceram no atelier do fotógrafo Nadar e a tela de Monet, intitulada “Impression, soleil levant” (Impressão, sol nascente) foi o que deu o nome ao movimento (1874). A denominação começou como brincadeira e desprezo do público e terminou se oficializando. Conta Juan Balzi em seu livro “O Impressionismo”.  “Para se ter idéia do grau de rejeição do impressionismo, basta lembrar que em 1900 o diretor do Museu de Berlin foi demitido por adquirir um Renoir, um Manet e um Cezanne”. Hoje não há quem não goste destas pinturas, mesmo não sabendo nada do que implica a técnica. Nosso olhar está treinado.

Monet vai se tornar obcecado pela técnica e pinta alucinadamente 20 versões da catedral de Rouen em diferentes horas do dia. E eis que depois de muito pintar (e do amadurecimento do olhar do público) Monet passa a ter sucesso de crítica e sucesso de vendas. É assim que compra a sua famosa morada em Giverny (hoje obrigatória visita quando se vai à Paris). E ali ele continua sua pesquisa da cor. Vai tão fundo que já nem pinta as coisas mas seus reflexos, manchas, cor, neblinas, atmosferas enfim. 



O impressionismo, representado principalmente por Claude Monet, Edouard Manet, Auguste Renoir, Paul Gauguin, Edgar Degas, Gustave Courbet, Toulouse-Lautrec, Paul Cèzanne vai transpor países. Na Inglaterra Constable e Turner. Influencia músicos como Debussy e Ravel e escultores como Auguste Rodin (as figuras não devem enrijecer-se em posturas fixas) poetas como Malarmé e Rimbaud, só para citar alguns.

A luz, a instantaneidade e o enquadramento (fotografia) a paisagem envolta em brumas, a cor pura (sintetizada pela ótica do espectador) os temas leves, a cor como ciência, a ausência de temas morais, sociais e filosóficos, tudo isso vem fazer a festa do nosso olhar, numa enorme exposição que acontece aqui em São Paulo de 4 de agosto a 7 de outubro de 2012. 85 obras-primas do acervo do museu parisiense estarão na exposição chamada “Impressionismo: Paris e a Modernidade – Obras-Primas do Museu d'Orsay”.

2 comentários:

A Professora Tia Lilian disse...

Belo trabalho o seu Angela. Divulgar arte é semear beleza.
Sucesso.

Angela Weingärtner Becker disse...

Obrigada, Lilian.Desculpa a demora em respponder.Eu estava viajando.abraço!