Thyssen e as vanguardas artísticas (final)
Nesta parte do Museu, finda-se a pintura religiosa e a do Estado. É o cotidiano que entra como tema. Salas e salas vão do Impressionismo à Pop Art. Meu interesse aumenta. O passado agora contava cada vez menos, o futuro cada vez mais. A fotografia estava aí para registrar, documentar o que fosse preciso. Ao artista tocava a emoção, a criatividade. A Arte fragmentava-se em muitos movimentos que se sucediam e paralelizavam-se.

Eu estava ansiosa para ver quais eram as obras que os Thyssen tinham elegido para comprar. E eis que achei o meu Degas preferido. O voyeur que espia do alto. Como numa fotografia pega num rasgo, bastidores e palco. Um fragmento genial. A fugacidade da ação captada. Uma das bailarinas está completa, as outras quedam em nostra libre imaginación diz o site do museu.




"Bailarina verde" - Edgar Degas, 1877-1879
As endorfinas da euforia circulavam. Importantes obras da primeira metade do século XX: Manet, Monet, Pissarro, Renoir, Sisley. Bonnard, Gauguin e Cézanne. Este último  vê a natureza como cone, cilindro, esfera e assim geometrizada, entrega o bastão da História da Arte para Picasso que vai fazer a revolução que já conhecemos.

"Retrato de um camponês" 1905-1906 


Preciso ainda falar de van Gogh. Lá havia 5. Nunca, mas nunca mesmo, van Gogh é médio ou ruim. Mas tenho orgulho de dizer que nós, no MASP, temos cinco também. E mais representativos do que os do Thyssen. Orgulho-me. Sorrio sozinha. A brasilidade em mim aumenta quando estou fora. Soube que a própria região da Provença, na França, onde ele muito pintou, ressente-se de não ter tantos quadros como temos aqui em São Paulo. Digo intimamente: "Viva o Brasil!"




"Les Vessenots" en Auvers, 1890 - Vincent van Gogh
Agora estava indo para os finalmentes. Finalmentes? Temos os expressionistas Beckmann, Ensor, Grosz, Kokoschka. Temos oito Kirschner! Nem falei em Kandinsky e outros russos maravilhosos. Meu sonhador Chagall! Este "que tem a terra de sua aldeia presa aos sapatos" (H.Read). E assim evoca um tema que corre nas veias de todo ser humano, pois todos têm uma aldeia dentro de si. Ele tinha Vitebsk. Eu tenho Santa Cruz do Sul.


"O Galo" - Marc Chagall, 1928


A coleção se estende com abundância: Bacon, Dali, Magritte. Quatro Lucien Freud. E quatro Kurt Schwitters, este alemão excêntrico que fez, talvez, a primeira instalação. Ele fazia obras que dava o nome de merz. E estas “cresciam” a ponto de mandar abrir o teto para seguir com a obra no segundo andar.

"The Psychiatrist", 1919 - Merzbild Kurt Schwitters

A Coleção Thyssen estava cada vez melhor. Eu ignorava esta riqueza. Ignorava e recebia tudo como um grande presente. Trago aqui um belíssimo Hopper: “Quarto de Hotel”. A frieza que se desprende deste quadro, é uma solidão dentro da solidão. Tudo está solto, nada conversa entre si. A mulher tem uma carta que está longe dos olhos. A vista para a rua não tem paisagem. É um soco no olhar. A luz é branca e fria, pesa e encurva as costas da mulher. Seu rosto está na escuridão. Tudo muito típico deste grande urbano pintor norte-americano, Edward Hopper.

"Quarto de Hotel"- Edward Hopper, 1931

A visita chegara ao fim. Precisaria de muito mais tempo. Ainda volto lá. Notei uma coisa, mas só posso dizer bem baixinho: o gosto dos Thyssen  coincide com o meu.
Para o hotel, fui caminhando a metros do chão. Sorte minha eu ter comigo duas pessoas. Tonta, eu as seguia, numa Madri cheia de gente passeando. Era sábado. Madrileños vão ao centro passear com a família.
Angela Weingärtner Becker

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