Francesco Borromini (1599-1667)
Filho de pai arquiteto, Borromini, muito jovem, vai ser entalhador,
1608 (?) em Milão. No ano de 1614 vai para Roma onde Carlos Maderno (parente
por parte de mãe) lhe arranja emprego na construção da basílica de San Pietro. Ao
morrer Maderno, este é substituído por Bernini na direção dos trabalhos. “Aí
começaram os dissabores” diz Argan, referindo-se à aguda rivalidade entre os
dois que dura a vida inteira. (Bernini o acusava de não seguir as regras
clássicas criadas por Deus). Com a morte do papa Urbano VIII, Borromini passa a
ser o primeiro dos arquitetos de Roma. Intensa é sua atividade. Faz vários
projetos (biblioteca, oratórios, igrejas, restaurações) e acompanha cada uma
com sua obsessão que lhe é particular. O furor que incendeia suas obras também
lhe consome a vida, diz o historiador Giulio Argan.
Fachada de San Carlo alle Quattro Fontane
A biografia-feita por Baldinucci, contemporâneo seu- enfatiza
que o artista viveu para o trabalho duro. Nunca aceitou trabalhar em equipe e
preferia não receber dinheiro para ter a liberdade de de fazer tudo ao seu modo. Dos papas para quem trabalhou, só aceitava aquilo que lhes davam, sem exigir
nada além. Trabalhou no Vaticano e lá a rivalidade, os puxa-tapetes grassavam. Ele
era consciente disso (e Michelângelo também). Tanto que antes de morrer, queima
os desenhos que restaram para que estes não fossem posteriormente deturpados.
Borromini tinha uma loucura genial e muitos o consideravam
mesmo doido já que sua arquitetura (como sua personalidade) tendia ao espanto, à
ondulação em côncavos e convexos, em curvas e contracurvas, com suas formas
livres e extravagantes quase beirando o delírio. Ele esticou a corda ao máximo.
“... a singularidade das formas borrimianas parece excluir a possibilidade de
enquadrá-las historicamente nas formas arquitetônicas do século XVII” diz Argan
“... o caráter áspero e violento, a existência inquieta, a morte desesperada e,
num extrato mais profundo, a religiosidade ansiosa e feita de puro rigor mas
alheia a qualquer conformismo exterior” vão colocá-lo numa perspectiva de oposição
ao que oficialmente vigorava: o neoclássico. Borromini foi o Caravaggio da
arquitetura. Ambos romperam as regras, foram anticlássicos. Ambos foram
dramáticos na obra e na vida.
Quando um cardeal
insiste para que fosse construir o Louvre, na França, ele diz que seus desenhos
são seus filhos e que não vão mendigar louvores pelo mundo”.como está na
biografia feita por Baldinucci.
Autodidata, aprende o que precisa no canteiro de obra.
Começa “por baixo” como simples entalhador. Tem uma forma muito particular que é, às vezes, taxada de bizarra porque
fantasiosa. Restringe os espaços, caminha para o lado oposto do naturalismo, engendrando
formas impossíveis e febris. Argan diz que numa última instância, ele seria neoplatônico,
na ânsia de sublimar a matéria sem ruídos intelectualistas. Também por Michelângelo
nutre uma espécie de idolatria.
Borromini morre da forma como levou a vida. Doente e atormentado
pela febre e insônia, depois de ter feito seu testamento, deita-se e não
consegue dormir. Pede uma lâmpada ao criado que lhe nega, seguindo ordens
médicas. Num acesso de fúria se fere com a espada. Morre no dia seguinte,
arrependido de seu gesto e desgostado por sua arte não ser devidamente reconhecida.
Borromini foi a personalidade do século XVII que se entregou
à arte casta e desinteressadamente no que se refere a ganhos materiais. Não sei por que ele me
lembra Gaudi. Muito católicos, os dois. Geniais também. Quase livres de
interferências, orgânicos sobretudo. Ambos usaram a matéria com uma técnica transubstanciada
em expressão artística. Sim por mais distantes que estejam, têm muito em comum.
Angela Weingärtner
Becker
Nenhum comentário:
Postar um comentário