Ticiano, Autorretrato

TICIANO VECELLIO(1489-1576)

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Nasce numa cidadezinha (Pieve di Cadore) perto de Veneza e aos 9 anos já começa a trabalhar. É levado por seu irmão a Veneza onde começa a trabalhar numa fábrica de mosaico. Destaca-se muito cedo como um excelente desenhista e chega rico e famoso até uma idade avançada, 87 anos.
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Foi mestre de El Greco, Tintoretto e Anibale Carraci. Aluno de Giorgione, e de Bellini. conviveu com a fina flor dos artistas de Veneza.
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Ticiano participou de três grandes movimentos : a Renascença, o Maneirismo e o Barroco do qual foi predecessor. Suas pinturas foram tão diversas que houve até dúvidas qto à sua autoria. Foi considerado o melhor pintor veneziano de sua época “O sol entre as estrelas”como era conhecido.
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Ticiano mostrou excelência em pinturas de todo o tipo, paisagista, pintura de retrato, pinturas de temas mitológicos, religiosas, tudo.
Foi perito em pintar mulheres as quais dava um tratamento especial. Talvez tenha sido o primeiro pintor com tão grande liberdade a pintar a sensualidade e a sexualidade da mulher.Ticiano pintava a volúpia. Para ele, o feminino era “deste mundo” em contraposição às deusas mitológicas, santas, heroínas. A todas ele insuflava de carnes onde fulgurava o fêmeo, e não deusas assexuadas que se via até então.
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Importante lembrar que havia três caminhos bem demarcadas na arte da Itália. Roma com sua elegância maciça, fundada numa grandeza monumental, numa amplidão clássica e finura intelectual. Veneza definida pela cor e atmosfera de reflexos que conhece Bizâncio e o Islã através de seu entreposto comercial. E o de Florença (mais chegada a Roma), com a linha demarcada, sua vocação para as futuras indústrias e atividades bancárias.
Ticiano alcança o apogeu com sua pintura cheia de cores vibrantes trazida para aquela cidade de luz, de reflexos, de modas trazidas de Bizâncio, e África riquezas e brilhos sem igual.

Vênus de Urbino
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A cidade de Veneza era o lugar eleito dos ricos da Europa em busca do prazer (Veneza tinha um número grande de prostitutas) a cidade cosmopolita fervilhava com programas de negócios, diversão e Arte.
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Ticiano faz uma arte colorista, sensualista, apoiada na cor. Ele não se orienta pelas escalas das proporcionalidades e está mais perto da natureza mais próxima do mundo dos fenômenos do que os seus colegas de Florença.
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Marco Boschini, em 1574, explica como era o método de Ticiano. Ele faria o impaste, isto é, várias camadas de tintas. Primeiro espalhava uma camada grossa de tinta que serviria como “cama” para a pintura que viria depois. ”Um fundo poderoso, uma faixa de terra de Siena pura serviria para obter matizes. Ali acrescentava uma camada de branco cerúleo onde depois acrescentava faixas de vermelho ou preto ou amarelo conforme ia colocando as partes que ficariam em relevo.
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Quatro pinceladas e ele faria surgir “a promessa de uma figura”. Tendo feito esta base ele virava as telas para a parede e deixava lá, só voltando, às vezes, meses depois. E voltando para atacá-la assim faria com “um longo olhar severo tão agudo como se ele fosse um cirurgião para colocar a figura sobre seus eixos de modo que só faltava um sopro para lhe dar vida”.
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Ticiano nunca acabava uma figura em uma só sessão. Ele aplicava um toque final com os dedos para melhor fundir as cores e obter meio-matizes e assim dar um acabamento especial levado à perfeição.
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                                       KAZIMIR MALÉVICH (1879-1935)

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Kazimir Severinovich Malevich (1879–1935)

Pintor russo de ascendência polaca. O pai, supervisor nas refinarias de açúcar, viaja constantemente pela região. Kazimir gosta do campo, desenha paisagens e camponeses. Chega a completar estudos de Agricultura. Malévich mergulha no universo do trabalhador. “A Rússia só será um país moderno quando terá metalúrgicos”. Em meados de 1890 consegue ser admitido na Academia de Kiev.

Kazimir Malévich Os desportistas


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Depois que morreu o pai, estudou na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura em Moscou. Período de descobertas para o jovem artista. Conheceu o impressionismo, o cubismo e o fovismo.
Ver o quadro “Mulher trabalhadora”, cor e forma mediada pelo cubismo. Há um diálogo com Braque e Picasso. “Colheitadoras de Trigo”, a ideia do trigo metalizado, o trabalho rural feito com foice. Ele maquiniza o tipo social russo -o ícone- o brilho do corpo (como Leger) faz a apologia do movimento mecânico.


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“O colhedor com fundo vermelho”. o homem mujique, desde o séc.16 é servo que trabalha à troco do alimento. Vê-se a corpulência, o jogo de luz e sombra, o equilíbrio entre forma, cor e linha. Tudo parte da tradição russa: está representado como ícone bizantino, o movimento congelado, chapado contra a tela. A metalização do corpo, no entanto.


Mulher Trabalhadora, 1933 Kazimir Malévitch

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Malévich trabalhou com poetas e músicos. Fez cenários da ópera futurista “Vitória sobre o Sol”. Era o período da obra ininteligível, que seria substituída pelo suprematismo, um grupo de vanguarda em São Petersburgo, do qual Malévich foi mentor. Nessa hora, suas obras foram influenciadas por Natalia Goncharova e Mikhail Larionov, pintores da vanguarda russa.
                     Quadrado negro sobre fundo branco (1915)Museu Russo, 
                               São Petersburgo

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Ao lado de Kandinsky e Mondrian, Malévich é um dos inventores e teóricos da arte não figurativa. (síntese absoluta: só forma: losangos, triângulos, quadrados e cor pura. O mínimo quer dizer mais. Como fundador do Suprematismo, foi o primeiro artista a levar o abstracionismo geométrico à sua forma mais simples.
Muitos matemáticos e físicos russos começam a escrever sobre a espiritualidade da matéria. Malévich vai ser fascinado pelas ideias de Sergei Ouspensky (por sua vez influenciado por Gurdjieff ) que vai dizer que a essência da matemática, do pensamento lógico, vai criar o artista superior, este que olha para o mundo físico sem mergulhar nele.
“O Quadrado negro sobre fundo branco”, pintado entre 1913 e 1915, constituiu uma ruptura radical com a arte existente na época. É por sua concepção da relação entre arte pura e arte aplicada que Malévich entra em conflito com os construtivistas.


Meninas no campo, 1928-1929 Kazimir Malévitch

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É impressionante como nesta época e nesta região, havia grupos, movimentos, pesquisas, contestadores, manifestos e reformadores. Um fervilhar de ideias vanguardistas em todos os campos do conhecimento!
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Na revolução de 1917, Malévich trabalha como professor e pesquisador. É convidado para fazer o plano de educação russa (xadrez para meninos, ballet para meninas) Sua primeira exposição individual foi inaugurada em 1919, em Moscou.
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Em 1927, Malévich expõe em Berlim (Kandinsky o convida para a grande exposição suprematista). Deixou na Alemanha 70 quadros e um manuscrito "O suprematismo ou o mundo sem objeto", publicado pela Bauhaus.
No entanto, será muito mal-visto pela ala pragmática do comunismo: Isto que Malévich faz é o mais puro lixo burguês, diriam.
O governo soviético o chama de volta para assumir o trabalho de professor na Rússia comunista.
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Kazimir Malévich - Um inglês em Moscou – 1914
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Durante a guerra, cerca de quinze dos seus quadros desapareceram e jamais foram encontrados. Parte está em Amsterdam e outra, no MoMA de Nova York.
Nos anos 1929, é acusado pelo governo soviético de "subjetivismo" e é continuamente atacado pela imprensa. Perdeu suas funções oficiais e chegou a ser preso e torturado. Morreu abandonado e na pobreza, em São Petersburgo, em 1935. Sendo seguido de um esquecimento de décadas. O reconhecimento do artista só ocorreu a partir dos anos 1970. Desde então, numerosas retrospectivas pelo mundo consagraram Kasimir Malevich com um mestre da arte abstrata.

 ARTE EGÍPCIA

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(aula: *Antônio Brancaglion (1964-2021) 1o. a obter mestr. e doutorado em Arqueologia Egípcia pela USP, 1o. sul-americano a integrar o Institut Français d'Archéologie Orientale du Caire e 1o. brasileiro a integrar o CIEPEG - Comité Internacional pour l'Égiptologie du Conseil Internacional des Musées).
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A criação do mundo é mantida diariamente com o esforço do artista.

A civilização egípcia tem mais de 3000 anos e a egiptologia é uma ciência que tem cerca de 200 anos, (professor *Brancaglion, onde este texto se baseou).
A arte foi seu legado maior. Embora a língua egípcia seja muito sofisticada, não existe uma palavra para a arte.
A arte egípcia antiga não foi feita com fins estéticos, embora exista uma estética oficial. Mas este não é o fim principal já que ali não existe arte pela arte (busca do belo).
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O Egito nos legou um número grande de objetos de Arte pois foi grande a produção e grande a qualidade da técnica.
Uma das maiores características da Arte Egípcia é sua integração. Arquitetura, escultura e escrita podem ser consideradas arte.
Esta arte se mantém até 300 d. C. quando começa a decair. Com o Imperador Justiniano temos o completo fim da arte egípcia. Também o fim das tradições religiosas e artísticas.Não existe uma sociedade com 3000 de existência com a estrutura egípcia. É o primeiro Estado do planeta.
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A Arte é o principal fator de identificação da antiguidade egípcia (vê-se imediatamente que é egípcia. Não se confunde com a arte persa, arte grega etc).
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O Objetivo da arte não é mostrar o que existe mas representar a totalidade, a síntese.
A arte funerária era de grande importância. A morte tinha de ser cultuada, lembrada para que a pessoa continuasse existindo. Caso contrário esta pessoa esquecida vai para a não-existência.
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O deserto é o lugar dos mortos. É no deserto que vão ser construir seus túmulos. O deserto é favorável à mumificação natural dos corpos. Ele seca o corpo e assim o preserva. A partir disso, depois vão fazer a mumificação artificialmente.
O Saara compreendia sete desertos distinguidos conforme a cor.
O deus egípcio é um sol. “A pirâmide é um raio de sol petrificado” (aparência do raio quando sai das nuvens).
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A arte faz a ligação entre os homens e deus. A arte tem função religiosa e é instrumento da Organização do Universo, do ato primordial.
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A composição das cores egípcias obedecem a uma ordem como se fossem uma gramática:
-seguem a forma visual, homem animal planta e objetos
-tudo parte do desenho
-além do visual procura retratar a essência, uma ideia (não usa perspectiva nem sombra)
-observa o objeto de vários pontos de vista, frente, perfil(chama-se aspectiva, lei da frontalidade)
- a tendência é deslocar para o lado e para cima, fazer transparência.
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Quanto mais atarracada é a figura, mais antiga será. E qto mais longilínea, mais moderna.
Usavam sempre o quadriculado para o desenho. Maior ou menor mas sempre 18 quadrículos. Quanto mais alta a hierarquia do desenho, elite, mais rígida é a regra. À medida que vai baixando o status social o desenho fica mais livre. O estrangeiro ocupa a camada mais baixa deste status.

A Arte egípcia não é uma arte simples ou primitiva. É uma arte metafísica. Para eles a verdadeira realidade não era a aparência mas a ideia. A Arte vai perpetuar a ordem que Deus definiu sobre o mundo. Justo por isso que o artista vai ser equiparado com Deus porque faz o que Deus fazia. O artista é um feiticeiro mágico. Os deuses vieram do suor de Deus e o homem veio da lágrima de Deus.
A criação do mundo é mantida diariamente com o esforço do artista.

Dizia-se no Egito Antigo que um artista nunca deveria dormir com fome porque ele preserva a Criação.
Pode ser uma imagem de templo
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 São Domingos adorando a Crucificação, 1441

por FRA ANGÉLICO (1395-1455)
Convento de São Marco, Florença, Itália. 340 x 206 cm
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Esta obra define o tipo de devoção que terá a ordem dominicana, a qual Fra Angélico pertenceu: não é furor ascético nem êxtase. É uma contemplação meditada de uma fé clara e racional.Também o rigor de uma fé inabalável.
Argan diz em seu livro Clássico Anticlássico que o rosto de São Domingos aqui corresponde à condição da alma: sobrancelhas franzidas, mandíbula cerrada, olhar atento, ao mesmo tempo que os lábios mostram “uma palpitação férvida, uma dilatação das narinas. Um frêmito das mãos que roçam a madeira ensanguentada”. Assim seria o espelho da verdadeira penitência.
Tão diferente do Fra Angélico angelical espiritualizado que conhecemos, com cores pastéis, tênues e aéreas muito presentes na sua obra “Anunciação”. Aquele do mito, que cantava hinos enquanto pintava. Aquele que chorava antes de começar a pintar.
Aqui há uma massa plástica densa, um peso material, uma certeza compacta, uma corporalidade de coisas verdadeiras. Enquanto outras obras de Fra Angélico parecem ter caído do céu, esta aqui parece ter brotado da terra.
Vê-se que Fra Angélico se deixava trespassar pelo tema que ía executar : ora inefável, com louvores aos céus, ora mediando o agudo da luta e sofrimento do mundano.
Nenhuma descrição de foto disponível.
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                                      “BACON: A BELEZA DA CARNE”


                                               Duas Figuras, 1953

(Texto feito a partir de palestras que podem ser acessadas no site do Masp)
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é uma importante exposição que está ocorrendo no MASP (22-3 /28-7). pois as pinturas de Bacon sao raras, valiosíssimas, e os museus nao gostam muito de emprestá-las, diz Paulo Hekernhoff.
Aqui trata-se das obras de Francis Bacon do período 1947-1988.
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O subtítulo (a beleza da carne) vem de uma fala do artista em entrevista de 1966 qdo Bacon expressa sua admiração pela impactante visão das peças de carnes penduradas em um açougue. Beleza e horror, emergem como dualidade em sua obra bem como sedução e destruição, vida e morte.
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Nos últimos 20 anos surgiram muitas pesquisas interessantes sobre o pintor. O status jurídico da sexualidade mudou e muita coisa nova veio à tona sobre a biografia do autor.
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Principalmente nos últimos10 anos, temos um desvelamento da obra de Bacon com a emergência de assuntos queer, assunto esse, que na sua obra ocupa um lugar central uma vez que era essa a sua identidade com uma forma muito particular de ser. Ele encontrou um fazer profundo dentro dessas estruturas de violências e desigualdades.
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As 23 obras expostas vêm trazer a história queer ignorada na pesquisa de Bacon o que torna a exposição pioneira, isto é, pela primeira vez o assunto é densamente abordado.
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Bacon se estabeleceu no Soho (anos 50) um bairro central de Londres, com becos interconectados, comunidades artísticas, imigrantes do pós-guerra. Lá viviam pessoas de todo o tipo, uma enorme diversidade, inclusive os fora da lei.
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O que é um queer ? (queer= ‘estranho’ pessoas que não se identificam com os padrões impostos pela sociedade e transitam entre gênero sem concordar com os rótulos ou que não sabem definir seu gênero/orientação sexual). A exposição do MASP destaca este aspecto queer e escolhe este pintor que vive esta vida na época em que nem era usada a palavra homossexual, sequer gay era usada.
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Havia muitas mudanças neste pós guerra, o fim do racionamento de guerra, mudanças políticas, sociais, novas ideologias, velhas repressões. O Soho pela sua diversidade era um bairro conhecido como “o que não se podia policiar”. No entanto, a polícia vasculhava tudo em busca de sinais de prática sexual ilícita. A pena era prisão e posterior castração química (ver o caso de Allan Turing, o grande matemático que cometeu suicídio em decorrência dessa situação).
Há números sobre esta perseguição sexual. No ano de 1952 houve 670 processos por sodomia e 3087 casos de atentado ao pudor. A polícia vasculhava buscava até maquilagem e trejeitos em fotografias para encontrar sinais de homossexualidade. Os escândalos e práticas sexuais eram divulgados pela mídia.
Bacon estava profundamente mergulhado nesta época delirante e principalmente dentro da minoria queer.
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Os anos 50 foram de grande agitação e ansiedades. Havia um jeito de maior liberdade sexual para os queer com dinheiro: fugir para Berlim, Monte Carlo, Egito, mas principalmente para Tanger onde a polícia fazia olho grosso para o turismo sexual, drogas e prostituição (que eram lá tb proibidas, mas não fiscalizadas).
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Bacon e outros homens ricos e intelectuais como os escritores William S. Burroughs, Tennessee Williams, Allen Ginsberg, frequentavam cafés, clubes, passeios juntamente com jovens americanos, árabes, marroquinos já que eram homens queer exilados também dentro de seu próprio país e vinham para escapar da repressão.
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Assim se transformavam no “cosmopolita gay”, isto é, alguém do país, fora da lei, que encontra um parceiro no estrangeiro. É assim que Bacon tem um relacionamento com Peter Lacy definido mais tarde por Bacon como “quatro anos de horror contínuo” . O amante destruiu quase toda a sua obra em Tanger, num ataque de raiva.
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É importante este estudo do contexto de Bacon não só em Londres, Soho, mas tb nos vários países que costumava visitar. A maior parte de sua vida Bacon não estava pintando. Estava viajando, amando, vivendo. Temos medo, às vezes de focar nesses detalhes mas são eles que compõem a visão de mundo do artista.
(Texto baseado nas palestras promovidas pelo MASP: Gregory Salter; Dominic Janes; Richard Hurnsey e outros)
DIEGO VELÁZQUEZ (1599-1660). 

Nasce em Sevillha, cidade ao sul da Espanha, sua capital cultural, na época. Lá ficava o grande porto por onde chegavam as novidades do novo mundo, das Américas.

 Diego Velázquez mostrou aptidão para a pintura desde muito cedo. Foi um artista tecnicamente formidável, e na opinião de muitos críticos de arte, insuperável pintor de retratos. Influenciou Pablo Picasso, Salvador Dali e em especial Edouard Manet. 

Foi um dos maiores coloristas de todos os tempos. É no Prado, como deve ser, que ficam localizadas a maior parte de suas telas. (cenas religiosas, pinturas históricas, nus, cenas de interior). 

Sua obra mais famosa é “Las Meninas”(1656) que ocupa uma parede inteira do Museu do Prado. Quando chegamos perto desta obra, é impossível não exclamar uma palavra de admiração. Uma luz incide diretamente sobre a tela e parece que as figuras são em 3d (o resto da sala no escuro). É uma obra de grande complexidade, uma síntese de seu realismo e idealismo. Proporções perfeitas, as cores, a movimentação e hierarquia da cena, qualquer um de nós, leigos, saberemos apreciar.

 Velázquez demonstra grande discernimento psicológico ao retratar a Infanta Margarida Maria, que é o centro da composição, os bufões, ele mesmo autorretratado, o casal real que aparece no espelho. Para quem gosta de curiosidades, uma delas: a obra foi analisada por Lacan no seminário XIII.


 A cena parece inesperada e espontânea apesar da hierarquia calculada do conjunto. Até hoje sonho com um hiper-mega-museu onde cada quadro tem o direito àquela iluminação e a uma sala exclusiva. Não há como não embasbacar.

 Picasso copiou este quadro exaustivamente, fez 58 releituras. Velázquez pinta, para seu gosto pessoal, anões e bufões e tem um poder de caracterização e capacidade de realçar a dignidade dos modelos, em contraste com sua deformidade claramente exposta. 

 Ele é o principal precursor do impressionismo e Edouard Manet vai dialogar intensamente com os seus tons negros de onde emergem vermelhos e azuis, dando-lhe vida e textura. Existem pouco mais de cem obras conhecidas de Velázquez. Como quase nunca assinava suas obras, o artista teve atribuídas a ele, muitas telas de outros pintores. 

O MASP possui o Retrato do Conde-Duque de Olivares (1624) que faz parte de uma série de 4 encomendas (2 de corpo inteiro e 2 meio-corpo). O Masp tem o retrato de corpo inteiro do mais importante homem da Espanha na época, o que detém a chave do reino, manda e desmanda, ficando o Rei uma figura quase decorativa. A solidez do corpo do Duque que está de negro (cor heráldica espanhola) contrasta com sua cabeça pequena em relação ao corpo e isso é proposital para que o quadro seja visto de baixo para cima e mostrar imponência e olhar superior do Duque de Olivares que é para ser venerado quase como um santo.É um grande e valoroso quadro que o Brasil possui deste mestre. Diogo Velázquez, que cercado de prestígio e honrarias morre em Madri a 6 de agosto de 1660.  



          "Las Meninas", Diego Velázquez. Museu do Prado, Madri, 1656

 

FRA ANGÉLICO (1395-1455)



"A Deposição"

Fra Angélico (ou Giovanni da Fiesole, nome que recebeu na ordem dominicana) foi considerado, sobretudo pelos românticos, o protótipo do artista místico, mergulhado na contemplação de inefáveis visões celestiais. E realmente foi homem religioso, erudito, de vida santa e é considerado, entre todos, um dos mais espirituais. O nome “Angélico” foi acrescentado mais tarde. Recebe o apelido meramente honorífico (não foi dado pela igreja).

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Sua pintura é ligada estreitamente com a cultura religiosa de seu tempo, crenças fundadas na tradição do pensamento mais severo.
Mas toda esta base religiosa era vigiada, medida, executada pelas grandes idéias do Renascimento.
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Ele foi um renascentista, reconhecia que havia uma grande revolução em andamento e contribuiu para a realização daquela revolução, mesmo que via tb a necessidade de trazer para a atualidade, as fontes genuínas do pensamento cristão.
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Para ele, “toda a história é uma história religiosa e o fim último continua sendo a salvação da alma” diz Argan no livro "Clássico e Anticlássico", no qual me baseei para escrever este texto.


"A coroação da Virgem"

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Sua pintura possui um sólido fundamento doutrinário, tomista e como São Tomás era o “doctor angelicus” ele foi apelidado “Angélico”.
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A pintura do frade não era só uma pintura mística, longe disso. Era dotada de uma intencionalidade precisa. Ele estava por dentro e em contato com as correntes de artes mais avançadas do séc XV.

"A Anunciação"


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Nossa tendência é ver sua pintura clara, luminosa como uma pintura quase ingênua, uma pintura “santa” feita por um santo. Eu mesma sempre o vi desta forma superficial. Não. Angélico falava um latim polido, era um orador eficaz, de escrita elegante, conhecia os clássicos. Ele usava a perspectiva, sabia colocar as figuras no espaço onde “até as sombras são luminosas” como disse o historiador Ruskin, “até a escuridão máxima é cor”.
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Angélico ilumina tudo para que a harmonia seja alcançada. Para isso, queima todas as coisas frias, as tumescências, a tola sensualidade. Assim é destruído tudo o que é contraste, assim é destruído "o mal". Feito isso, a natureza se desvela a nossos olhos com harmonia e paz a fim de que o intelecto sedento descanse. Sendo assim como negar que a pintura de Fra Angélico não seja antes de tudo pregação? pergunta Argan. Mas não só.
Guido (nome de nascença) nasceu perto de Florença, em Mugello, por volta de 1395. Em 1417-18 entrou para a ordem dos Dominicanos. Já pintava neste momento, antes de se tornar monge. Há quem afirme que trabalhava com iluminuras, é bem possível.
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Em 1432 faz uma Anunciação, em 1433 executa um grande tabernáculo encomendado pelo grande Ghiberti. Em 1438 foi recomendado a Piero de Médici como “um grande mestre” de Florença. Seguem-se as encomendas de porte como pintar retábulos no convento florentino de San Marco, depois a decoração das celas, um altar.
Ele já adquirira grande fama. O papa resolve agraciá-lo com a cátedra de arcebispo a que renuncia por modéstia. Em fins de 1445 (sob o papa Eugênio IV) é chamado à Roma, fato considerado o ápice de qualquer carreira artística da época.
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Lá trabalhou nos palácios do Vaticano e volta em 1450 para Fiesole, se tornando prior do convento de San Domênico. A estas alturas está entre os grandes do Renascimento.
Torna a Roma em 1453 para trabalhar nos afrescos de Minerva e morre lá em 1455.
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O pintor Angélico figurava as coisas de forma a nelas ver Deus. Era demasiado teólogo para pensar que Deus pudesse ser contemplado diretamente, de maneira física. Então exalava Deus através do que pintava. Na natureza que Deus criara, estava a sua essência. Ali “o bem” era escolhido e o mal eliminado. Não é para menos que Angélico é, entre os artistas da primeira metade do séc XV, o que mais explicitamente procura definir um cânone de beleza ideal. Mas não é um teólogo, apenas. Ao mesmo tempo que busca a doutrina, participa da discussão contemporânea da arte.
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O crítico Giulio Carlo Argan diz que Vasari (considerado o primeiro historiador de Arte) é o responsável pela lenda em torno do nome de Fra Angélico. Ele defende que Fra Angélico é um santo, logo toda a sua pintura é santa. Antes de começar a pintar ele rezava e chorava. Entoava hinos enquanto pintava, portanto sua obra seria consequência de um arrebatamento de êxtase religioso, uma revelação. Vimos aqui que sim, mas nem tanto.
Em 1982, Fra Angélico foi beatificado pelo Papa João Paulo II e é considerado o patrono dos artistas.
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