Jean Auguste Dominique Ingres
(1780-1867)
Ingres segue a linha neoclássica. Admira, tal qual Jacques-Louis
David, a arte heroica da antiguidade. Nasce perto de Toulouse, sul da França, e
tem educação esmerada. Estuda violino e toca quase profissionalmente.Toda a
família se muda a Paris para a continuação da educação deste filho. Era o
auge da Revolução francesa (1797). Lá estuda com David, pintor oficial de
Napoleão.
Ingres é um pintor que trabalha com a permanência, com o
trabalhoso. Para ser aluno de David havia a necessidade de pelo menos três anos
de estudos no museu do Louvre. Torna-se rival ferrenho de Delacroix que seguia
outra linha de pintura, não baseada na linha, mas na cor. Ou seja, Poussin
contra Rubens, concepções opostas dentro da Academia.
Ingres não tem preocupação de ser fiel ao real. Ele faz uma
espécie de síntese das várias obras, e as depura de tal modo que o real passa a
não ter a importância que o ideal tem. Detesta imprecisões e improvisações. Ele
decanta o visível, idealiza, já que as impressões que lhe chegam à retina (diz o
prof. Brolezzi) não são pintadas, apenas evocadas. E nisso tem precisão e
clareza de raciocínio além de técnica apurada. Alguns (dizem Gombrich e Umberto Eco)
acham insuportáveis esta extraordinária maestria técnica e este sentido
inabalável de perfeição. É que os ventos do Romantismo já começavam a soprar...
Com a idade de 82 anos, pinta uma reunião de mais de 20 moças
(O banho Turco,1862) quando sentiu “todo o fogo de um jovem de 30 anos”- palavras
suas. Esta obra é uma síntese de sua pintura e foi feita de memória conforme pintou
as mulheres durante toda a vida. Muitas estão de costas (adorava costas
femininas, tanto que “A banhista de Valpinçón” parece ter vértebras a mais,
além da anatomia, para alongar em beleza, as costas da mulher).
O MASP possui três obras de Ingres, entre elas está “Angélica
Acorrentada”. Angélica é uma cristã que é levada nua e angelical, a uma rocha
para ser devorada por um monstro. Ali espera a morte até que chega Rogério, seu
salvador, que mata a fera com o reflexo do escudo (Perseu e Medusa,
novamente?). Há outras versões do quadro com pequenas variações: no Louvre e na
National Gallery.
Angélica Acorrentada- National Gallery, Londres.1819
Estudos. p/Angélica Acorrentada-Louvre,1819
Angélica Acorrentada, MASP, São Paulo (começada em1818, terminada em 1859)
Aliás, Ingres tinha quase uma espécie de esquema para mulheres, assim
muitas se parecem. Isto facilita reconhecer um Ingres em qualquer museu. Ele
faz do corpo feminino, uma linguagem gráfica, linear, ideal da beleza. O
ovalado das suas angélicas lembram os vasos encontrados em Pompéia e Herculano.
“Ele não olha o modelo, vê os vasos gregos”, diz o professor Brolezzi. É o
triunfo do intelecto pois pinta com o cérebro. Tudo está estabilizado, inerte.
Há um silêncio do movimento. Picasso era fascinado por Ingres, pela sinuosidade e pela sua
linha pura.
Angela Weingärtner Becker
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