Turner-1775-1851     

  
Dentre os ingleses da época (Reynolds,Gainsborough e Constable) prefiro, com toda a certeza, o luminoso, o brilhante, o sombrio William Turner.(A Inglaterra foi a nação européia que mais demorou a produzir uma grande arte. A poesia-Shakespeare-seria o grande centro das Artes).
A mim me parece que Turner ultrapassou largamente seus contemporâneos que, como ele, se dedicavam à paisagem. Obcecado por Claude Lorrain- tanto que quando legou seus quadros à nação, fez a exigência de que ficassem expostos lado a lado- diz Gombrich, historiador de arte. Mas talvez não tenha sido uma boa ideia, continua o historiador, pois seus quadros nada tinham a ver com os de Lorrain. Este, privilegiava a serenidade, calma e simplicidade e Turner expandia-se em um mundo de fogo, de sonho e resplandescências. Nele a luz reune e ameaça a dissolver.

 É justamente esta liberdade de luz e espaços que me causam deslumbramento. Vejam-se seus céus: que movimentação, que dourados, que dramaticidade colorida! Quase nos cegam de tanta luz! Quando ouço a palavra “volúpia”ou “esplendor” logo escuto seu nome. O "sublime" é facilmente encontrado nele. Aceitemos a palavra sublime na acepção que Edmund Burque lhe dá: sublime é algo que se vincula à emoção.O mundo exterior une-se ao mundo interior. É o irracional que expande as fronteiras da Arte, as fronteiras do humano. É o pleno romantismo na liberação das camadas mais inconscientes do humano. Nietzsche diria que ele é um mergulho no dionisíaco de todos nós.
Para mim, Turner é capaz de parar o pensamento e deixar as paixões tomarem conta. O sublime inunda. Ao contrário da razão que tem limites, proporções, clareza. Um Turner usa elementos de luz e sombra pra criar sentimentos convulsionados. No sublime, de Burke, há uma ampliação do campo das artes. Ela se expande em cores e torna-se a expressividade que foi roubada pela linha e pela palavra. Ele, Turner, "consegue um brilho global de tom maior do que aquele que existe em qualquer pigmento considerado separadamente" diz Donald Reynolds, historiador de Arte.



 Vejamos a obra “Navio a Vapor numa Tempestade” talvez a mais sublime de todas. Audacioso, ele pinta uma marinha impressionante: um relance de um barco numa tempestade no mar.Tudo é movimento, torvelinho.Tudo nos traga.Uma borrasca do outro mundo põe o barco ameaçado e em iminente desastre. Certamente não saberíamos descrever um barco em tormenta no mar, mas em nossa imaginação assim é. No entanto, sabemos como são nossas tempestades interiores (nossos mares interiores ficaram sem praias, disse García Lorca).

Conta-se que Turner pediu que o amarrassem ao mastro de um vapor e assim ficou por 4 horas observando uma tempestade. Ele foi talvez o primeiro a desenhar e pintar in loco, como logo fariam os impressionistas. Há quem o considere um precursor do impressionismo. Eu penso que é precursor da pintura abstrata, pois ele quase desmaterializa as coisas. 



Turner domina o fascínio do abismo, o precário equilíbrio contra o vento das emoções.O que é incontrolável para nós. Ele descreve em cores tanto o desespero absurdo quanto a alegria suprema. Vejam-se as obras em que retrata pores de sol. É ofuscante! É um delírio.
Ele nasce em família humilde. Nos seus primeiros anos de artista ajuda a família com a venda de seus quadros. Aos 24 anos entra na Real Academia e ali faz carreira. Viaja bastante e no Louvre, fica extasiado com Claude Lorrain e também com Ticiano, Poussin e Rembrant.Vai a Itália diversas vezes, encanta-se com Veneza.
Turner nunca se casa. Era um homem solitário, sem amigos e por meses desaparecido, foi descoberto muito doente por sua empregada. Suas obras se encontram na Natinal Gallery e na Tate Gallery, em Londres.
Angela Weingärtner Becker

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