Hieronymus Bosch coroa a vista ao Museo Nacional Del Prado
Sair da frente de um quadro de Memling, realista, de temas e harmonias visíveis e “cair” diante de um Hieronymus Bosch é uma experiência de choque.
“Jardim das Delícias”. Hieronymus Bosch, 1504
Detalhe
Ele, tão misterioso quanto suas pinturas, adotou o final do nome de sua cidade holandesa “s’Hertogenbosch”. Enigmática a obra, enigmática a vida. Fantástico, misterioso, aterrador. Um galerista com quem conversei afirmava, como muita gente o faz, que Bosch era surrealista. O Surrealismo supõe que o inconsciente seja a matéria da arte. Ora, na época de Bosch não existia o conceito de inconsciente (morre em 1516). Mas como duvidar de que “O Jardim das Delícias” seja matéria vinda do mais recôndito eu ? Salvador Dalí teria se inspirado em um detalhe deste quadro para fazer o seu “El Gran Masturbador”.
"El Gran Masturbador" - Salvador Dalí, 1929
Dalí era um surrealista de cânone. Conhecia a obra de Freud, observava os manicômios, conhecia o fluxo de consciência. Bosch, não. Era um religioso. Sua obra trata de questões religiosas e ditados, e lendas nórdicas. Ele viaja pela alma holandesa. E viaja pela alma ocidental.
O certo é que não se consegue sair da frente dos quadros de Bosch. Mil detalhes para descobrir. Eles atraem, são um ímã e pedem tempo ao espectador. Difícil conseguir um lugarzinho para apreciar. Por cima do ombro de um, na mudança de posição de outro, sobra um espacinho.Todos fascinados. Fico pensando em quanto de Bosch temos hoje transmutado em “ciber” matéria. Mundos aquáticos, orgânicos, minerais. Virtude, perversão, pecado. Pessoas nuas, arquiteturas fantásticas. Ratos, peixes, romãs com proporções invertidas. E absolutamente tudo está em movimento, em ação. “Apoteose da beleza do mal”, diz o espanhol Joaquín Luaces..O Museu de Arte de São Paulo possui "As tentações de Santo Antão". Especula-se que este seria uma das versões (a parte central do tríptico) do Museu de Arte Antiga de Lisboa. Bosch teria feito 15 versões deste tema.
O certo é que não se consegue sair da frente dos quadros de Bosch. Mil detalhes para descobrir. Eles atraem, são um ímã e pedem tempo ao espectador. Difícil conseguir um lugarzinho para apreciar. Por cima do ombro de um, na mudança de posição de outro, sobra um espacinho.Todos fascinados. Fico pensando em quanto de Bosch temos hoje transmutado em “ciber” matéria. Mundos aquáticos, orgânicos, minerais. Virtude, perversão, pecado. Pessoas nuas, arquiteturas fantásticas. Ratos, peixes, romãs com proporções invertidas. E absolutamente tudo está em movimento, em ação. “Apoteose da beleza do mal”, diz o espanhol Joaquín Luaces..O Museu de Arte de São Paulo possui "As tentações de Santo Antão". Especula-se que este seria uma das versões (a parte central do tríptico) do Museu de Arte Antiga de Lisboa. Bosch teria feito 15 versões deste tema.
"As tentações de Santo Antão". Bosch, ano: +- 1500. MASP
Emergindo das profundezas de Bosch, passei diante de Albrecht Dürer. Não. Diante dele não se “passa”. Nem se “fica”. Com Dürer a gente se casa. Pintor, escultor, gravador, tratadista, matemático. Um renascentista completo. Seu “Auto-retrato, aos 26 anos” é extraordinário. Matemático, melancólico, sofisticado. A matemática a serviço do sentimento. Falar dele agora seria estender-me. Deixar de mencionar, um pecado.
Na “tienda Prado”, loja do museu, comprei um pequeno poster desta maravilha. Bosch eu já tinha, desde minha “fase Bosch”. Já houve a “fase van Gogh” a “fase Chagall”, a fase “El Greco” a fase “Egon Schiele”. Sofro de fases, dá para ver. Muito amorosamente, eu sentia que estava entrando na “fase van der Weyden”.
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A noite já baixara. Famílias passeando no centro de Madri. Uma música bossanovista lá longe. Entramos numa espécie de delicatessen, onde se podia sentar e comer. Pão integral, jamon (presunto), queijos, um bom vinho tinto espanhol. Amanhã cedinho, rumo a Barcelona. Foi uma noite de sonhos. Sem som nem sentido, um sacro horror em pântanos, bolhas, paquidermes e grutas antropomórficas.
Angela Weingärtner Becker
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