Eugène Delacroix (1798-1863)
 
Os movimentos Neoclássico e Romântico se dão quase simultaneamente e de forma algo “longa e rancorosa”, como diz Wendy Beckett. O Neoclássico revisita os conceitos gregos, preza a norma e a linha reta. Surgiu no meio do século XVIII num cansaço do Rococó e do Barroco tardio. Seu estilo  refletia ideias morais e conceitos de justiça, patriotismo e austeridade. Napoleão escolheu o neoclássico quando subiu ao poder. Sempre o clássico, o heroico-patriótico, a perenidade, o maciço, o monumental servindo ao poder! (Hitler também volta ao clássico). Porém uma estreiteza acadêmica e fraqueza de vitalidade acompanha o neoclássico.
 
 O Romantismo olhava para o futuro, para o moderno, sem perder de vista o passado (idade média, por exemplo). Há expressividade, subjetividade e acima de tudo, não tem regras fixas a seguir, tendo uma postura criativa para temas e formas. A linha reta, rígida e o geométrico, estavam fora de cogitação. Teme o presente e o fim do mundo e por isso foi tido, às vezes, como “psicótico” ou “doentio”considerado de natureza utópica e ilusória já que escapava ao presente. O que se pinta passa a ser secundário, o que vale mesmo é a forma (um pé de couve ou a cabeça de uma Madonna tem o mesmo valor). A arte moderna é filha do romantismo em sua exuberância, anarquia e violência, presentes em seu DNA.
O centro das Artes havia mudado de Roma. Era em Paris que tudo se dava e isto se estendeu até o modernismo. O Renascimento nunca vingou na França, mas agora, no Romantismo, (e desde o Rococó com Watteau, Boucher, Fragonard, Chardin) passa a ser a meca das Artes.


Eugène Delacroix por Félix Nadar

Seu maior representante foi Eugène Delacroix. Ele não tinha paciência para conversar a respeito de gregos e romanos e nem à imitação de estátuas, diz Gombrich, acreditava que em pintura, a cor era muito mais importante do que o desenho, e a imaginação mais do que o saber.
 
 A morte de Sardanápala Eugène Delacroix (1827)
 
Delacroix vai ser um pintor narrativo e a literatura (Byron, Shakespeare, Dante e Goethe) será sua inspiração. Emana de suas pinturas um sensualismo e convulsão de formas, extraordinários. Ele constrói com pincelada abrupta e movimentada. Não há linhas retas ou zonas uniformes. Tudo parece vivo, incluindo os objetos. Mas ele nunca se perde. E nem é pungente ou mórbido como outros românticos. A obra "A Órfã no Cemitério" não é chorosa nem passiva, diz Wendy Beckett, seus globos oculares têm o brilho de um cavalo assustado. Quer dizer, ela sofre mas é forte. Ele conjuga turbulência com estabilidade. Parece saber caminhar sobre o abismo.
 
Viaja ao Oriente, Marrocos e Argélia, em busca de cores intensas.("Me sinto comovido...instantes de fascinação e estranha felicidade!"). Tem atração pelo exótico. Ama os cavalos do deserto da Arábia. Gosta de ambientar suas pinturas em lugares longínquos e estranhos. Possuía belo diário, e algumas cenas que pintou podem ser identificadas ali. Quando morre Gericault, seu contemporâneo, Delacroix toma o centro do palco do Romantismo. Encomendas do governo vêm lhe dar credibilidade e prestígio. Mas. antes disso, é inúmeras vezes rejeitado pela academia.
 
A jangada da Medusa-Theodore Gericault



 

 
A liberdade guiando o povo-Eugène Delacroix
Tive oportunidade de ver lado a lado, no Museu do Louvre, "A Barca da Medusa" de Gericault e "A Liberdade Guiando o Povo" de Delacroix. É interessante notar como a composição é semelhante. É sua obra de maior sucesso. De estilo panfletário contraria o autor que não se interessava por política.
 
Guerreiro grego a cavalo-Delacroix
 
Ferdinand Victor Eugène Delacroix era filho de embaixador e neto  de desenhista de móveis da corte de Luis XV e XVI. Cedo fica órfão e tem problemas financeiros, apesar de sua origem abastada. Nunca casou, mas manteve sua governanta como amante por quase trinta anos. Com saúde frágil, só faz aquela única viagem ao Oriente. No final de sua vida, tranca-se no atelier e produz febrilmente (deixou 853 pinturas a óleo). Sofreu de depressão e se enquadrava na geração “mal du siécle”, morrendo de tuberculose.
 
O nosso MASP se orgulha de possuir 4 obras de Delacroix:  Inverno, Primavera, Outono e Verão, uma belíssima série de inestimável qualidade e valor.
Angela Weingärtner Becker

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