Giuseppe Arcimboldo (1527-1593)
 
 
É com frequência que corre pela internet arquivos com imagens que imitam o artista italiano Giuseppe Arcimboldo, acompanhado de algum texto que deseja mostrar a novidade do bizarro e engenhosidade de algum autor. Imaginamos ser algo absolutamente contemporâneo.
 
 Giuseppe Arcimboldo
Na segunda metade do século XVI existiu  aquele, que provavelmente, foi o primeiro a fazer rostos com frutas, flores e animais, justapondo-os de forma a compor um rosto humano. Sua obra se insere no maneirismo decorativo tardio e, na época, somava o que era chamado de “Capricho”. Giulio Carlo Argan, grande historiador de Arte, nos define “Capricho” como caricatura, algo grotesco, fantasioso ou com estranhezas maneiristas. O capricho seria a contradição da regra, mas também a sua demosntração via absurdo. É um tipo de feio que (ainda segundo Argan) é pensado como uma inversão do belo- e isto implicaria na validação do próprio belo. O artista que faz o “capricho” não se subordina aos cânones, às leis pré-estabelecidas. Ele cria, absoluto, único. Porém “a antítese se vale dos mesmos argumentos da tese” diz Argan referindo-se ao arquiteto Borromini mas que compreendo valer perfeitamente aqui.

                                  Outono, Inverno, Primavera, Verão (Museu do Louvre)

Desta forma, é possível que Arcimboldo tenha sido mais famoso do que imaginamos. Evidentemente recaia sobre ele a curiosidade de todos. Assim como Bosch, assim como Brueghel, talvez. No entanto, não gostaria de comparar estes  àquele pela simples razão de que Bosch e Brueghel tinham toda a tradição falando através de suas obras, enquanto Arcimboldo trabalha com o objetivo de revelar sua habilidade sem mais conotações além de suas livres variações fantásticas (aliás o que realmente ficou foram exatamente estas fantasias. Do do resto de sua obra, pouco se sabe).
A Terra

Giuseppe Arcimboldo nasce em Milão mas passa a maior parte de sua carreira em Praga onde o Imperador Fernando I o convida para ser o pintor oficial da corte. E assim sucede com Maximiliano II e Rodolfo II. Isto nos vem dizer que Arcimboldo era um pintor versátil e sabia fazer retratos que não compostos por cenouras, rabanetes, figos e quetais. De fato, o artista serviu aos imperadores como arquiteto, cenógrafo, engenheiro e, sim, como organizador de eventos e festejos, máscaras e fantasias.



O Fogo

Era costume da época reis e nobres terem um guarda-louças ou câmara (Kunstkammer ou Wunderkammer) com objetos, plantas e animais exóticos trazidos de várias partes do mundo. As cabeças coroadas presenteavam-se entre si, com este tipo de curiosidade. E foi nestas câmaras ou armários de prodígios (origem dos museus) que Arcimboldo pesquisava. Elas continham raízes, pérolas, carcaças de animais com deformações, chifres, mandíbulas, cristais, arsênicos, chás, antídotos para venenos, pérolas, animais empalhados, objetos eróticos, medalhas, butim de guerra... enfim, um buraco negro que sugava tudo o que havia de raro e precioso. Era ali que Arcimboldo concebia seus quadros (os artistas tinham livre acesso a estas câmaras). Pode-se imaginar o quanto de estimado era naqueles tempos de descobertas e indagações. Ele é testemunho do espírito da época.
 
 Conta-se que Arcimboldo teve vida honrosa junto aos nobres que o admiravam.Tanto pela sua arte como pelo seu conhecimento e por isso transitava livremente na corte a qualquer hora e a qualquer lugar. Tornou-se respeitado pelos soberanos a quem serviu e ajudou a ampliar suas câmaras de raridades. Quando Arcimboldo, velho e cansado, quis voltar à sua terra natal, não foi sem pena que o imperador Rodolfo II- talvez o mais aficionado dos três imperadores, chegado em magia, alquimia, sociedades secretas, comportamento sexual estranho, construtor ele mesmo de relógios “trocando o trono pela oficina”- concedeu a licença para que o pintor fosse morrer em sua terra.
 
Giuseppe Arcimboldo foi esquecido mas, no século XX (por causa do surrealismo?) o interesse sobre ele é retomado e isto podemos constatar em nossos computadores quase que diariamente.
 
Angela Weingärtner Becker

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