GIAN LORENZO BERNINI (1598-1680)

      Nasce em Nápoles e muda-se para Roma em 1605. De lá quase não sai a não ser quando é chamado a Paris por Luís XIV. Escultor, arquiteto, cenógrafo, pintor e autor de teatro. Foi um homem fascinante, amante apaixonado em sua juventude, pai amoroso em sua maturidade. Logo caiu nos agrados dos papas pelo seu talento excepcional.

      Em 1624 começa uma larga série de estátuas religiosas. Nos primeiros anos de 1640 começa a pensar numa obra que juntaria pintura, escultura e arquitetura, sonho antigo seu. Também desta época são as numerosas fontes que executou, sendo que as mais famosas estão na Piazza Navona.  

      Entre 1655-61 realiza as estátuas de Daniel e Abacuc.  Bernini acentua sua tendência expressiva e aumenta a tensão dos corpos. Os trajes que esculpe, dão movimento e ênfase à emoção. O panejamento é abundante e fluido.

      No Êxtase de Santa Teresa D’Ávila, que está escondida na igreja romana de Santa Maria de La Vitória, alcança um auge. Digo "escondida" porque entre tantas igrejas (não raro uma em frente à outra) quase não a encontro numa manhã vazia de gente e sem nenhuma indicação da igreja. Eu esperava movimentação, meio mundo tentando ver o que para mim era talvez a melhor escultura de todos os tempos. Nenhum painel, nenhuma seta indicando nada. Um velho e gentil senhor informa que a igreja era aquela ali adiante, metida entre as edificações.

 O silêncio, o vazio e a semiobscuridade lá dentro me dão um minuto de dúvida até que, no alto à esquerda, vejo Santa Tereza d’Ávila. É preciso recuar para poder ver a grandiosa eloquência orgástica de seu rosto. Está empoeirada. O fino e sinuoso panejamento tem poluição e poeira em suas dobras. Mas é bela, é mulher em momento de extremo prazer (Teresa d’Ávila escrevia poemas admiráveis e Jesus aparece a ela e lhe propõe casamento). A emoção aperta a garganta. Ao lado da santa, num balcão, estão esculturas apreciando o evento, como num teatro. É religioso, é profano.

                                                           Êxtase de Santa Tereza d'Ávila

                                              Um dos dos balcões ao lado de Santa Teresa


        Bernini realizou numerosas igrejas e palácios. Fez restaurações, fachadas, escadarias, fontes. A colunata do Vaticano foi feita por ele, que resolve de forma espetacular  o problema de delimitar a Praça de São Pedro. Desde a fachada da basílica, abre-se em duas alas semicirculares e simbolicamente abraça todo o mundo cristão.

                                                           Colunata do Vaticano

     Quando, em 1640-48, trabalha em São Pedro, o papa encomenda o trabalho da reforma da cúpula Baldaquino (baldaquino é objeto de procissão) Bernini faz exatamente isso: refaz o espaço aumentado da nave concebida por Michelângelo. O baldaquino não corresponde a nada dentro da estrutura da basílica. Passa a ser um espaço de encenação e tem forte caráter simbólico. Durante a época do barroco uma das mais importantes finalidades da arquitetura era realizar cenografias de forma a mostrar a distância das pessoas comuns das pessoas consagradas que estão “fora do nível humano”. Tanto na Igreja quanto na corte. Em 1660 Bernini faz a cathedra Petri (cadeira de São Pedro). Usa então a palavra “belocomposto” no lugar de encenação, que utiliza simultaneamente a pintura, escultura e arquitetura com o fito desta união agenciar as emoções para o propósito desejado. No caso, o baldaquino se situa sobre o túmulo de São Pedro de onde, no dia do juízo final, ele ressuscitará. É o centro da Igreja.

                                                              Baldaquino de São Pedro


      Em 1666 Bernini  está em Paris com Luís XIV. Faz o projeto do palácio do Louvre mas os arquitetos franceses o rejeitam. Ele é recusado mas dará muitas sugestões que ao longo do tempo Paris vai aceitar. Viena, com a construção do Palácio de Schönbrunn e seu arquiteto Fischer von Herlach traduz as propostas berninianas através dos arquitetos que trabalham conforme Bernini deseja e concebe. 
     Na sacristia, ao lado de um microfone que traz os mínimos barulhos da igreja, ronca o padre encarregado de cuidar daquela preciosidade. Para comprar o livro de Bernini preciso tocar o roncador de leve, no ombro. Acordo-o com o livro já na mão.  Sem nenhuma palavra ele recebe,contrariado, o dinheiro . Que sonho eu estava interrompendo? Sacro? Profano?

     Angela Weingärtner Becker

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